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Choco, ex-Athletico e Coritiba, vive recomeço no futsal


O ex-atacante Choco, revelado pelo Athletico e com passagem ainda na base por Coritiba e seleção brasileira, chegou ao fundo do poço quando teve contato com bebida e drogas. Aos 35 anos, o jogador vive um novo recomeço na carreira e também na vida.

Choco voltou para as origens em Paranaguá e vai jogar futsal pela Apaf, que disputa a Série Bronze do Campeonato Paranaense. A oportunidade para sair do mundo das drogas veio com o amigo e técnico Maykon Zara, em uma conversa informal no final do ano passado.

“Eu sou conhecido em Paranaguá. Apesar de entrar na vida ruim, eu sempre estava na vida do futebol. Tenho amigos que já jogaram na Apaf e ia torcer por eles. O convite veio do técnico Maykon Zara. Vale ressaltar o que ele e a família dele fizeram por mim. Estava sob efeito de droga no ano passado e lembro dele entrando. Ele me convidou para a Apaf e disse que sabia da minha índole”, lembrou Choco, em entrevista ao UmDois Esportes.

Choco, ex-atacante de Athletico e Coritiba

“Eu aceitei, mas ele me deu uma condição de que precisava ser internado de novo para desintoxicar. Fui em 04 de janeiro e fiquei na comunidade terapêutica. Em um domingo, ele foi me buscar e falou que ia começar a pré-temporada. Estão sendo as três melhores semanas da minha vida e não troco por nada. Estou focado e feliz. A diretoria ainda falou que se não ganhar, mas me recuperar, já tinha ganhado o ano. Estou vendo uma luz no final do túnel, fazendo o que gosto e com pessoas que acreditam em mim”.

Choco teve poucas oportunidades no Athletico e viveu solidão na Europa

Destaque nas categorias de base do Coritiba, Choco foi para o Athletico em uma negociação que envolveu muita polêmica. A transferência dele e do lateral-direito Raul gerou farpas públicas entre os presidentes Giovani Gionédis, do Coxa, e João Antônio Fleury, do Rubro-Negro.

Quando subiu para o profissional, em 2008, o atacante disputou apenas duas partidas pelo Athletico e não teve uma sequência. “Isso acabou me frustrando. Não tem uma receita certa, mas eu assumo 60% de culpa. Não que eu não era profissional, eu me dedicava nos treinos, mas dei azar. Era mais difícil subir para o profissional e falavam que precisava de transição e experiência. Eu respondia que ‘se não me colocarem para jogar, não vou ter experiência’. Não gostavam dessa reação”, lamentou.

“Não vou citar nome, mas escutei da boca de um diretor que era um baita jogador, mas era jogador da oposição e não ia jogar. Terminei o noivado, comecei a sair e beber, e as portas começaram a fechar. O Athletico tem muito jogador bom e a minha geração foi passando”, acrescentou o ex-atacante.

Choco viveu com problemas extracampo não apenas no Athletico, mas quando jogou em Portugal e na Alemanha. Quando voltou para o Brasil, ele tentou uma nova oportunidade no Rubro-Negro e ainda jogou no Inter de Lages e no CRAC-GO. A carreira no futebol terminou em 2016.

Alegria de voltar ao futsal

Mais de oito anos após o fim da carreira no futebol, Choco sofreu novamente com a dependência química, mas tem a chance de recomeçar onde tudo iniciou: o futsal. A Apaf está em pré-temporada em Paranaguá e estreia no final de semana de 22 de março.

“Significa alegria. Não sou merecedor, mas é uma coisa que sempre pedi em oração. Apesar de estar no mundo das trevas, eu sempre fui um cara de luz e alegre. Eu fiz mal para pessoas que me amam e até quem não me conhecia, mas me viram na rua em estado ruim. Nunca fiquei em situação de rua porque minha família nunca me abandonou. A oportunidade está aí, no que eu sei fazer e onde me sinto bem. Vai dar certo desta vez e Deus capricha. Tem tudo para dar certo”, falou o agora jogador de futsal.

