Você pretende brindar a entrada de 2025 com um champanhe? Champanhe de verdade, aquele produzido na região francesa de Champagne, é caro. Eu sei. O Brasil produz ótimos espumantes a preços muito bons. Também sei. Porém, se sua resposta à minha pergunta for positiva, é importante que saiba que a região de Champagne vive hoje uma revolução. Se sua resposta for negativa, também recomendo a leitura dos parágrafos abaixo, por uma questão de cultura geral.
A região de Champagne sempre foi dominada pelas grandes maisons, grandes marcas familiares até para quem não entende nada de vinhos. Nas últimas décadas, no entanto, o número de pequenos produtores (vignerons) de muita qualidade cresceu muito. E hoje importadoras boutique, como a de la Croix, a Anima Vinum, a Tanyno e a Cellar, estão trazendo vários deles para o Brasil.
Na verdade, os champanhes das grandes maisons e os de vignerons são produtos bastante diferentes. Cada um deles tem sua arte. Nas grandes maisons, a grande arte reside na assemblage (combinação) de um número enorme de vinhos-base feitos a partir de uvas de diversas propriedades de várias sub-regiões de Champagne, de safras diferentes, a maior parte delas compradas de terceiros. A partir de centenas de parcelas, o chef de cave chega ao resultado desejado.
No caso dos cuvées de entrada, o objetivo é atingir as mesmas características de nariz e de boca todos os anos. O Veuve Clicquot Brut de rótulo amarelo é sempre o mesmo, aquilo que reconhecemos como um Veuve Clicquot. O mesmo se passa com o Möet & Chandon Brut Imperial. Não é à toa que esses champanhes são conhecidos como signature (assinatura) cuvées.
Já os pequenos produtores trabalham com uvas próprias de diferentes parcelas, que costumam estar espalhadas pela região, mas que, ainda assim, não representam uma diversidade tão grande. “Não pratico assemblage como as grandes maisons”, diz Françoise Bedel, proprietária do Domaine Champagne Françoise Bedel, uma pequena casa da região do Vallée de la Marne, onde predomina a uva pinot meunier.
Françoise, que esteve em São Paulo para um jantar promovido pela Anima Vinum, compara seu trabalho com um bordado fino.”Vinifico cada pequena parcela separadamente”, conta a produtora biodinâmica. “Depois faço a assemblage delas. O meu foco é em expressar o terroir. Mais parecido com o dos vignerons da Borgonha.” A sua arte é a de traduzir o seu terroir.
Entre os pequenos vignerons, é comum também usar toda a produção de uvas de uma safra para elaborar os cuvées daquele ano – ainda que nem sempre esses cuvées levem a denominação “vintage”, que indica que aquele champanhe é safrado. “Guardo o termo vintage para as safras que são realmente especiais”, diz Françoise.
O preço desses champanhes de pequenos vignerons regula com o das grandes maisons. E ambos os grupos produzem coisas deliciosas. Certo, no caso das linhas de entrada, dos rótulos mais baratos de cada grupo, os pequenos apresentam mais qualidade, mas quando o preço vai subindo e as cuvées se tornando mais especiais, fica difícil dizer o que é melhor. Na minha opinião, o interessante dos pequenos é a diversidade. Gosto de ser surpreendida. Fui outro dia a uma degustação de champanhes da de la Croix, onde provei até um champanhe 100% pinot blanc, o que é bastante raro. A maioria dos champanhes hoje são feitos de pinot noir, chardonnay e pinot meunier. Por ser de outra uva, tinha aromas pouco comuns nos champanhes, como frutas tropicais. Vive la diversité!
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