A correspondente da Folha em Buenos Aires, Mayara Paixão, e o repórter fotográfico Lalo de Almeida ganharam nesta quinta-feira (28) o Prêmio CICV de Cobertura Humanitária Internacional de 2024 pela série “Darién, a selva da morte“, que contou histórias e o trajeto de migrantes entre a Colômbia e o Panamá rumo aos Estados Unidos.
A premiação, uma iniciativa da Delegação Regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, “homenageou reportagens que lançaram luz sobre questões humanitárias urgentes, destacando histórias que revelam a complexidade e a profundidade das crises migratórias na América Latina e no mundo”, segundo a organização. A cerimônia ocorreu em São Paulo.
Publicada em março deste ano e com tradução para inglês, espanhol e criolo haitiano, a série em cinco capítulos faz um panorama da crise migratória no local, uma área de fronteira coberta por uma densa floresta e perigos aos quais se expõem centenas de milhares de imigrantes de várias regiões do mundo —mas principalmente latino-americanos e caribenhos.
Os jornalistas se depararam ainda com histórias que continuaram se desdobrando, como a da menina brasileira Liliane, que vive em um abrigo no Panamá e cuja mãe teria morrido durante a travessia —o Ministério das Relações Exteriores analisa o caso.
“Foi gratificante fazer uma cobertura e não abandoná-la, não foi uma reportagem pontual. Entramos nesse tema e vamos seguir nele, vamos continuar acompanhando o fluxo migratório nas Américas e em Darién”, diz Mayara, que entrevistou o presidente panamenho, José Raúl Mulino, após a série.
“O grande desafio de fazer esse trabalho foi o fato de que precisávamos conversar com as pessoas e ouvir histórias, e isso precisa de um certo tempo, de um mínimo de relação. Mas as pessoas ali estão de passagem, pensando no próximo ponto, além de exaustas, esgotadas. Foi difícil estabelecer essa relação e fazer as abordagens”, relembra Lalo.
Os jornalistas passaram seis dias na região, do fim de janeiro ao início de fevereiro. O esboço da viagem começou após a leitura de uma nota de rodapé. Relatórios do Serviço Nacional de Migrações do Panamá de 2023 indicavam, no fim de uma página, que praticamente todos os migrantes brasileiros passando por Darién eram menores de idade.
Eram mais de 15 mil desses menores registrados na região, a maioria deles nascidos de famílias haitianas, que cruzavam com os pais a floresta rumo aos EUA após migração recente para o Brasil.
“Como fotógrafo, senti minha incapacidade de transmitir esse drama para as pessoas depois, com a dimensão que ela tem. Me senti muito frustrado nesse sentido. E acho que nunca conseguiria isso, porque a história é sempre maior do que conseguimos retratar”, diz Lalo.
Deixe um comentário