Confira a entrevista na íntegra com Choco, ex-atacante de Athletico e Coritiba

Troca do Coritiba pelo Athletico nas categorias de base

Choco: Na época, muita gente acompanhou pela imprensa, não tinham as redes sociais, e movimentou bastante. Foi momento ímpar na minha vida e na do meu amigo Raul. Nós tínhamos 15 anos e poderíamos assinar contrato profissional com 16 anos. Eu me destaquei no futsal e recebi convite do Coritiba. Treinava futsal de manhã e campo de tarde. Comecei a ser lapidado, fiquei seis anos no Coritiba e recebi essa proposta do Athletico.

Raul já tinha sido convocado para a seleção brasileira sub-15 pelo Coritiba e eu ainda não. O Athletico veio para Paranaguá, fez uma proposta para a minha família a princípio para conhecer a estrutura. Isso foi depois de um campeonato que disputamos em Londrina pelo Coritiba. Raul se machucou e já voltou tratando no Athletico. Eu já estava meio saturado do Coritiba, sou grato ao clube e lembro até hoje, mas eles ‘comeram mosca’ de não lapidar. Os colunistas diziam que o pessoal da época na categoria de base ‘comeu bola’ em não assinar contrato profissional com a gente. Nós éramos joias a serem lapiadadas e eles não prenderam com contrato.

O Athletico veio até Paranaguá e ofereceu proposta. Fui conhecer, me apaixonei pela estrutura e foi um amor à primeira vista. A adaptação foi difícil, os Atletibas eram difíceis, porque sempre provocava e ia para cima. Mas foi questão de tempo. Assinei contrato profissional aos 16 anos, fui convocado para a seleção e tive evolução física muito grande no Athletico. Foi uma passagem muito bacana da minha vida e mexeu com o Paraná.

Reação do Coritiba com a ida para o Athletico

Choco: Deu o que falar. Salvo engano, o presidente do Athletico era o Fleury e o Petraglia estava no Deliberativo. E no Coritiba era o Gionédis. O Gionédis entrou em contato com a minha família, mandou diretor na casa dos meus pais, mas já estava no CT do Caju. Os caras ficaram loucos. O Cláudio Marques e o falecido Dirceu Krüger eram os coordenadores da base [do Coritiba]. Eu fui sincero. O Gionédis acusava o Petraglia de roubo e eles se defendiam baseado na lei. Eu realmente escolhi, mas eles vieram com o cardápio. Quando acontece com a gente, pega todo mundo de surpresa.

Poucas chances no Athletico

Choco: Isso acabou me frustrando. Não tem uma receita certa, mas eu assumo 60% de culpa. Não que eu não era profissional, eu me dedicava nos treinos, mas dei azar. Era mais difícil subir para o profissional e falavam que precisava de transição e experiência. Eu respondia que ‘se não me colocarem para jogar, não vou ter experiência’. Não gostavam dessa reação na diretoria e o treinador.

Ainda teve mudança de diretoria no Athletico. Não vou citar nome, mas escutei da boca de um diretor que era um baita jogador, mas era jogador da oposição e não ia jogar. Terminei o noivado, comecei a sair e beber, e as portas começaram a fechar. O Athletico tem muito jogador bom e a minha geração foi passando.

Segunda passagem pelo Athletico e “fundo do poço”

Choco: Entre 2012 e 2014, eu fui para a Europa e joguei em Portugal e na Alemanha. Infelizmente, eu sou dependente quimíco, estou em recuperação hoje em dia. Eu acabei me frustrando, entrei em depressão antes da Copa do Mundo e abandonei tudo no União da Madeira. Bebia demasiadamente, comprava vinho porque era frio e tomava em uma hora. Não era normal, batia a depressão e falei para a minha família que não estava bem. Não estava jogando, treinava bem, apesar de não estar bem fora de campo. Ouvia no vestiário que jogava muito e não sabia porque o treinador não colocava para jogar. Não quero me defender, mas não tive uma sequência. Onde eu mais joguei foi na quarta divisão da Alemanha.

