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Líderes de direita no mundo se unem, mas têm diferenças



Com o retorno de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, líderes mundiais da direita preparam-se para celebrar a posse dele em 20 de janeiro de 2025. O evento promete ser a confraternização histórica entre figuras distintas, que têm sido os protagonistas de uma crescente onda da direita global.

Unidos na oposição à esquerda e ao chamado globalismo, esses chefes de Estado – atuais, iminentes ou recém-saídos do poder – compartilham uma visão similar de mundo, mas diferem em prioridades, estratégias e estilos. Suas trajetórias, moldadas por contextos geopolíticos e realidades variadas, refletem um movimento coeso na retórica e heterogêneo no conteúdo.

Enquanto fortalecem a rede internacional de apoio mútuo e influência, tais personagens, quase sempre rotulados pela imprensa de “extremistas”, exercem papéis no cenário em transformação. Trump encabeça o grupo que inclui Jair Bolsonaro (Brasil), Javier Milei (Argentina), Giorgia Meloni (Itália), Nayib Bukele (El Salvador), Viktor Orbán (Hungria), entre outros.

Esses líderes classificaram a vitória de Trump como histórica e de impacto global. Milei, primeiro deles a se reunir com o republicano após sua eleição, foi tratado como “meu presidente favorito”. O presidente argentino até anunciou desejo de negociar acordo de livre comércio com os EUA. Jair Bolsonaro e aliados próximos viram, por sua vez, a chance de que a relação construída com o republicano influencie no seu projeto político doméstico.

Cada um, a seu modo, aposta na continuidade e consolidação da agenda da direita, defendendo valores tradicionais e resistentes a pautas progressistas. Segundo especialistas consultados pela Gazeta do Povo, embora existam diferenças entre eles, todos acreditam estar conectados às mesmas expectativas e crenças arraigadas de seus eleitores.

Líderes da direita pelo mundo

Donald Trump (Estados Unidos) – Após vencer as eleições presidenciais de 2024, Donald Trump retornará à Casa Branca, consagrando grande influência na política americana e global. Sua vitória foi celebrada por líderes de direita ao redor do mundo, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Jair Bolsonaro (Brasil) – O ex-presidente brasileiro, apesar de inelegível até 2030 e ser alvo de três indiciamentos, mantém base de apoio significativa. Ele tem manifestado em público a esperança de fortalecer seu grupo com o retorno de Trump ao poder, além da ascensão da direita na Europa e América Latina.

Javier Milei (Argentina) – Economista ultraliberal, Javier Milei foi eleito presidente da Argentina no fim de 2023 em meio à grave crise econômica. Tem tocado ousada agenda de austeridade e desestatização enquanto se aproxima dos líderes mundiais de direita.

Giorgia Meloni (Itália) – Giorgia Meloni, primeira-ministra italiana e líder do partido de direita Irmãos da Itália, tem fortalecido sua posição na política europeia. Ela tem focado seu discurso na defesa da família, em especial da maternidade. Agora, busca uma aliança estratégica com os Estados Unidos.

Viktor Orbán (Hungria) – Primeiro-ministro húngaro desde 2010, Orbán é conhecido pela postura nacionalista e conservadora, incluindo medidas rigorosas contra a imigração e reformas judiciais controversas. Ele tem influenciado movimentos de direita em toda a Europa.

Marine Le Pen (França) – Líder do Reunião Nacional, ela é um dos principais nomes da direita na Europa. Após perder a Presidência de 2022, manteve a base de apoio, focando em imigração, segurança e críticas à União Europeia. Neste ano seu partido ficou perto de formar o bloco parlamentar majoritário.

Benjamin Netanyahu (Israel) – O primeiro-ministro de Israel, líder do partido Likud, voltou ao poder em 2022 após breve afastamento. Figura central na política israelense há décadas, ele tem implementado mudanças no sistema judiciário e reforçado a linha-dura em questões de segurança e diplomacia.

Andrzej Duda (Polônia) – O presidente polonês é figura importante no grupo de líderes conservadores europeus. Defensor de valores familiares e de rigidez em relação à imigração e à soberania nacional, ele sofreu em 2023 um revés político ao ver a eleição de um primeiro-ministro de esquerda.

