“Só me lembro de ter me ajoelhado, chorado e pensado: o preto também pode chegar no topo e ir além”.
A frase, do carioca Danilo Mendes, 39, operador da fabricante de lubrificantes Moove, mostra a emoção que ele sentiu quando chegou ao pico Uhuru, no Kilimanjaro, a 5.895 metros de altitude, na madrugada do dia 9 de novembro passado. A montanha mais alta do continente africano, localizada no norte da Tanzânia, é um dos sete cumes cobiçados por montanhistas de todo o mundo, e é ainda mais significativa por ser a primeira escalada da vida desse homem negro que já foi jogador de futebol, e que se empenhou por meses para completar sua conquista, ao lado de Aretha Duarte, a primeira mulher negra latino-americana a escalar o Everest.
Foi Aretha quem idealizou o projeto chamado Expedição Sankofa Kilimanjaro, patrocinado pela Moove, e nomeado em referência ao ideograma africano que simboliza a importância de olhar para o passado para construir o futuro. Ela define o projeto como um legado. “Uma montanha escalada por pessoas negras, carregada de força, negritude, ancestralidade e representatividade, que vai ecoar não apenas como uma conquista pessoal, mas como um marco coletivo de resiliência e pertencimento”, enfatiza ela.
Quando foi convidado pela empresa em que trabalha para participar desse projeto que celebraria o mês da Consciência Negra, Mendes conta que seu coração “se encheu de alegria”, mesmo sem saber direito o que esperar da empreitada. “Mas sabia que seria algo bom”, relembra.
Desde o primeiro encontro com Aretha, em Atibaia, Mendes conta que “ela deixou muito claro qual era a missão, o objetivo e a mensagem que ela queria passar, e nos envolvemos ao máximo, pois sabíamos que isso impactaria nossas vidas, dos nossos familiares, e, especialmente, a representatividade para mim e para toda a empresa que patrocinava o projeto”.
Se o Kilimanjaro não apresenta as maiores dificuldades para um montanhista experiente, é sem dúvida um tremendo desafio para quem nunca havia se aventurado por montanha alguma. “Saber que tinha uma galera aqui na torcida por mim, que acreditava em mim, me fez ter mais gás”, conta Mendes. “Foi uma alegria só por todo o contexto de superação das dificuldades para chegar ao topo”.
Além da foto icônica no cume, ao lado da Aretha e da equipe que participou da empreitada, Mendes —que garante ter descoberto o gosto por um novo esporte e já sonha com outras escaladas— teve a oportunidade de partilhar da hospitalidade da tribo Maasai, povo seminômade que habita a região da fronteira entre a Tanzânia e o Quênia, justamente onde se localiza o Kilimanjaro. “Quando chegamos lá, me disseram que eu era um deles, e mesmo sem falar a mesma língua, com uma cultura diferente, me senti acolhido”, diz ele, que foi recebido na descida com uma festa especialmente preparada para celebrar a conquista do grupo.
Ele conta que se surpreendeu por ver “a forma como encaram a vida, que é algo encantador, sempre com um sorriso no rosto, apesar da desigualdade, da falta de infraestrutura e de recursos com que o povo negro é tratado na região”.
Além de Mendes, participaram do projeto Jorge Afonso, do coletivo @negritudeoutdoor, Eder Long, documentarista e parceiro de Gabriel Tarso, responsável pelas imagens das expedições de Aretha, e Katia Agatha, jovem carioca escolhida por Aretha dentro do projeto de popularização do esporte nas comunidades cariocas.
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