Os paulistanos fomos salvos, ao menos provisoriamente, da catástrofe estética e ética que seria a concessão do largo da Batata, em Pinheiros, a uma marca de batatinha frita industrializada.
Isso não significa, de forma alguma, que o largo da Batata seja um lugar bacana em sua configuração atual. Ao longo dos últimos 25 anos, a Operação Urbana Faria Lima transformou uma região feia, suja e inóspita num monstrengo que continua sendo tudo isso e, de quebra, perdeu a alma.
No começo era o caos.
Conheci o largo da Batata em meados dos anos 1980. Lá passava (passa ainda) o ônibus Sacomã-Pinheiros, que eu pegava bastante.
Era um mar de tendas de camelô, que vendiam desde ervas e garrafadas até quinquilharias de contrabando.
A zona tinha presença forte de migrantes nordestinos, o que resultava num sem-número de casas do norte, forrós, botecos e cabarés –vestígios do meretrício ainda ocupam a rua Cardeal Arcoverde, perto da Faria Lima.
A fumaça de ônibus saturava a atmosfera. Isso também pode ser observado até agora, nos provolones mumificados e cobertos de fuligem, pendurados há décadas no Bar das Batidas (mas conhecido como C* do Padre).
Trabalhei nas proximidades entre 2003 e 2013. Foi bem a época em que a chegada do metrô acelerou as transformações do largo da Batata.
Alargaram as ruas. Removeram os camelôs e as árvores. Ergueram algumas torres de vidro de arquitetura pretensamente vanguardista. Cimentaram uma área aberta, sem vegetação, um deserto exposto à intempérie.
Criaram uma infame passarela do álcool na rua Guaicuí. No largo propriamente dito, outros bares emanam vibrações desoladas com vista para a imensidão concretada.
O mercado imobiliário fez brotar prédios e mais prédios destinados à ocupação de curto prazo por Airbnb e similares.
Do outro lado da Faria Lima, o Mercado de Pinheiros fez que ia e acabou “fondo”. A promessa de polo gastronômico hispter flopou.
A cessão desse ambiente a um patrocinador seria somente aquela cerejinha que faltava no bolo do desalento que é a cidade de São Paulo.
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