Apesar de ocupar um terço do território português, o Alentejo tem menos de 18 habitantes por quilômetro quadrado. É nesse pedaço de alma rural e horizontes amplos, ocupado por extensas propriedades produtoras de grandes vinhos e azeites, que floresce um enoturismo voltado ao público que busca luxo, sossego e privacidade.
Para descobrir esse Alentejo exclusivo, é preciso deixar a autoestrada e percorrer estradinhas secundárias. Estreitas e quase sempre desertas, ladeadas por olivais a perder de vista e pomares de sobreiros, as árvores de onde se extrai a cortiça, elas conduzem a vinícolas onde os vinhos de alta gama não são o único chamariz –plaquinhas do guia Michelin e da organização internacional Relais & Châteaux, que identifica hospedagens de luxo, proliferam por ali.
Marca conhecida no Brasil, a Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, está lá desde 1267, mas exala modernidade nas plantas industriais e na estrutura turística.
A propriedade atrai visitantes com degustações de vinhos e azeites e passeios pelos 441 hectares de vinhedos, onde são cultivadas 40 castas. O restaurante, cujo menu põe em destaque os ingredientes locais, ostenta uma estrela Michelin e uma estrela verde, conferida a estabelecimentos que adotam práticas sustentáveis.
É possível pedalar pelos 93 hectares de olivais, que fervilham em outubro, época da colheita das azeitonas, e ver de perto a famosa torre que ilustra os vidros de azeite, erguida no século XIII e transformada em espaço para eventos. Diante dela, uma oliveira que já estava lá quando o Brasil foi descoberto continua dando frutos.
Também estrelada pelo Michelin, a Herdade da Malhadinha Nova, em Beja, combina hospedagem de luxo e restaurante chefiado pelo alemão Joachim Koerper, o mesmo do Eleven, em Lisboa. O menu parte de produtos locais, mas o resultado são criações ousadas, bem ao estilo do chef.
As suítes e vilas privativas descortinam vistas dos vinhedos, do haras e do spa. Passeio de balão, aula de equitação e oficinas de pão alentejano, de cerâmica e de doçaria regional fazem parte do cardápio de experiências.
Na contramão da gastronomia moderninha dos restaurantes estrelados, o casal Sofia Machado e Filipe Pinto, proprietário da Herdade do Sobroso, em Pedrogão, prefere explorar os encantos da culinária alentejana tradicional. Das panelas da cozinheira Josefa Repas saem açordas, receita típica à base de caldos substanciosos engrossados com pão, e primorosos assados de cordeiro.
Debruçadas sobre os vinhedos, as suítes ocupam antigos alojamentos de colonos. São apenas 11, mas a propriedade logo vai ganhar reforço –novas Vineyard Villas equipadas com piscinas privativas, mais um spa, devem ser inaugurados em abril de 2025.
Além de participar de degustações, os hóspedes da Herdade do Sobroso podem agendar massagem no quiosque à beira do lago, pescar, andar de bicicleta ou caiaque, sobrevoar a herdade de balão ou fazer um safári fotográfico de jipe.
Até a rede portuguesa de resorts Vila Galé tem uma unidade alentejana dedicada ao enoturismo, o Vila Galé Alentejo Vineyards & Olive, onde são produzidos os vinhos e azeites Santa Vitória, exportados para o Brasil.
Rodeado por vinhedos e olivais, nos arredores de Beja, o hotel dispõe de 81 apartamentos e programação mais familiar –crianças de até 12 anos não pagam hospedagem nem refeições e encontram muito o que fazer, enquanto os pais visitam a adega e o lagar e participam das degustações.
O brasileiro está descobrindo a região aos poucos: 1,1 milhão de turistas daqui desembarcaram em Portugal, em 2023, mas somente 39 mil chegaram a pernoitar no Alentejo. Nas vinícolas dedicadas ao turismo, porém, especialmente as que produzem rótulos de alta gama, é comum ouvir o sotaque brasileiro entre os visitantes.
À frente da Let’s Go Wine, especializada em roteiros de enoturismo, a gaúcha Elisa Wozniak conta que a Adega Cartuxa, produtora do vinho Pêra-Manca, ainda é o grande ímã para o Alentejo – em São Paulo, uma garrafa do tinto safra 2015 sai por R$ 5 mil, em média. Mas há muito mais para ver e degustar. A Rota dos Vinhos do Alentejo inclui mais de 60 adegas, que mantêm as portas abertas para os visitantes.
Para quem chega em busca de experiências luxuosas, Wozniak desenha roteiros sob medida. “É um tipo de turista que prioriza conforto, vivências autênticas e privacidade. Nem sempre faz questão de um automóvel de luxo, mas gosta de ter um guia local à disposição”, diz.
As distâncias entre uma vinícola e outra são curtas e permitem fazer mais de uma visita por dia, mas não se recomenda ter pressa. Orgulhosos de seus vinhos, azeites e pratos, os portugueses gostam de se alongar nas degustações e não são muito afeitos às refeições ligeiras.
As pequenas cidades do Alentejo, incluindo a mais famosa delas, Évora, Patrimônio Mundial pela Unesco desde 1986, também merecem algumas paradas. É um pecado passar por Estremoz, por exemplo, sem conhecer a Mercearia Gadanha, restaurante da chef brasileira Michele Marques, indicado pelo guia Michelin. Ou deixar Alter do Chão sem almoçar no Páteo Real, do português Filipe Ramalho.
A proximidade de Lisboa é um grande trunfo do Alentejo –a partir do aeroporto internacional Humberto Delgado, são pouco mais de 2 horas de carro. A primavera e o outono, secos e agradáveis, são as estações mais recomendadas pelos locais, embora os aficionados por vinhos gostem de visitar a região em agosto, para participar da colheita das uvas. Aí é bom preparar o chapéu e a ventarola, porque a temperatura beira os 40º C.
Herdade da Malhadinha Nova
Quanto – Diária a partir de 400 euros (R$ 2.562), com estadia mínima de duas noites
Reservas – malhadinhanova.pt/pt
Herdade do Esporão
Quanto – Visita com degustação a partir de 16 euros (R$ 1.02,50)
Reservas – esporao.com/pt
Herdade do Sobroso
Quanto – Diária a partir de 250 euros (R$ 1.600)
Reservas – herdadedosobroso.pt
Vila Galé Alentejo Vineyards & Olive
Quanto – Diária a partir de 130 euros (R$ 832)
Reservas – vilagale.com/pt
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