“Leva aqui um saquinho para botar pão de queijo“, aconselha Flávia Vieira, 42, dona pousada Aqualume, ciente da hospitalidade que o visitante encontra ao passear por Delfinópolis, cidade com cerca de 7.000 mil habitantes e um dos nove municípios produtores oficiais do queijo Minas artesanal, na Serra da Canastra.
Simpatia, um queijo que é patrimônio da humanidade, dezenas de cachoeiras cristalinas e paisagens tão bucólicas quanto embasbacantes são um resumo do que se vê na cidade.
Os ares de roça e as paisagens intocadas estão em toda parte, e o turismo calcado na gastronomia ganha força com o reconhecimento do queijo como patrimônio cultural imaterial pela Unesco.
Quem está acostumado a realizar viagens com intenções pantagruélicas, porém, pode se espantar se comparar o passeio aos praticados hoje na Serra da Mantiqueira. A começar pelos preços. A visita a uma queijaria, com degustação que inclui peças premiadas, sai por apenas R$ 20 ou R$ 35 reais em Delfinópolis.
No sítio Lá da Serra, harmonizações de cervejas artesanais com queijo Canastra são o mote do almoço queijeiro oferecido em quatro etapas pela agrônoma Flávia Ferreira, 37. Para o dia a dia, restaurantes servem pratos como tutu de feijão, frango com quiabo, angu, tilápia com crosta de fubá, entre outros da cozinha regional.
COMO CHEGAR
O aeroporto mais próximo da cidade localizada no sudoeste mineiro é o de Ribeirão Preto (SP), a 173 km de distância. De Belo Horizonte, gasta-se um pouco mais de seis horas de viagem, mais do que as cinco horas e quarenta minutos que levam os paulistas.
No município de Cássia, uma balsa atravessa o rio Grande –o mesmo que corta Capitólio– para chegar a Delfinópolis. Outra opção é a BR-464, com trechos longos sem asfalto. Prefira a balsa, o percurso dura cinco minutos e a travessia é um convite para conhecer as águas da região.
Para mergulhar em uma das oito cachoeiras do Complexo Paraíso, dentro do Parque Nacional da Serra da Canastra, paga-se R$ 30. O local conta com trilhas bem sinalizadas, restaurante com fogão à lenha, estrutura com vestiários e pousada.
O valor é o mesmo para visitar a cachoeira do Zé Carlinhos, que conta com prainha natural e sombras de árvores para esquecer dos problemas entre um banho e outro. Como se não bastasse a paz, um bônus: nos meses mais quentes, a água não fica gelada, apenas refrescante.
No habitat de animais ameaçados de extinção, como tamanduá-bandeira, pato-mergulhão e tatu-canastra, o visitante conhece ainda o Caminho do Céu, pico a cerca de 1.200 metros de altitude de onde é possível avistar a imponente Serra Preta, a Serra do Cemitério e os vales da Gurita e da Bateia.
No caminho, o Condomínio de Pedras impressiona com formações rochosas que atraem trilheiros, fotógrafos e observadores de aves.
O recomendado é fazer este passeio em um veículo 4×4. Na cidade, há guias credenciados que enriquecem a experiência com histórias sobre manifestações culturais e religiosas locais, como as folias das Almas e a de Reis, e ensinam sobre conscientização ambiental.
O pensamento ligado à sustentabilidade aparece também no trabalho das “arteiras” da cidade, segunda maior produtora de banana de Minas Gerais. Em um ateliê no centro, as artesãs Nailce Geralda, 55, e Letícia Rosa, 50, contam que aproveitam tudo o que vem da fruta para produzir enfeites, lustres, quadros e até papel feito a partir da fibra.
Não muito distante dali, outra opção é apreciar as cerâmicas esmaltadas da artista Cris Sgobbi, que aplica técnicas japonesas aprendidas na Itália para confeccionar pratos, fruteiras de mesa, canecas, entre outros objetos.
Para quem sentiu falta de um “cafezim“, pode degustar os microlotes especiais Serra Preta e Bendita Porcelli, produzidos respectivamente pelos paulistas Ana Trindade, 61, ex-executiva da Coca-Cola, e Valdemar Bruni, 58, ex-hoteleiro de Itu (SP).
Desfrutar do café com queijo e biscoitos e visitar o local, de onde se aprecia uma das vistas mais deslumbrantes no pôr-do-sol, custa R$ 35, mesmo valor do pacote de 500g para levar para casa, moído ou em grãos.
ONDE FICAR
Casa Erva Doce – pontos altos: vista, café da manhã e hidromassagem privativa. Quanto: a partir de R$ 990 a diária para duas pessoas, com café da manhã (não aceita crianças). Onde: BR 464, km 2,5, zona rural, Delfinópolis, MG.
Pousada Aqualume Cachoeiras – pontos altos: café da manhã, cachoeira na propriedade. Quanto: chalé completo a partir de R$ 420, com café da manhã. Onde: BR 464, km 2,5, zona rural, Delfinópolis, MG.
Pousada São José da Canastra – pontos altos: localização central, café da manhã e limpeza. Quanto: a partir de R$ 600 a diária para duas pessoas, com café da manhã. Onde: r. José Abraão Pedro, 313, centro, Delfinópolis, MG.
Encantos do Cerrado – pontos altos: vista e cafés especiais no local. Quanto: a partir de R$ 450 a diária para duas pessoas, com café da manhã (não tem ar condicionado). Onde: estrada Delfinópolis – Glória (BR 464) – Serrinha, 2 km a partir do trevo.
Pousada Complexo Paraíso – pontos altos: fica dentro do parque nacional, com oito cachoeiras. Quanto: a partir de R$ 400 para duas pessoas. Onde: estrada para São Batista do Glória, km 5, Delfinópolis, MG.
SERVIÇO
Passeio com veículo 4×4 – Canastra Running – a partir de R$ 220/pessoa para passeios compartilhados de dia inteiro. Valor inclui todos os trajetos, água e degustações nas queijarias. Almoço e entrada em cachoeiras não gratuitas são pagos à parte.
Outros serviços: Secretaria de Turismo, Esporte, Lazer e Cultura. Tel.: (35) 3525-1662.
A jornalista viajou a convite da Secretaria de Cultura do Governo de Minas Gerais.
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