Nayib Bukele (El Salvador) – O presidente salvadorenho Nayib Bukele continua sendo figura controversa. Conhecido por políticas duras de segurança, pelo uso ativo de redes sociais e aposta em criptomoedas, ele mantém altos índices de aprovação, apesar das críticas internacionais.

Especialistas veem pontos de proximidade e divergência entre líderes da direita

Para Daniel Afonso da Silva, pesquisador de Relações Internacionais da USP, a ascensão de líderes como Trump, Milei e Bolsonaro reflete o desencanto popular com a ineficácia dos governos e o impacto do globalismo, embora cada caso tenha particularidades.

“Nos EUA, o fenômeno Trump está ligado à reação contra aspectos negativos da globalização, especialmente em relação à China. Na Argentina, Milei simboliza o descrédito na classe política. Já Bolsonaro é considerado um caso distinto: apesar de tensões com a China, não compartilha a mesma visão de perdas causadas pela globalização e, no Brasil, a questão migratória tem menos peso do que na Europa ou nos EUA”, explica.

Silva destaca semelhanças de Bolsonaro com outros líderes da direita global em temas como liberalismo econômico e agenda de costumes, mas aponta diferenças. “Ele representa o Brasil profundo, com apoio popular elevado, mas nem sempre alinhado totalmente a essa agenda”, conclui.

Natalia Fingermann, professora de Relações Internacionais da ESPM, destaca que a vitória de Trump reforçou a oposição da direita global a organismos multilaterais, como o G20 e a ONU.

Ela também aponta a singularidade do presidente Nayib Bukele, de El Salvador, que promoveu o uso de criptomoedas como estratégia de desenvolvimento econômico. Desde a eleição de Trump, o Bitcoin valorizou-se substancialmente, puxado pelo otimismo de investidores diante do apoio do americano ao setor e pela indicação de Elon Musk para seu governo. Em El Salvador, o Bitcoin tornou-se moeda de uso corrente em 2021, mas Bukele reconheceu que a adoção popular foi limitada, embora os ganhos financeiros tenham sido relevantes.

Adriano Gianturco, coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec-BH, destaca essa ampla diversidade de posicionamentos no espectro da direita global. Ele também indica dois como mais dissonantes: Bukele, com política monetária inovadora, e Milei, com redução do Estado para enfraquecer burocratas e impedir uso político da máquina pública.

Gianturco cita ainda Recep Erdogan, da Turquia, e diz que a clássica divisão binária entre esquerda e direita mostra-se pouco aplicável em contextos fora do Ocidente.

Sobre Bolsonaro, o professor questiona a profundidade de seu compromisso com o liberalismo econômico, embora tenha nomeado o liberal Paulo Guedes para liderar a política econômica durante seu governo.

Líderes de Portugal e Espanha esperam figurar como destaques da direita global

Na fila para entrar no grupo de destaques da direita no mundo, Santiago Abascal, líder do partido espanhol Vox, defende o combate à imigração ilegal e a promoção de valores tradicionais. O Vox tem obtido crescente apoio e influenciado o cenário político, como parte do fenômeno de fortalecimento dos conservadores na Europa.

Outro aspirante é André Ventura, líder do partido português Chega, fundado em 2019. A legenda obteve nas eleições de março 18,1% dos votos, levando 50 cadeiras na Assembleia da República, quadruplicando a representação anterior. Conhecido por posições duras sobre imigração, é hostil ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem prometeu prender.

Eleição de esquerdista no Uruguai destoa na América do Sul

A eleição de Yamandú Orsi, do partido de centro-esquerda Frente Ampla, para a Presidência do Uruguai é um contraponto à recente ascensão global de forças de direita. Em novembro, Orsi venceu o segundo turno com 49,8% dos votos, superando Álvaro Delgado, representante da direita que alcançou 45,9%. Sua vitória marca o retorno da esquerda ao poder no país, sucedendo Luis Lacalle Pou, da direita.

Especialistas observam que, apesar de a onda da direita predominar em várias partes do mundo, a América Latina mantém dinâmica diversa, refletindo contextos nacionais. A eleição municipal do Brasil em 2024, por exemplo, esvaziou a esquerda, fortaleceu a direita e, sobretudo, deu ainda mais espaço para o centro.



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