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Como é visitar a DMZ, na fronteira entre as Coreias – 20/11/2024 – Turismo


Criada para frear a guerra, a zona desmilitarizada na fronteira entre as Coreias do Norte e do Sul parece ser, pelo nome e pelo marasmo local, um oásis de harmonia em meio a dois Estados em conflito. Mas a realidade mostra o oposto. A região, uma área inabitada de quatro quilômetros de largura ao longo dos quase 250 quilômetros de extensão de fronteira é, na verdade, uma das mais fortemente armadas do mundo.

Ainda assim, o lado sul da chamada DMZ recebe, todos os dias, ônibus e mais ônibus com turistas do mundo inteiro, ávidos para conhecer de perto esse lugar onde, como dizemos guias sul-coreanos, paz e tensão, de alguma forma, convivem.

Das diferentes atrações que a DMZ oferece, o chamado Terceiro Túnel é a mais instigante. Mesmo após o armistício de 1953, que selou o fim dos embates armados entre os dois países, a Coreia do Norte continuou tentando invadir o Sul, dessa vez por debaixo da terra. Nos anos 1970, um soldado do lado comunista desertou e delatou ao lado capitalista que túneis estavam sendo escavados em direção a Seul.

Os sul-coreanos então começaram uma busca ao longo da DMZ, fazendo pequenas escavações que eram preenchidas com água —cuja movimentação acabou revelando a localização dos túneis.

Enquanto o lado norte alegou que estava apenas minerando carvão, o lado sul construiu múltiplas barreiras de aço, concreto e arames farpados por dentro dos túneis para impedir qualquer invasão. E desde 2002, transformou essa zona hostil em um local turístico para difundir o seu ideal de reunificação da península.

O ponto mais famoso da zona desmilitarizada é a chamada área de segurança conjunta (JSA, na sigla em inglês), onde estão as casinhas azuis usadas como escritório pelo Comando da ONU. Hoje, o local está fechado para turistas, sem previsão de reabertura. Mesmo assim, os visitantes ainda têm muito o que ver na DMZ —que é, disparado, o passeio mais insólito numa viagem à Coreia do Sul.

A jornada até lá começa às 8h, com uma viagem de uma hora de ônibus de Seul até Panmunjom, local da assinatura do armistício em 1953, e hoje transformado em um centro de visitantes. Também é possível chegar por conta própria, combinando trem e táxi entre a última estação em operação, Munsan, e o centro de visitantes. Mas como as vagas para visitar a DMZ são distribuídas por ordem de chegada e costumam esgotar antes das 9h, ir com uma agência é a opção mais garantida. O passeio completo custa cerca de 70 mil wons, ou R$ 290.

Depois da parada em Panmunjom, é preciso esperar o horário agendado para visitar o túnel. Normalmente, essa espera acontece no observatório Dora. Mas devido à escalada da hostilidade entre as Coreias, ele foi fechado, já que sua proximidade com a fronteira o torna um alvo fácil.

Na ocasião da visita, a agência levou o grupo para outro observatório, a 18 km dali. Por lá os turistas se divertem com os vários binóculos apontados para o país vizinho, observando um pouco da vida em uma pequena vila na Coreia do Norte —segundo os sul-coreanos, construída como uma fachada para disfarçar a miséria daquele lado.

Logo já estamos de volta ao ônibus para cruzar o rio Imjin e chegar à DMZ propriamente dita. A essa altura, a fome já bate forte, e o grupo faz uma parada em uma pequena vila onde ainda vivem algumas famílias que já estavam por ali antes do armistício.

Ali, há uma espécie de bandejão onde turistas e militares almoçam lado a lado, além de uma lojinha de souvenires e produtos típicos. O curioso é que ela está entre as melhores, se não a melhor, para comprar lembranças, tanto pelo preços baixos quanto pela variedade de opções, que incluem chocolate e arroz produzidos pelos locais na própria DMZ.

Depois do almoço, é hora de conhecer o túnel. Não é permitido fotografar ou filmar nada, e os pertences devem ser guardados num armário antes da inspeção de segurança. Veste-se um capacete e, enfim, inicia-se a descida, sob um frio que incomoda.

Inicialmente, o túnel parece muito bem preservado, e de fato é. Ele foi aberto por um moderno tatuzão, como os do metrô, só que menor. Ao final dos seus 358 metros é que se chega ao trecho que foi de fato cavado pelo lado norte, todo de pedra bruta, com infiltrações e marcas de dinamite.

No túnel original a temperatura sobe um pouco e um ar de mistério toma conta. É preciso andar abaixando a cabeça pelos outros 265 metros de extensão até o ponto final, onde há uma placa com o texto do armistício e uma parede de concreto com uma pequena janela de vidro. Através dela, é possível ver as outras barreiras ao longo de mais 170 metros de túnel, e também uma luz ao final dele: lá, já é a Coreia do Norte.

Todos andam numa grande fila indiana, e têm pouquíssimo tempo para observar a janelinha de vidro. A dica é dar passagem a quem vem atrás, para ficar por último e, assim, ter o seu momento sozinho e em absoluto silêncio no ponto mais próximo que se pode chegar da Coreia do Norte.

Vale a pena, afinal, depois dali, é dar meia volta e encarar uma baita subida rumo à superfície.



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