Fartamente utilizado na culinária japonesa, o wasabi tem sabor forte e normalmente acompanha pratos com sushi, sashimi e outras receitas com peixe.
Ah, também é usado em cerveja há pelo menos uma década, cortesia de Fernanda Ueno, Maíra Kimura e Yumi Shimada, as sócias-fundadoras da Japas Cervejaria.
Em 2014, elas testaram pela primeira vez a fórmula da Wasabiru, uma american pale ale equilibrada, com 5,5% de álcool, que inclui o wasabi na receita. O rótulo se transformou em hit do trio, que se sentiu seguro para prosseguir.
Dez anos depois, a marca superou o machismo do setor, uma certa desconfiança da comunidade de origem nipônica e já se insere no desejado e concorrido mercado norte-americano.
Com formações distintas, a engenheira de alimentos Fernanda, a publicitária Maíra e a designer Yumi (também responsável pelos belos rótulos) se conheceram em eventos e cursos cervejeiros, quando começaram a compartilhar as experiências. “Éramos muito poucas [mulheres] no meio naquela época. Hoje em dia tem bem mais”, lembra Maíra.
Em junho de 2014, enquanto o Brasil se preparava para a fatídica Copa, o trio se reunia na casa de Yumi para fazer a receita da american pale ale com wasabi.
No fim do mesmo ano, a receita foi repetida na Cervejaria Nacional. “Depois de engatada, a cerveja esgotou muito rápido. Em dois, três dias acabou o tanque todo”, conta Fernanda. “Quando vimos que esgotou, falamos: ‘Precisamos fazer isso’.”
Apesar de cada uma ter uma atribuição diferente no organograma da Japas, as três sempre se reúnem para tomar as decisões sobre as novidades da marca.
“Fazemos tudo juntas, é um grande brainstorm. A gente conversa sobre qual vai ser o estilo, pensa se tem uma data sazonal. Às vezes pode começar pelo ingrediente. O processo pode ter vários caminhos”, diz Yumi.
Marca registrada no início, os ingredientes asiáticos foram importantes para a Japas estabelecer seu território. Aos poucos, no entanto, o trio percebeu que poderia explorar outras vertentes.
“Hoje a gente não se prende tanto aos ingredientes. Temos uma cultura, um monte de conceitos, que podemos usar, sem ter necessariamente um ingrediente japonês”, afirma Maíra.
Exemplo disso é a Neko IPA, uma american IPA cujo nome e rótulo fazem referência ao Maneki Neko, o gato da sorte japonês. E “sorte” é o ingrediente especial que aparece na descrição da cerveja.
Para Yumi, os ingredientes foram importantes para se estabelecer e provar que sabiam fazer cerveja. “Depois, junto com a comunidade amarela, a gente começou a entender que precisava se provar não só no mercado cervejeiro, mas também para as pessoas que moram no Brasil, porque somos brasileiras”, conta Yumi, que lembra que, no início, outros nipo-brasileiros questionavam a escolha pela cerveja: “Por que não fazem saquê?”.
Essa necessidade de também serem reconhecidas como brasileiras aumentou em 2019, quando começaram a produzir nos Estados Unidos. A história em terras norte-americanas começou após participarem —e chamarem a atenção— do Extreme Beer Fest, festival bem conhecido no meio.
Com alguns contatos estabelecidos, a Japas garantiu a distribuição em três estados (Massachusetts, Maine e Rhode Island). “Depois começamos a produzir no Kentucky e já estamos presentes em 15 estados. Acho que até o fim do ano vai ter mais”, celebra Maíra.
“E essa necessidade de mostrar o lado mais brasileiro veio quando a gente começou a produzir nos Estados Unidos”, completa Fernanda. “Por lá as pessoas ficavam confusas com nossa origem.”
Em um mercado cervejeiro muito maior e mais consolidado —cerca de 12% da fatia é das artesanais, número que mal chega a 3% no Brasil—, a Japas rapidamente evoluiu por lá. Mesmo sem falar de números, a marca aponta que a produção nos Estados Unidos é cerca de 15 vezes maior.
“Aqui as pessoas compram uma Wasabiru para conhecer, uma Matsurika [pilsen com pétalas de jasmin]. Lá eles compram o pack com seis de uma vez. É outra realidade de preço”, avalia Maíra. No site da Japas, as cervejas de linha custam entre R$ 18,90 e R$ 21,90.
Depois de ganhar os americanos, a Japas chegou a uma nova fronteira, em Taiwan, lugar menos evoluído do que o Brasil em termos de artesanais, mas que abriu as portas para o trio.
“Um pessoal de Taiwan chegou a nossa marca pelos Estados Unidos e adoraram”, conta Fernanda. “As conversas evoluíram e decidimos produzir lá, mas é apenas um rótulo, a Hanami”, lembra.
No entanto, o lançamento não é em uma pequena cervejaria, mas sim na rede de lojas de conveniência 7-Eleven, de origem americana, mas que tem em Taiwan seu terceiro maior mercado.
“Foi a única vez que fizemos uma pequena alteração na receita”, diz Maíra, sobre a sour com hibisco. “Eles não gostam de muito amargor e a Hanami é sequinha, azedinha. Então, colocamos um pouco mais de açúcar no final.”
Como parte da celebração do 10º aniversário, a cervejaria tem lançado algumas colaborativas. A mais recente é a Haikai, uma belgian dubbel feita em parceria com a Dádiva e a Duas Irmãs, ambas comandadas por mulheres.
Para a próxima década, abrir um bar em São Paulo com a marca própria está entre os planos. “A gente pensou em abrir um izakaya com formato cervejeiro”, pontua Yumi. “E com uns drinques, gostamos muito de drinques.”
Empório Alto dos Pinheiros
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Gorila Beer House
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Hirá Ramen Izakaya
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Marukai
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Tap Tap
R. da Consolação, 455, Consolação, região central, @taptapsp
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