Depois que abandonei em 2014 e voltei para o Brasil, eu me afundei na cocaína achando que ia resolver o problema e piorei. Perdi tudo que tinha conquistado. Em 2015, foi um pedido de socorro. Eu mandei um e-mail para o Petraglia, já tinha passado por uma internação em hospital psquiátrico em Curitiba e estava me desfazendo das minhas coisas. Entrei em contato com o Petraglia e ele ligou no celular do meu pai em menos de 24 horas. Estava até sem falar com ele porque a dependência química destrói tudo. Lembro que meu pai falou que queriam falar comigo e era o Petraglia que disse: “Eu li seu e-mail, me emocionei e vem para cá”. Vou comprar uma briga com o pessoal do clube, a gente sabe da sua história e vai ajudar.

Pode falar o que quiser, mas o Petraglia é um cara muito humano, pelo menos comigo foi. É um cara que gosta de ajudar. Falou que ia ficar três meses no CT, só treinando e se recuperando. Eu conhecia alguns funcionários que gostavam de mim e compraram a bronca. Comecei a treinar, evoluir e me dedicar. Depois dos três meses, eu já tinha assinado contrato. O Petraglia foi no CT, soube da minha evolução, mas não garantiu que ia jogar. Se não jogasse, eu seria emprestado.

O Milton Mendes me chamou e falou que ia treinar com o grupo principal. Estava treinando no grupo B e até treinei umas três semanas com o Walter. Ele subiu nós dois, mas deu duas semanas de treino, voltei para o grupo B e fui emprestado.

No Inter de Lages, tinha dois atacantes titulares, dois reservas e mais uns oito de fora. O treinador foi sincero comigo: “Não sei porque o Athletico mandou você para cá. Eu estou cheio de atacante e estou emprestando”. Aí é sacanagem demais. Liguei para o Petraglia, expliquei a situação para ele e a gente rescindiu.

Consegui ir para o CRAC, em 2016, mas entrava pouco. Quando achei que ia engrenar, nós fomos eliminados e o CRAC ficou sem calendário. Foi quando eu parei, a frustração voltou e voltei a usar droga. Foi o fundo do poço e tive mais uma sete ou oito internações. Sempre estive na luta e nunca desisti. Não tinha mais força e estava quase tirando a minha vida. As pessoas sempre me viam sorrindo na rua, fazendo piada, mas no fundo estava com vazio muito grande. Eu me encontrei com o Espírito Santo, estou feliz.

Reinício da carreira no futsal

Choco: Eu sou conhecido em Paranaguá. Apesar de entrar na vida ruim, eu sempre estava na vida do futebol. Tenho amigos que já jogaram na Apaf e ia torcer por eles. O convite veio do técnico Maykon Zara. Vale ressaltar o que ele e a família dele fizeram por mim. Estava sob efeito de droga no ano passado e lembro dele entrando. Ele me convidou para a Apaf e que sabia da minha índole.

Estava sem usar no dia seguinte que o Maykon voltou e ele perguntou se eu topava. Eu aceitei, mas ele me deu uma condição de que precisava ser internado de novo para desintoxicar. Fui em 04 de janeiro e fiquei na comunidade terapéutica. Em um domingo, ele foi me buscar e falou que ia começar a pré-temporada. Estão sendo as três melhores semanas da minha vida e não troco por nada. Estou focado e feliz. A diretoria ainda falou que se não ganhar, mas me recuperar, já tinha ganhado o ano. Estou vendo uma luz no final do túnel, fazendo o que gosto e com pessoas que acreditam em mim.

O que significa o retorno para o futsal

Choco: Significa alegria. Não sou merecedor, mas é uma coisa que sempre pedi em oração. Apesar de estar no mundo das trevas, eu sempre fui um cara de luz e alegre. Eu fiz mal para pessoas que amam e até quem não me conhecia, mas me viram na rua em estado ruim. Nunca fiquei em situação de rua porque minha família nunca me abandonou. A oportunidade está aí, no que eu sei fazer e onde me sinto bem. Vai dar certo desta vez e Deus capricha. Tem tudo para dar certo.

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