É com um misto de alegria e apreensão que eu li a notícia de que Janaína Torres, do Bar da Dona Onça, vai reativar o ponto que era do Star City – restaurante ancestral de Santa Cecília, que servia feijoada todos os dias e encerrou as atividades no começo do ano.
Vamos primeiro às razões da apreensão.
Fico sempre com um pé atrás quando algum novo gestor assume bares e restaurantes tradicionais que naufragaram por qualquer motivo. Desconfio porque já vivi o bastante para ver o que acontece. Os exemplos bem-sucedidos são exceção.
Peguemos Bar Brahma, Bar Léo, Riviera, Filial, Love Story e o carioca Cervantes. Ou são caricaturas das casas originais ou são releituras gourmetizadas e desalmadas.
Das exceções, só consigo lembrar de bares do Rio: Adônis, Nova Capela e Adega da Velha ressurgiram com gastronomia renovada e um bom restauro, sem desfigurar a atmosfera.
Mas, aqui, note-se que eu sou forasteiro no Rio e não guardo memória afetiva desses estabelecimentos (um pouquinho com o Nova Capela, na Lapa). Talvez os antigos frequentadores tenham uma opinião diferente da minha.
Agora, às razões da alegria.
O Star City era um dos meus lugares favoritos da vida. Frequentei desde a época de faculdade, tenho uma tonelada de memória afetiva lá.
Janaína é uma das melhores cozinheiras que conheço e faz o tipo de comida que mais gosto: comida brasileira, com jeito caseiro e técnica profissional, sem frescura nem minimalismo besta. A feijoada que ela serve no Bar da Dona Onça é uma coisa fabulosa.
Mais do que isso, ela fará um grande serviço à cidade de São Paulo caso se confirme que o novo restaurante vai seguir o modelo de funcionamento do defunto Star City.
Sou cético quanto à reencarnação de bares e restaurantes –o resultado disso é a sobrevida artificial de marcas que poderiam estar mortas e sepultadas. Talvez fosse melhor assim, vamos seguir com a nossa vida.
Só que aqui falamos de toda uma classe de restaurantes que caminha rumo à extinção: aqueles que servem feijoada todos os dias da semana, além de um longo cardápio com receitas demodê. Um patrimônio cultural que some junto com aqueles que o têm na memória –outras categorias de restaurante com o pé na cova são a churrascaria rodízio e a cantina ítalo-paulistana.
Restaurantes da estirpe do Star City eram relativamente comuns na cidade algumas décadas atrás. Deles, só sobrou o Bolinha, que já viu dias melhores; de uma geração um pouco mais recente, tem O Mineiro, na região da Augusta.
Antes de fechar, o próprio Star City já havia abandonado o funcionamento noturno. Espero que Janaína retome esse horário, pois comer feijoada no jantar é uma experiência inesquecível – durante e depois da refeição.
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