Morreu, neste domingo (2), José de Almeida (1938-2025), fundador do restaurante Mocotó, aos 86 anos. O restaurante, que fica na região norte de São Paulo, é conhecido por ter ajudado a ampliar as fronteiras da cozinha do sertão nordestino na capital paulista.
Seu Zé de Almeida, como carinhosamente foi apelidado, era pai de Rodrigo de Oliveira, chef que assumiu o negócio do pai e o transformou em um restaurante premiado, que atrai clientela de todo o país e de fora dele. Também era pai de Patrícia de Oliveira.
Em 1973, quando nasceu, o endereço era uma espécie de empório na Vila Medeiros, fundado por seu Zé e os irmãos para vender produtos de sua terra natal —eles vieram de Mulungu, no interior de Pernambuco, para fazer a vida em São Paulo.
O endereço, que se chamava Casa Irmãos Almeida, transformou-se em bar cinco anos mais tarde, quando os irmãos de seu Zé já haviam deixado a sociedade. Na época, seu Zé havia começado a servir ali receitas que logo viraram sucesso, em especial, o caldo de mocotó.
Rodrigo assumiu o comando do local em 2001, depois de desistir da faculdade de engenharia ambiental. Em histórias que têm um pouco de folclore, as mudanças foram, no início, a contragosto do pai. Rodrigo começou a usar ali técnicas aprendidas na faculdade de gastronomia que começou a cursar, fazendo melhorias como no processo de maturação da carne de sol, por exemplo.
Mas seu Zé, durante décadas presentes no dia a dia da casa, era sempre visto no salão e saudado por frequentadores assíduos.
Hoje, o Mocotó tem unidade na Vila Leopoldina, além de um café no Mercado de Pinheiros, e um restaurante no térreo do Instituto Moreira Salles, na avenida Paulista, chamado de Balaio. Também foi eleito o melhor restaurante brasileiro segundo o especial O Melhor de São Paulo – Restaurantes, Bares e Cozinha de 2024.
Receitas do restaurante se tornaram clássicos, como o dadinho de tapioca, a carne de sol e o baião de dois —além, é claro, do caldinho de mocotó.
Pai e filho foram figuras centrais para transformar a maneira como a cozinha do sertão nordestino era vista, ligada à pobreza, desprovida de recursos, sofisticação ou técnicas.
O registro dessa culinária na capital paulista tem início no começo do século 20, com a chegada de migrantes de diferentes pontos dessa região do país. Num primeiro momento, foi praticada no núcleo familiar e, aos poucos, se estendeu para a comunidade, como aconteceu com o Mocotó. O livro “Mocotó – O Pai, o Filho e o Restaurante” (ed. Melhoramentos) conta um pouco dessa história.
Zé Almeida deixa nove irmãos, dois filhos e sete netos. O velório será nesta segunda (3), das 7h às 12h, no Velório Salete, em Santana.
Deixe um comentário