A pomposa reinauguração da catedral de Notre-Dame, cinco anos após o incêndio que quase a destruiu, serviu de pretexto para uma minirreunião de cúpula entre o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, em Paris.
Trump e Zelenski se encontraram no palácio do Eliseu com o presidente da França, Emmanuel Macron, duas horas antes da cerimônia. O americano foi o primeiro a chegar. Após uma troca de amabilidades com Macron, deu a entender que os conflitos mundiais em curso estavam na pauta da conversa: “Parece que o mundo está ficando um pouco louco neste momento, e falaremos sobre isso.”
Zelenski chegou uma hora depois. Na saída, disse que o tríplice encontro foi “bom e produtivo”. “Todos queremos que essa guerra acabe o mais cedo possível, e de forma justa”, postou na rede social X. “Falamos sobre nosso povo, sobre a situação no terreno e uma paz justa”, acrescentou.
Por causa da reunião, Trump e Zelenski estiveram entre os últimos convidados a chegar a Notre-Dame. Uma surpresa foi a chegada, minutos depois, do bilionário sul-africano Elon Musk, influente doador da campanha eleitoral de Trump e um dos responsáveis pelo futuro Departamento de Eficiência Governamental da nova gestão americana.
As portas da catedral foram formalmente abertas às 19h20 (15h20 de Brasília), quando o arcebispo de Paris, Laurent Ulrich, bateu nela três vezes com seu cajado. Na prática, porém, o público de convidados e VIPs já aguardava do lado de dentro.
Mais de 30 chefes de Estado atenderam ao convite do governo francês e assistiram à cerimônia. Entre eles estavam o príncipe William, herdeiro do trono do Reino Unido; o príncipe Albert, de Mônaco; e o presidente da Itália, Sergio Mattarella. O Brasil não enviou representante.
Ao adentrar a catedral, Zelenski foi muito aplaudido. Cumprimentou o presidente da Polônia, Andrzej Duda, um de seus maiores aliados. Cerca de 20 líderes globais estavam presentes.
Embora formalmente ainda não ocupe cargo público, Trump foi colocado pelo cerimonial na primeira fileira, entre Emmanuel e Brigitte Macron. Apenas a primeira-dama francesa se interpunha entre o futuro presidente americano e a mulher do atual, Jill Biden, em uma pequena saia-justa diplomática.
A cerimônia começou com uma homenagem aos bombeiros de Paris, que debelaram o incêndio de 2019 a tempo de impedir o desabamento total da catedral. A palavra “obrigado” foi projetada em vários idiomas, inclusive o português, na fachada gótica, transformada em imenso telão.
Discursando na nave principal, Macron expressou “a gratidão da nação francesa a todos que salvaram, ajudaram e reconstruíram Notre-Dame de Paris”.
A princípio o presidente francês discursaria do lado de fora, para não ofender o princípio da separação entre Igreja e Estado. Ventos de 80 km/h justificaram a mudança do discurso para a nave da catedral. O púlpito, porém, foi posicionado abaixo do altar e ligeiramente fora de centro, como a simbolizar que, ali, o político não era o protagonista.
O papa Francisco recusou convite para assistir à cerimônia. Foi lida apenas uma mensagem papal. A ausência foi vista como uma desfeita a Macron.
Após a leitura, o arcebispo Ulrich pronunciou as palavras cerimoniais para “acordar” o órgão de tubos, que escapou ao incêndio com danos severos. “Não esperei menos que isso… Eles estão improvisando maravilhosamente!”, disse à Folha a brasileira Luciana Lemes, uma das responsáveis pela restauração.
Outra brasileira com papel importante na reforma foi a museóloga Carolina Ferreira, gerente do acervo. “Parece um filme o que está acontecendo”, disse. Ela cuidou da catalogação, conservação e transporte de mais de 1.300 peças, entre elas uma famosa estátua da Virgem que fica no pilar sudeste da nave central.
Foi instalada na catedral uma placa de agradecimento em que foram gravados os nomes dos maiores doadores da reforma —entre eles a bilionária Lily Safra, nascida no Brasil e conhecida filantropa. Ela morreu em 2022, aos 87 anos.
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