Chego hoje a Belo Horizonte para viver o Carnaval que, dizem da boca miúda àquela que a gente bota no trombone, está encantando o Brasil todo. Um mineiro voltando às suas festas de infância.
Com a diferença de que, quando eu era criança, Carnaval era mesmo em Uberaba, usando bisnagas para jogar água pelas janelas dos carros que paravam no alto da Senador Pena.
Na adolescência, as matinês do Jockey Club nos faziam imaginar que éramos adultos e, entre discretas borrifadas de lança-perfume, já proibidíssimo nos anos 1970, vivíamos um Carnaval de verdade.
Um grande hiato carnavalesco cruzou minha juventude, com um agravante: depois da minha estreia nesta Folha, em 1987, passei a encarar esta época do ano mais como um plantão do que uma possibilidade de folia.
Aí em 1997, escalado para apresentar o Fantástico do domingo de Carnaval, me vi diante de uma possibilidade: experimentar a festa carioca de perto, ao menos na segunda e terça. Foi um caminho sem volta.
Eu costumava dizer que minha escola de samba do coração era a que sai na madrugada de domingo para segunda: depois do programa eu ia direto da TV Globo, no Jardim Botânico, para a Sapucaí. Muitas vezes já com a fantasia…
Foram 22 desfiles, no chão, nos carros, de camisa de diretoria e até na nobre categoria de inspirador de um enredo, quando a Padre Miguel saiu celebrando Elza Soares com base na biografia que eu havia escrito sobre essa estrela maior.
Na sequência, dois anos enlouquecidos em Salvador, no circuito Barra-Ondina, na incrível cobertura do Band Folia, cujas experiências já compartilhei neste espaço. E agora, Beagá.
Não sem antes passar por um outro Carnaval famoso, que é o de Recife. Eu nem tinha me programado, mas um convite de última hora para ver Alceu Valença levar seu Bloco Bicho Maluco Beleza me pareceu irresistível. Fui.
De bônus pude matar as saudades das ladeiras de Olinda, onde, oito anos atrás, virei meme ao fazer mosh numa discotecagem da maga DJ Lala K, depois de um ensaio do bloco Eu Acho É Pouco.
Desta vez acompanhei o Tá Maluco e rodei os famosos Quatro Cantos, carregado pelo afeto pernambucano, pelo frevo contagiante e contando com uma boa garrafa de Gintrão, que acho melhor nem explicar o que é.
A manhã tórrida foi se transformando numa tarde escaldante já em Recife, quando me vi em cima do Bicho Maluco Beleza, com a certeza de que o bloco tinha esse nome em minha homenagem.
Ao som de Alceu (e de Elba e de Juba e de Martim), acompanhado por um incrível produtor cultural, Bidu Alvez, que me explicava as ramificações atuais do mangue beat, e seguido por um tapete humano de alegria —eu simplesmente enlouqueci.
Estava no melhor Carnaval do Brasil? Quem pode responder isso é o próprio folião brasileiro. É ele (você?) que vai se jogar pelas ruas deste país e dar o veredito.
Eu mesmo vou definir meu voto depois de BH. Onde, sim, estarei mais uma vez me arriscando numa discotecagem. Lembrando, como brincam comigo meus amigos de Belém, que eu não sou DJ. Sou carregador de aparelhagem.
E que a gente se divirta!
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