sexta-feira , 27 dezembro 2024
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Jovem rejeitado na escola vira barista de impacto – 14/11/2024 – Comida


Paulo Gabriel Maciel da Silva tinha 15 anos, seu pai havia saído de casa, no Grajaú, extremo sul de São Paulo, e sua mãe se desdobrava em mil para cuidar dele, de seu irmão com deficiência e de outras duas irmãs.

Não era dos melhores alunos e, diante da pobreza extrema da família e da falta de perspectivas de futuro, foi pelo caminho que lhe parecia mais fácil. Acabou apreendido por ato infracional equiparado a tráfico de drogas e foi obrigado a cumprir medida socioeducativa.

Sob a tutela do Estado, com o auxílio de uma assistente social, o adolescente fez um curso de panificação e começou a trabalhar como auxiliar de padeiro. Interessou-se pelo ramo. Foi quando surgiu a oportunidade para outro curso, em 2014, agora na área de café. Não sabia nada sobre a bebida, mas aceitou participar.

Ao tentar se inscrever, contudo, deparou-se com um problema: a coordenação do curso, voltado para jovens em situação de vulnerabilidade social, exigia que todos os alunos estivessem matriculados na escola. Ocorre que Paulo, então com 18, abandonara os estudos após sua apreensão, e nunca mais retornara à sala de aula.

Mas tudo bem, pensou, se é isso que precisa para entrar no curso de barista, achou por bem voltar para a escola.

Fazer as pazes com o passado, contudo, nem sempre é fácil. A diretora negou sua matrícula por ele ter sido um aluno “problemático” demais na sua primeira passagem pelo colégio. Mas sua mãe não aceitou a negativa e levou à diretora a lei que a obrigava a matricular Paulo. E, assim, a contragosto da própria instituição, ele voltou.

Com isso, conseguiu iniciar o curso de barista. Ele fez parte de uma iniciativa que começava naquele momento: era a primeira turma do projeto Fazedores de Café, no qual jovens em situação de vulnerabilidade social recebem um treinamento intensivo e gratuito para atuarem como baristas.

No curso, Paulo se apaixonou pelo universo dos cafés, então um mundo obscuro para ele. Os conhecimentos recém-adquiridos o ajudaram a se conectar melhor à escola, pois ele associava o café com vários assuntos que estudava, como química, física e até história.

Começou a fazer outros treinamentos, mais avançados, fez graduação em gastronomia e trabalhou em cafeterias consagradas, celeiro de grandes profissionais do ramo, como Octavio Café e Coffee Lab, além de ter cofundado o Catarina, que oferece experiências voltadas para os mais entusiastas pela bebida.

Em 2019, aceitou o convite de Diego Gonzales, dono do Sofá Café, que promove o Fazedores de Café, para voltar à casa onde tudo começou, agora como coordenador do projeto que lhe deu uma segunda chance. Aceitou de cara. Era chegada a hora de retribuir.

Hoje, aos 29, com duas filhas, Paulo Gabriel tem uma carreira como barista e mestre de torra. Rejeitado pela própria escola, está concluindo sua segunda graduação, em engenharia de alimentos.

E agora dá segundas chances para muitos jovens em situação de vulnerabilidade. A Nestlé descobriu o projeto, que outrora se restringia a São Paulo, e aportou recursos para levá-lo a cidades de todas as regiões do Brasil.

A taxa de empregabilidade do projeto é de 90%. Quase todos os que entram saem de lá com um trabalho, conhecimento e senso de comunidade —muitos viram amigos. A iniciativa venceu um prêmio da Prefeitura de São Paulo que reconhece ações que usam a gastronomia como instrumento de transformação social.

Ao refletir sobre onde chegou, Paulo Gabriel se emociona, respira fundo e chega a pedir desculpas, como se houvesse algo de constrangedor em transparecer aquele sentimento. O menino do Grajaú, condenado pelas faltas de perspectivas, agora é exemplo para centenas de jovens.

Um momento simbólico de toda essa trajetória ocorreu ainda no ensino médio —onde, após ser rechaçado, logo se integrou ao ambiente escolar ao ponto de almoçar na sala dos professores com os mesmos profissionais que antes o consideravam problemático. O fato, que o emociona até hoje, ocorreu na feira de ciências. O trabalho do menino que foi de rejeitado a exemplo ficou entre os melhores em uma competição entre todas as escolas da zona sul. O tema do seu trabalho: a ciência por trás do café.



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