Talvez você ainda não tenha visitado ou desejado conhecer o Amapá, mas a partir do momento que for viajar para o Estado da região Norte vai perceber que o afroturismo é base dos atrativos. Entre eles, estão o Quilombo do Curiaú, a manifestação cultural marabaixo, a Fortaleza São José e o monumento povos do meio do mundo, que têm como característica a história e cultura negra e serão indicados por qualquer morador de Macapá.
É importante lembrar que a capital do Amapá, com seus 442 mil habitantes, segundo dados do Censo IBGE 2022, abriga o segundo maior percentual de pessoas de cor preta e parda (76,1%), que formam, de acordo com o Estatuto da Igualdade Racial, a população negra. Salvador tem o maior percentual de pessoas negras do país com 83% da população.
Numa cidade com o apelido de “terras tucuju” (tribo indígena que habitou a região e simboliza a identidade local) é inegável a contribuição e presença dos povos indígenas, mas também como as culturas negras e indígenas se misturam nessa formação cultural e histórica.
O monumento povos do meio do mundo representa justamente essa intersecção representando as raízes do Amapá por meio dos povos indígenas, negros, caboclos e ribeirinhos. Com 17 metros de altura é o maior monumento ligado à cultura e história negra que conheci Brasil adentro. Além da imponência, há beleza e cuidado com o entorno. Um real atrativo turístico que foi inaugurado em fevereiro deste ano ao lado do Monumento Marco Zero do Equador, cortado pela linha que divide os hemisférios sul e norte do planeta.
Outra visita obrigatória é o Quilombo do Curiaú, na área rural de Macapá. Por lá, tem rio para refrescar, restaurantes para comer peixe e açaí, centro cultural para ver rodas de conversa e de marabaixo, que tem origem africana e inclui dança de roda, canto e percussão. As sedes de marabaixo espalhadas pela cidade são outro ponto de visita. Precursores dessa manifestação cultural ganharam monumentos. São eles: Tia Gertrudes, Tia Venina, Tia Chiquinha, professor Antônio Munhoz e professora Zaide Soledade
Também há escolas de samba, como Maracatu da Favela, Boêmios do Laguinho e Piratas da Batucada, que se apresentam no sambódromo durante o Carnaval. Já o Museu Sacaca celebra a cultura amapaense e dos povos originários e faz uma homenagem a Raimundo dos Santos Souza (1926-1999), conhecido como “Sacaca”. Negro, ele foi importante para a difusão da medicina natural. O museu à céu aberto tem casas indígenas, rio, casa de farinha, uma árvore sumaúma, além do Núcleo de Pesquisa Arqueológica – Nuparq, que abriga a “Monalisa” do espaço: urnas funerárias dos povos maracá e cunani. Elas foram reproduzidas na Casa do Artesão Amapaense, considerada a maior vitrine das produções locais.
Já a Fortaleza de São José de Macapá foi responsável pela chegada de pessoas escravizadas para sua construção em 1764. Há ainda a cidade de Mazagão que foi transportada do Marrocos para o Amapá, após a invasão dos mouros, trazendo portugueses que lá viviam, mas também pessoas negras que eram escravizadas.
Na União dos Negros do Amapá (UNA) há exposição, loja colaborativa, samba e eventos ligados à cultura negra. A Caminhada Macapá Negra, organizada pela Eva Turismo, em parceria com o Guia Negro, passa por lá.
Há também a possibilidade de estender a viagem para a Guiana Francesa (seis horas por terra) ou Afuá (PA), na Ilha do Marajó (duas horas de barco). A falta de conexão por via terrestre com o restante do Brasil, os voos caros ou longas viagens de barco para chegar ao Amapá podem até afugentar alguns turistas, mas quem chegar por lá vai encontrar peixes deliciosos, povo hospitaleiro e muita cultura indígena e negra para conhecer. Viva os afroamapaenses!
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