A oposição da Coreia do Sul anunciou nesta quinta-feira (5) que vai votar pelo impeachment do presidente Yoon Suk Yeol no próximo sábado (7) diante de sua recusa em renunciar após usar a lei marcial pela primeira vez desde a democratização do país, em 1987.
O decreto relâmpago na noite da última terça (3), que, na teoria, suspendeu atividades políticas e baniu liberdades civis durante as horas em que esteve em vigor, motivou diversos pedidos de renúncia de funcionários de alto escalão, manifestações massivas em todo o país e uma investigação pela polícia.
Nada disso, no entanto, convenceu Yoon, um ex-procurador responsável por apurar os escândalos de corrupção que derrubaram a presidente Park Geun-hye (2013-2017), a renunciar a dois anos do término de seu mandato, que começou em 2022.
Pesa a seu favor o fato de ainda ter algum apoio entre correligionários. O Partido do Poder Popular, ao qual o presidente pertence, tentou se afastar da impopular medida e está dividido sobre a crise, mas disse que se oporia ao impeachment.
O líder da bancada parlamentar da sigla, Choo Kyung-ho, afirmou que vai trabalhar para derrubar o pedido e já se defendeu de possíveis críticas dizendo que isso não significa “defender a lei marcial inconstitucional do presidente”, ao qual já solicitou que deixe o partido.
O resultado é incerto. A oposição capturou quase dois terços dos assentos na Assembleia em uma eleição de abril —um reflexo da impopularidade do presidente, que rondava os 20% antes do decreto—, mas ainda precisa que pelo menos oito dos 108 parlamentares do partido governista para aprovar a medida na Assembleia Nacional, que conta com 300 assentos.
Choo garante que todos os deputados da sigla “permanecerão unidos para rejeitar a destituição do presidente”, mas não seria surpresa se algum deles descumprisse a orientação, dada a rejeição que o decreto teve até mesmo entre aliados após a ampla reação da sociedade sul-coreana e de aliados internacionais.
Se a iniciativa for aprovada, o presidente será suspenso e substituído pelo primeiro-ministro, Han Duck-soo, enquanto a Corte Constitucional analisa o caso para emitir um veredicto no prazo de 180 dias. Caso o tribunal confirme a destituição, novas eleições presidenciais serão convocadas em até 60 dias.
Yoon não faz aparições públicas desde o início do imbróglio, e seu gabinete informou que o presidente não fará nenhum pronunciamento durante o dia. Enquanto isso, nas ruas, vários protestos exigem sua renúncia ou prisão.
Muitos manifestantes dizem temer o retorno dos regimes autoritários que se seguiram à fundação da Coreia do Norte, em 1948. “Pelo bem dos meus filhos, isso deve ser interrompido custe o que custar”, disse à agência de notícias Reuters, nesta quinta, a manifestante Kim Hye-Min. “Não podemos voltar à década de 1970.”
Ela participava de um protesto do lado de fora da Assembleia Nacional, palco de um confronto na terça. Depois do decreto, o Exército invadiu a Assembleia Nacional em Seul e recuou após assessores parlamentares usarem extintores de incêndio para defender o prédio. Enquanto manifestantes se confrontavam com a polícia do lado de fora, os legisladores rejeitaram a decisão.
“As pessoas e os assistentes que protegeram o parlamento nos protegeram com seus corpos. As pessoas venceram, e agora é hora de nós protegermos as pessoas”, disse o deputado Kim Seung-won, do opositor Partido Democrático da Coreia.
Deixe um comentário