Foi inaugurada nesta segunda-feira (16) a primeira linha ferroviária a estabelecer uma ligação direta e diária entre Berlim e Paris em décadas. A viagem com o ICE, a versão germânica do trem-bala, alcança 320 km/h na parte francesa do trajeto, mas consome oito horas no total, bem mais do que a ligação aérea, em geral inferior a duas horas. Ainda assim, a procura começou em alta, segundo a Deutsche Bahn.
A companhia acena com uma emissão de 2 kg de CO2 no trajeto, contra 200 kg de CO2 da opção área. Aumentar o número de viagens de trem é uma diretriz ambiental da União Europeia, que espera dobrar o tráfego de curta distância até 2030 e triplicá-lo até 2050. Alguns países já até possuem legislação específica sobre o tema, como a França, que desestimula voos curtos que possam ser substituídos por trens de maneira competitiva.
As oito horas entre as capitais alemã e francesa parecem muita coisa perto de um voo de menos de duas horas, mas um olhar mais atento aos detalhes da viagem explica a atração provocada pelo serviço de trem. A começar por onde ele parte.
A Hauptbahnhof, a estação central de Berlim, está muito próxima ao coração da cidade, assim como a Gare de L’Est, em Paris —só com isso, o trajeto aéreo ganha duas horas suplementares na comparação.
Nas duas cidades os aeroportos ficam afastados do centro. A extensão da linha 14 do metrô, inaugurada antes dos Jogos Olímpicos, melhorou o acesso ao aeroporto de Orly, o segundo de Paris, mas o trajeto para o Charles de Gaulle continua longo e com paradas, como ocorre com o de Berlim-Brandemburgo. Mais caro, o traslado de carro não diminui tanto os tempos de deslocamento.
Outra ponderação a ser feita em favor do trem é que o trâmite de viagem é bem mais simples. Acessar a plataforma da estação e o lugar nos carros é muito mais rápido do que enfrentar os controles de segurança e documentos nos aeroportos, assim como o processo de embarque e desembarque nas aeronaves. Somando tudo, as oito horas no trem competem, na verdade, com cinco ou seis no avião, uma disputa mais razoável.
Já a comparação de custos é prejudicada pelos preços flutuantes. A tarifa do trem, pela tabela, começa com 60 euros (R$ 390) na segunda classe, enquanto aéreas de baixo custo vendem o trecho a partir de 90 euros (R$ 580). O preço mais baixo encontrado pela reportagem nesta semana de abertura para o trem foi de 120 euros (R$ 780).
Para estimular a procura, a Deutsche Bahn ampliou o período de reservas de seis meses para um ano, o que aumenta a chance de encontrar melhores preços se a procura for feita com antecedência.
Há um componente, no entanto, que fala a favor do trem nesse caso: a bagagem. A maioria das empresas aéreas, hoje em dia, cobra pela bagagem despachada, algo que não existe na viagem de trem. Essas e outras vantagens, além da preocupação ambiental, explicam o lançamento de muitas linhas internacionais de trem-bala na Europa nos últimos anos, ligando cidades importantes como Frankfurt, Bruxelas e Amsterdã.
A nova linha entre Berlim e Paris, na ida e na volta, para em Spandau, perto da capital alemã, Frankfurt, Karlsruhe e Estrasburgo, já na França. O trecho alemão, com malha ferroviária mais antiga, é percorrido a 230 km/h. De Paris, o trem sai às 9h55, e de Berlim, às 11h54, diariamente.
Na primeira viagem, na segunda-feira (17), o ICE chegou a Gare de L’Est dez minutos adiantado. Um começo auspicioso para a Deutsche Bahn, que virou alvo das redes sociais na metade do ano, quando a Alemanha abrigou a Eurocopa. Atrasos e falhas, algo que não bate com a imagem do país, provocaram uma avalanche de comentários e reportagens na imprensa.
A Alemanha vive uma crise econômica, em que a infraestrutura envelhecida é um dos sintomas. A companhia ferroviária do país, a maior da Europa, montou um plano de modernização bilionário, que pretende atacar os principais problemas do setor até 2027.
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