sexta-feira , 27 dezembro 2024
Lar Gastronomia Vinho velho é sempre melhor do que o novo? – 17/11/2024 – Tinto ou Branco
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Vinho velho é sempre melhor do que o novo? – 17/11/2024 – Tinto ou Branco


Adoro vinhos velhos. Gosto da cor granada, um vermelho já amarronzado, dos aromas de terra e couro, da sensação dos taninos amaciados pelo tempo. Gosto de pensar na história da garrafa, de lembrar como eram o mundo e minha vida no ano em que eles foram produzidos. Amo. Então, claro, fiquei super feliz ao ser convidada para participar de uma pesquisa sobre a capacidade de guarda dos vinhos argentinos, realizada pelo Catena Institute of Wine em colaboração com a University of California Davis (ou UC Davis).

O fato de serem vinhos da Bodega Catena Zapata acrescentou uns pontos a mais para a minha felicidade. Com sorte, eu conseguiria provar alguma garrafa feita antes de Nicolás Catena, considerado por muitos como o inventor do vinho argentino como ele é hoje. Em 2013, fiz uma entrevista longa com Nicolás e perguntei para ele se os vinhos argentinos eram realmente piores antes de ele lançar o seu primeiro malbec varietal com o enólogo americano Paul Hobbs em 1994.

Catena, é claro, o homem fino que é, disse que não, que era um estilo diferente. Não iria menosprezar o trabalho de seu pai e de tantos antes dele. Para mim, no entanto, sempre restou a dúvida. Em 1994, eu já era bastante adulta e antes disso tinha tomado muitos Don Valentin, um tinto argentino considerado muito bom nos anos 1980, especialmente o lacrado. Eu gostava muito, mas isso não quer dizer nada. Nessa época, eu gostava também de Concha y Toro Reservado e Mateus Rosé. Como seria de fato o vinho argentino do período a.C (antes de Catena), como diz Ciro Lila, o dono da importadora Mistral que traz os vinhos da Catena para o Brasil?

“É uma degustação técnica”, me informou a Cláudia, que cuida da comunicação da Mistral. Contou que seríamos 20 especialistas, escolhidos por nosso conhecimento técnico (fiquei toda orgulhosa!), a degustar às cegas tintos e brancos de diferentes idades para dar nosso parecer. A pesquisa está sendo reproduzida em algumas cidades do mundo e tem por objetivo, além de avaliar a capacidade de envelhecer bem dos vinhos argentinos, entender os descritores de vinhos envelhecidos, que palavras usamos para nos referir a suas características.

Que responsabilidade! A UC Davis é a principal escola de vitivinicultura dos Estados Unidos e o Catena Institute, uma instituição privada de bastante prestígio, fundada por Laura Catena, a filha de Nicolás Catena que hoje compartilha com ele a direção do grupo. Será que eu poderia ajudar de alguma forma?

Realmente, a degustação foi bastante técnica. Nada de social como costumam ser as degustações que frequento. Fiquei isolada num apartamento do hotel Tivoli da Alameda Santos e tive 40 minutos cronometrados para julgar 14 amostras de vinhos. Não tive nenhuma informação sobre os vinhos que estavam nas taças. Via apenas que eram quatro brancos e 10 tintos.

Em um tablet, tive de responder três perguntas sobre cada um deles. A primeira pedia que dissesse o quanto gostei do vinho numa escala que ia de “detestei” até “achei excelente”. A segunda, que avaliasse se aquele vinho estava no seu auge, se já tinha passado ou de quanto tempo ele precisava para chegar no seu melhor momento. E terceira pedia que descrevesse brevemente o vinho.

Amei o primeiro branco, um vinho evidentemente envelhecido, com aromas de frutas secas, brioche. Gostei bastante de vários tintos. Não gostei muito dos últimos brancos. Teve apenas um tinto que não gostei. Achei bastante amargo, com muito aroma de pimentão verde, gosto e cheiro de remédio, de ervas maceradas, taninos muito rudes. Um outro, eu achei que já estava passado, mas dava para ver que tinha sido um bom vinho. Confesso, no entanto, que não me preocupei em anotar o que achei de cada amostra para depois, quando ficasse e sabendo o que era o que, conferir. Estava focada em cumprir o tempo.

Quando terminei, veio a social. Fui levada ao restaurante do hotel, onde pude ver as garrafas e voltar a provar delas. Não, não havia nenhum vinho do período a.C., mas quase. Havia uma garrafa de Catena Cabernet Sauvignon Reserve 1990, um vinho do início da era d.C., já que Nicolás assumiu a bodega em 1985, após a morte do pai. Era o vinho do qual eu não tinha gostado, aquele de taninos rudes. Claro, com isso, não dá para ter certeza de que todo vinho argentino era pior antes de Catena, mas é um indício.

Descobri que provamos também aquele primeiro varietal de malbec de 1994, do qual Nicolás tinha me falado em 2013. Adorei saber, embora tenha achado que o vinho já tinha passado do seu auge, que não tinha mais aroma de frutas, só couro, cogumelo e ervas maceradas. Na boca, no entanto, era agradável. Sem amargor. Taninos bastante redondos, como são na maioria os malbecs argentinos da era d.C..

Um dos tintos de que mais gostei foi o Adrianna Vineyard River Stones Malbec 2012. Para mim, é um ótimo exemplo de um vinho no seu auge, mas que ainda deve durar um bom tempo. Já tem aroma de couro, tabaco, mas ainda está cheio de frutas vermelhas e escuras. O pior é que não lembro se falei tudo isso na descrição que fiz no tablet.

Disso tudo, tirei algumas conclusões nada científicas. Primeiro, de fato, amo vinhos muito velhos, mas o prazer pela história talvez seja maior do que o prazer sensorial. Segundo, os sinais da idade de um vinho não são absolutos. Podem variar muito. O terceiro branco, por exemplo, que achei que era bastante velho, tinha 10 anos. Por último, mas não menos importante, comprovou-se algo triste: eu gosto de vinhos caros, hahahaha. As safras atuais do Adrianna Vineyard, meu preferido, custam mais de 2 mil reais. Imagine o de 2012!



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