Londres está cheia de abóboras, morcegos e teias de aranha.
Aqui na ZL londrina, onde estou hospedado, casa da minha filha, metade da vizinhança decorou suas casas para o Halloween –a outra metade é muçulmana ou idosa.
Os mercados têm gôndolas inteiras de balas para os adultos se abastecerem para o “trick ou treat” –quando crianças fantasiadas de monstros e fantasmas percorrem as ruas e tocam as campainhas para ganhar doces.
No Brasil, por muito tempo o Halloween foi encarado com curiosidade distante, quase indiferente. Dia das Bruxas, uma excentricidade anglo-americana como o beisebol e a escala Fahrenheit.
Então, um dia, aqueles brasileiros que viajam para a Flórida abraçaram o Halloween com entusiasmo.
Aqueles outros brasileiros, que abominam Orlando, franziram o cenho: “Por que esse bando de playboys fica macaqueando os gringos?”.
Houve até uma tentativa ridícula de arrumar um substituto nacional para a festa: o Dia do Saci, no mesmo 31 de outubro.
Claro que não colou. Não faz o menor sentido trocar, na marra, uma tradição importada por algo que nunca foi tradicional em lugar algum.
Já fui desses que implicam com o Halloween, mas mudei de opinião.
Embora venham de contextos culturais diferentes, o Halloween e o Dia de Finados luso-brasileiro convergem na essência: são festivais de outono do hemisfério Norte.
As duas festas –se é que dá para chamar Finados de festa– usam a morte como alusão aos tempos difíceis que vêm adiante, com o inverno fazendo os dias sombrios e a lavoura adormecida. É a celebração da última colheita do ano.
Há dois jeitos de encarar a inevitável treva: recolher-se no luto ou zombar dela, desafiá-la com insolência.
A rigor, nada disso faz sentido no Brasil, já que o verão desponta no calendário. Se é para escolher entre a penitência e a zombaria, fiquemos com a opção alegre. Vamos de Halloween –tem muita coisa pior que imitamos dos americanos.
Minha receita de Halloween tem abóbora. É um curry, porque estou na capital do antigo Império Britânico. E tem castanha de caju, para dar um toque brasileiro e alguma textura a mais. Bagunçar referências culturais é gostoso demais.
CURRY DE FRANGO COM ABÓBORA E CASTANHA DE CAJU
Rendimento: 2 a 3 porções
Dificuldade: média
Tempo de preparo: 75 a 90 minutos
Ingredientes
300 g de abóbora japonesa (cabotiã)
1 cebola amarela grande, fatiada
1 colher (sopa) de manteiga
200 g de sobrecoxa de frango desossada e sem pele, em cubos
1 colher (sopa) de extrato de tomate
1 colher (sopa) de curry em pó
1 colher (sopa) de cominho
1 colher (sopa) de páprica
Sal a gosto
Para servir
½ cebola roxa fatiada
½ xícara de castanha-de-caju triturada
Coentro a gosto
½ limão
Modo de fazer
1. Asse a abóbora a 200ºC, envolta em papel alumínio, por 40 minutos a 1 hora. Remova a polpa e amasse com um garfo. Reserve.
2. Em fogo médio, refogue a cebola na manteiga até dourar. Adicione o frango e frite até dourar todos os lados da carne.
3. Junte o purê de abóbora, o extrato de tomate e um copo d’água. Mexa e espere ferver. Adicione os temperos. Cozinhe por 10 a 15 minutos, ajuste o sal e desligue.
4. Sirva com a cebola roxa crua, a castanha-de-caju e o coentro. Esprema o limão para um toque de acidez. Acompanha arroz branco ou naan (pão indiano).
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