A experiência dura pouco, mas é daquelas que de tão diferentes você vai contar por aí por um bom tempo.
Em Park City, nos EUA, o que para a maioria das pessoas de países calorentos não passa de algo exótico ou até cômico, no estilo “Jamaica Abaixo de Zero”, torna-se realizável. Lá, é possível dar uma volta de bobsled.
Sede dos Jogos de Inverno de 2002, a cidade mantém um parque olímpico desde então, não apenas para preservar a sua história, mas também porque em 2034 voltará a abrigar as Olimpíadas, uma vitória muito celebrada por um município de 8.300 habitantes cuja economia é baseada no turismo de esportes de neve.
Ainda que seja um destino conhecido dos americanos, Park City não é um daqueles cartões-postais óbvios que vêm à mente quando estrangeiros pensam em esqui, como acontece com Aspen e Bariloche. Agora, a chance de voltar a receber parte do evento esportivo oferece uma nova vitrine à cidade, casa por mais de 40 anos do festival de cinema de Sundance, o mais tradicional entre os eventos de filmes independentes.
Além de áreas para treinamentos, o parque olímpico conta com um museu que mostra como uma região de mineração de prata virou um destino turístico e exibe o elo do município com Salt Lake City, capital de Utah e principal sede dos Jogos —o aeroporto fica a 50 km de Park City, e o trajeto até a cidade leva 40 minutos.
É no parque olímpico que visitantes com mais de 13 anos e ao menos 45 kg podem sentir, por US$ 225 (R$ 1.360), o que é estar num trenó de bobsled, numa pista cheia de curvas e a uma velocidade que atinge 100 km/h. A marca pode parecer razoável —há montanhas-russas que superam os 200 km/h—, mas a sensação durante a experiência é de que tudo em volta se movimenta de maneira muito, muito, muito mais rápida.
Na verdade, os momentos antes de entrar no carro é que assustam, porque as orientações são passadas enquanto uma TV mostra outras pessoas fazendo a descida, e tudo parece vertiginoso. Pior, você descobre que a proteção se resume a um capacete, sem cinto de segurança. Mas na verdade faz sentido: no esporte para valer, os atletas empurram o trenó e saltam dentro dele. Quando se acomodam, já estão ladeira abaixo.
Também há razões físicas, mas na hora a mente não entende o óbvio. É confiar no capacete de motoqueiro e na dica de manter os ombros perto das orelhas e os braços parados, com as mãos segurando cordinhas nas laterais do veículo —o que garante uma descida bem estável. O trajeto leva um minuto, e no caminho dá para curtir as curvas e o visual. Depois, é rir do vídeo gravado —e vendido, claro, por US$ 25 (R$ 150).
O bobsled é só uma das opções que Park City oferece. No topo, estão o esqui e o snowboard, atividades que atraem milhares à cidade, em parte devido à qualidade da neve, “a melhor do mundo”. Seja o slogan preciso ou não, a baixa umidade ali impede que os flocos se grudem, o que deixa a neve fofa, propícia para a prática dos esportes. Para tal, turistas dispõem de estações como as de Deer Valley e Park City Mountain.
Deer Valley
Altura 2.917 m
Área para esqui 9,42 km²
Teleféricos 24
Pistas 122 (30% de nível iniciante, 44% intermediário e 26% avançado)
Quantidade anual de neve, em média 762 cm
Park City Mountain
Altura 3.056 m
Área para esqui e snowboard 29,5 km²
Teleféricos 40
Pistas mais de 330 (8% de nível iniciante, 42% intermediário e 50% avançado)
Quantidade anual de neve, em média 597 cm
Em ambos os resorts, iniciantes podem fazer aulas, até em português. Em Deer Valley, a reportagem ficou na classe de um instrutor de esqui com ascendência guatemalteca e que viveu em Madri. Por isso, ele fala espanhol fluente, além de ter um nível admirável de português, sobretudo para quem diz ter contato com o idioma por apps de ensino e músicas do rapper Black Alien, uma maneira heterodoxa de aprender a língua.
Dominar os esquis e o snowboard leva tempo, óbvio, mas em menos de uma hora até os menos jeitosos conseguem se arriscar em descidinhas. Depois, com o básico decorado, dá para pegar o teleférico até um ponto mais alto da montanha —um trajeto que, por si só, já oferece um espetáculo visual— e fazer descidas divertidas, enquanto esquiadores e snowboarders experientes passam ao lado, um outro espetáculo visual.
Quem é versado nesses esportes, aliás, vai se sentir na Disneylândia. Deer Valley tem 122 pistas, acessíveis por 24 teleféricos, e Park City Mountain, 40 teleféricos e 330 pistas, 92% das quais para usuários de níveis intermediário e avançado. Serviços de aluguel de equipamentos estão disponíveis em ambas as estações.
Também nas duas montanhas, os instrutores foram bem cautelosos com os alunos. Mas acidentes podem ocorrer, e é crucial ter um seguro que cubra ocorrências do tipo, sobretudo nos EUA, onde usar o sistema de saúde pode gerar faturas pesadas. Os resorts levam quem se machucou ao hospital; depois, a conta é sua.
Assim, se a ideia é se aventurar numa atividade de baixo risco, a cidade ainda oferece o parque Woodward, um complexo com áreas para diversas práticas, entre as quais tubing, em que é possível deslizar em pistas de gelo em boias. A brincadeira, que pode ser realizada individualmente ou em grupo, conectando até sete pessoas, proporciona uma descida divertida, de velocidade moderada e que pode ser repetida várias vezes.
Outra diferença para resorts como Deer Valley e Park City Mountain são os percursos para fazer manobras de esqui e snowboard com corrimões iguais aos de uma pista de skate. Woodward também tem espaços cobertos, com camas elásticas e um skate park, o que dá uma pista de como os moradores buscam matar a abstinência dos esportes de inverno nos períodos sem neve —no verão, Park City se adapta ao mountain bike e ao hiking, e há concertos ao ar livre. A Main St., no centro, é fechada para abrigar um mercado de rua.
Do olímpico bobsled à brincadeira com boia, turistas têm na cidade uma gama de opções para conhecer ou praticar com desenvoltura atividades que são incomuns ou inexistentes por aqui. E tudo com um cenário belíssimo no entorno. As montanhas são tão, mas tão perfeitas que se parecem com um descanso de tela.
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