Criar o roteiro perfeito para a Grécia pode parecer uma tarefa hercúlea, para invocar um dos personagens da mitologia local. Afinal, são milhares de ilhas idílicas para escolher, cada uma com sua própria personalidade. Mas não se preocupe: seja lá onde você aportar, dificilmente se decepcionará.
As ilhas mais famosas têm razões de sobra para o serem, embora o mar de turistas dilua um pouco seus encantos. A reportagem visitou Mykonos e Santorini, as duas mais populares, e também Paros, fora do circuito mais óbvio e muito charmosa.
Pulamos de ilha em ilha com as balsas locais e alugamos um carro em cada porto. As balsas são muito fáceis de reservar online, e os carros exigem um pouco de atenção, já que algumas locadoras ficam fora dos portos.
Evite veículos gigantes para não destruir espelhinhos nas ruas minúsculas que, mesmo assim, são de mão dupla. Tente fugir do calor e das multidões dos meses de pico do verão, julho e agosto, e aposte em calçados antiderrapantes para desfilar sem medo na escorregadia marmoaria grega, aplicada em ruas, escadarias e sítios arqueológicos.
PAROS
A primeira ilha da viagem tem um sabor especial. Ali tudo é novidade. As casinhas brancas com detalhes em azul, típicas da Grécia, estão por todas as partes, decoradas por exuberantes flores de primavera rosas e vermelhas. Cada esquina parece uma oportunidade de foto.
Na vila de Naoussa, as casas estão à beira do mar e funcionam como cafés e restaurantes durante o dia. À noite, viram baladas. Em Lefkes, vilarejo no topo das montanhas, elas formam um labirinto fácil de se perder, com poucos turistas à vista.
Vimos nossos primeiros moinhos de vento gregos, embora aqui estejam um pouco maltratados. E entendemos a maravilhosa cortesia dos restaurantes do país de dar uma sobremesinha ao final da refeição. Nossa favorita era a baklava, um doce de massa filo com nozes e muito mel, originalmente da Turquia, mas muito popular por aqui.
As praias não empolgaram muito, com exceção de Kolympethres, que tem formações rochosas únicas entrando no mar. Como nas outras ilhas, o serviço de guarda-sol e cadeira é caro e não há outra opção a não ser trazer seu próprio kit praia para não torrar no sol.
A cinco minutos de balsa de Paros fica Antiparos. As lojinhas são mais refinadas, havia ainda menos turistas, e aproveitamos uma praia local chamada Soros, de águas transparentes, areia de pedrinhas, sem ondas e alguns peixinhos. Ficamos num beach club de mesmo nome, com muita sombra para descansar.
Paros é uma boa porta de entrada para as ilhas gregas. É bem tradicional e meio esvaziada, sem grandes atrações arqueológicas. Um lugar para descansar e conhecer o estilo de vida grego, antes da loucura de emoções de Santorini e Mykonos.
SANTORINI
Santorini parece uma miragem, embora as ondas de turistas te tragam de volta à realidade. Suas casinhas brancas instaladas no topo dos desfiladeiros, vistas bem de longe ao descer da balsa no porto, parecem neve em pleno calor de 30°.
De formação vulcânica, a ilha tem características bem peculiares. Há praias de areia vermelha e preta, além das plantações de uvas espalhadas por todos os cantos, que em nada lembram vinícolas tradicionais.
As videiras aqui são condicionadas a crescer bem perto da terra, criando uma cestinha de ramos que ajudam a proteger as uvas dos ventos e calor. Elas tampouco são regadas, já que o solo poroso vulcânico capta a água da maresia. A vinícola Santo Wines, uma das maiores cooperativas da ilha, oferece tours e degustações.
No vilarejo de Fira, um aglomerado de lojinhas recebe os visitantes em ruas labirínticas, com vistas dramáticas para a caldeira de Santorini (nem sempre reconhecida pelos distraídos por estar coberta pela água do mar).
Em Oia, fuja da muvuca da Sunset boulevard (avenida do pôr do sol) e invista no conforto de uma mesa de restaurante virada para o pôr do sol, um dos mais deslumbrantes do mundo.
Nas ruínas de Akrotiri, é possível entender melhor a força vulcânica de Santorini. Uma erupção por volta de 1.600 a.C cobriu a cidade de Akrotiri, redescoberta nos anos 1960 relativamente bem preservada, como na tragédia italiana de Pompeia.
As ruínas ficam protegidas num espaço coberto e passarelas elevadas. Infelizmente, mosaicos e artefatos encontrados no local foram retirados para exibição em museus pelo país (um deles em Fira).
MYKONOS
Mykonos é a ilha da balada e para quem não se importa em gastar muitos euros em cadeiras de praia ou numa simples salada. Mas há vida fora dos “beach clubs” e muitos passeios charmosos, afinal os cruzeiros gostam de desembarcar seus grupos aqui.
No centrinho ao redor do porto, estão alguns ícones da ilha, como os seis moinhos de vento, bem conservados e enfileirados à beira mar. O pelicano Petros, mascote de Mykonos, mendiga por comida nos restaurantes da região (ele prefere a Nikolas Taverna) e passa as noites numa gaiola de um cinema outdoor.
Por aqui também fica a Igreja de Panagia Paraportiani, uma construção caiada do século 17 que costuma atrair filas para fotografia. Às vezes, é palco de um curioso fenômeno local, os ensaios de “flying dress”, quando fotógrafos são contratados por mulheres usando vestidos enormes esvoaçantes.
A praia mais em conta é Ornos, onde uma dupla de cadeiras com guarda-sol custa 40 euros. Em Agrari, outra praia ao sul com um mar piscina e muitos peixinhos, o único beach club cobrava 50 euros. Nas praias mais badaladas, como Paradise e Super Paradise, os preços podem chegar a 100 euros ou mais dependendo do horário.
Para um pouco de solitude, embarque numa viagem de 20 minutos de barco para Delos, berço do deus Apolo. No século 3 a.C., era considerada a mais sagrada das ilhas, um centro importante de peregrinação.
As ruínas não são impactantes como a Acrópoles de Atenas, e o museu estava fechado para reforma. Mas há curiosas estátuas de leões e mosaicos bem preservados, como um no chão da Casa de Dionísio, onde ele aparece sentado num tigre. É um bom momento para agradecer aos deuses gregos por uma viagem tão especial.
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