O carro novo ficou 4,1% mais caro em 12 meses, em média, segundo a medição do IPCA-15, do IBGE. Já são cinco meses de aceleração no índice. Apesar disso, a tendência tem alguma chance de ser interrompida. Dois fatores principais podem influenciar esse cenário:
- os impactos das tarifas impostas pelos Estados Unidos à importação de veículos; e
- a retração da demanda interna devido ao aumento na taxa de juros.
Montadoras temem que carros destinados aos EUA invadam o mercado nacional e também o latino-americano, importante destino da produção brasileira – em 2024, os latinos compraram 76,5% das exportações nacionais do setor. Essa situação poderia levar a uma queda nos preços dos veículos novos, apontam especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo.
Marcelo Frateschi, líder automotivo e sócio de impostos da EY Brasil, observa que a queda nos preços também vai depender muito do comportamento da demanda. “Se esta não acompanhar a oferta, uma queda nos preços dos veículos é possível.” Em 2024, foram emplacados 2,2 milhões de veículos novos no Brasil.
Uma redução nos preços dos carros novos para os consumidores no acumulado de 12 meses seria algo inédito desde dezembro de 2020, apontam dados do IBGE.
Alta nas importações e queda nas exportações pode acentuar déficit
O aumento das importações e a redução das exportações de veículos têm o potencial de agravar o déficit na balança comercial da indústria automobilística e de autopeças. No ano passado, o saldo negativo chegou a US$ 11,2 bilhões, um crescimento de 87,3% em relação a 2023. O último superávit ocorreu em 2017. Somente em janeiro de 2025, o déficit foi de US$ 668,5 milhões.
As importações estão em alta. Em 2024, o Brasil registrou 466,5 mil emplacamentos de veículos importados, alta de 33% em relação ao ano anterior e o maior número em dez anos. O impulso foi dado pela chegada massiva de elétricos chineses.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) defende a necessidade de reequilibrar exportações e importações para a indústria nacional. Além disso, enfatiza a importância de fortalecer as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos.
“Isto é essencial para proteger a indústria nacional, os empregos e os investimentos projetados para 2025”, afirma Márcio de Lima Leite, presidente da associação.
O aumento das tarifas no comércio internacional pode elevar os custos de importação de peças, reduzindo a competitividade das montadoras brasileiras. “Além disso, a incerteza nas relações comerciais pode levar à retração de investimentos no setor, afetando a inovação e a capacidade produtiva local”, afirma Frateschi.
Por outro lado, ele aponta que a taxação elevada para veículos mexicanos e canadenses pode abrir oportunidades para as montadoras brasileiras ampliarem sua participação no mercado norte-americano.
Preço de carros novos pode ser afetado pela alta nos juros
Outro fator que pode afetar os preços é a alta na taxa de juros. A Selic está em 13,25% ao ano e o mercado projeta novos aumentos, podendo atingir 15% até dezembro, segundo as expectativas do mercado financeiro projetadas pelo boletim Focus do BC. “Isso pode retrair a demanda por aquisição de veículos novos”, ressalta Frateschi.
Em 2024, 46% dos emplacamentos de veículos leves foram financiados, um aumento de seis pontos percentuais em relação ao ano anterior. A taxa média de juros para financiamento de veículos também subiu: para empresas, passou de 1,3% ao mês em 2023 para 1,4% em 2024; para pessoas físicas, de 1,9% para 2,1%, de acordo com dados do BC.
Paulo Noman, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), avalia que 2025 será um ano especialmente desafiador para o crédito automotivo, devido ao cenário de juros elevados.
Expansão chinesa e transformações globais
Enquanto os Estados Unidos adotam medidas protecionistas, a indústria automobilística chinesa continua a expandir sua influência global, especialmente na América Latina, Caribe, África e Ásia. A China, maior fabricante e exportador de veículos do mundo, liderada por empresas como BYD e Geely, já supera Alemanha e Japão no mercado global, com forte presença no segmento de veículos elétricos.
Fabricantes tradicionais, como Volkswagen, BMW e Mercedes-Benz, enfrentam dificuldades devido à transição lenta para tecnologias sustentáveis e aos altos custos de produção. A previsão é que as montadoras chinesas dominem até um terço do mercado global ao fim da década.
Frateschi avalia que as tarifas impostas pelos EUA podem encarecer os veículos importados no mercado norte-americano, tornando-os menos competitivos em relação aos modelos fabricados localmente. No entanto, ele alerta que a sobretaxa sobre o aço importado, também implementada por Trump, pode aumentar os custos de produção para os fabricantes norte-americanos, reduzindo sua competitividade.
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