Entre 12 e 15 de março, Blumenau (SC) recebe pela 16ª vez o Festival Brasileiro da Cerveja, evento que inclui o Concurso Brasileiro da Cerveja.
Entre 12 e 15 de março, Balneário Camboriú (SC) recebe pela primeira vez o Festival Brasileiro da Cerveja, evento que inclui o Concurso Brasileiro da Cerveja.
Não é uma coincidência nem um metaverso cervejeiro, só a boa e velha treta local envolvendo um dos principais eventos de cervejas artesanais do país. E não em qualquer local, mas em Blumenau, cidade que detém desde 2017 o título oficial de capital da cerveja.
Para o consumidor despretensioso, a realização dos dois eventos no estado de Santa Catarina pode parecer apenas um lugar a mais e o aumento do alcance do público.
No entanto, nos bastidores do universo lupulado, os festivais homônimos no mesmo período expõem uma ruptura da Prefeitura de Blumenau com a Ablutec – Associação Blumenauense de Turismo, Eventos e Cultura, com o setor cervejeiro como efeito colateral. Afinal, soa no mínimo curioso ver uma empresa com “blumenauense” no nome difundir um evento em outro canto, que concorre diretamente com Blumenau.Presidente da Abracerva – Associação Brasileira de Cerveja Artesanal, Gilberto Tarantino lamenta a situação. “Essa divisão é muito ruim para o mercado como um todo, confunde as pessoas e mostra que a gente precisa ser mais unido.”
Essa confusão também atingiu jurados estrangeiros. Um sommelier europeu disse que aceitou o convite para ser jurado em Balneário Camboriú sem saber do imbróglio. E que preferia ter sido avisado antes de se comprometer.
A Abracerva terá um estande em Blumenau. “Recebemos uma proposta de parceria e estamos apoiando a associação de cervejarias locais, que tem o mesmo conceito da Abracerva”, conta Tarantino que pontua que não tem nada contra a Ablutec, mas que, obviamente, não seria possível estar em dois lugares ao mesmo tempo.
A história do festival
Criado em 2005 (em Blumenau) por Juliano Mendes, um dos fundadores da Eisenbahn —e hoje mais dedicado aos queijos—, o Festival Brasileiro da Cerveja teve apenas cinco cervejarias participantes em sua primeira edição, em uma época em que o mercado de artesanais ainda engatinhava.
Cinco anos depois, o empresário Valmir Zanetti, que tinha investido no Empório Vila Germânica —conjunto de lojas dentro do Parque Vila Germânica, que abriga a principal Oktoberfest do Brasil— procurava outros eventos que pudessem movimentar o calendário daquela área, e viu a volta do festival como uma boa oportunidade.
Na esteira do evento, o concurso —que distribui medalhas para as melhores cervejas do país em cada estilo— nasceu um pouco depois, em 2012, como um upgrade do festival.
Desde sua criação e até 2019, a organização do concurso era feito pela Science of Beer, passando nos dois anos seguintes para a Escola Superior de Cerveja e Malte, instituição sediada em Blumenau que promove cursos de ensino superior no setor, como o de engenharia de produção cervejeira.
Já a Ablutec passou a organizar o festival como um todo em 2015, com o apoio da prefeitura. De acordo com o site do evento de Blumenau, em 2021, a associação blumenauense deixou de ser uma organização social e passou a organizar o evento sozinha.
Neste ano, com acusações de dívidas e descumprimentos de lei de lado a lado, a prefeitura retirou a organização da Ablutec e passou para a Associação Capital Brasileira da Cerveja, que trouxe de volta a Escola Superior de Cerveja e Malte para coordenar o concurso do evento, realizado novamente no Parque Vila Germânica.
Enquanto isso, a Ablutec organiza um festival que ela chama agora de itinerante e que será realizado pela primeira vez no Balneário Camboriú.
O imbróglio
Em abril de 2024, pouco depois da 15ª edição, a Prefeitura Municipal de Blumenau resolveu retirar o controle do festival da Ablutec. A decisão teria sido motivada por débitos da organização com o Parque Vila Germânica, que abriga o evento em seus pavilhões.
Por sua vez, a Ablutec nega a dívida e diz, em nota que deveria ter recebido R$ 1 milhão, “repasse aprovado pelos vereadores e que nunca foi feito.” Afirma ainda que o ex-secretário de Turismo se comprometeu a não cobrar o aluguel dos pavilhões, como forma de abater a dívida. “Além de não cumprir sua palavra, começou a cobrar a Ablutec.”
A Ablutec diz que não há imbróglio e que trocou a sede devido ao que chama de cenário preocupante do setor na cidade. “Em menos de dois anos, muitas cervejarias fecharam as portas. Com isso, após pesquisas, notamos um mercado pulsante no litoral catarinense.”
Já o nome do Festival Brasileiro da Cerveja e do Concurso Brasileiro da Cerveja, de acordo com o Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), pertencem à Prefeitura Municipal de Blumenau, desde 2010.
“A marca Festival da Cerveja sempre foi propriedade da cidade de Blumenau. Durante um período, a prefeitura cedeu temporariamente seu uso à Ablutec, mas sem transferir qualquer domínio definitivo”, afirma o governo municipal em nota.
A Ablutec cita o mesmo Inpi para dizer que, de acordo com o instituto, “nomes com uso de expressão comum são de domínio público. Não estamos infringindo nenhuma determinação jurídica.”
Os festivais
O festival de Blumenau ressalta que está em sua 16ª edição (13ª do concurso). Com a nova administração, várias novidades foram adotadas com o intuito de aumentar e se aproximar do público no Parque Vila Germânica.
Neste ano serão mais de 200 cervejarias em estandes de tamanho padrão, mais democráticos —ao contrário dos superestandes do passado. Agora, quem comprar o ingresso para o evento terá degustação livre, estilo open bar, com rótulos de 18 estados, pelo valor de R$ 299, por dia. O festival acontece entre 12 e 15 de março, no pavilhão 2 do Parque Vila Germânica, das 17h às 21h.
Cervejarias conhecidas, como Dádiva, Cerveja Avós, Cathedral, 3 Orelhas, Schornstein, Alem Bier e Juan Caloto.
Além disso, o evento terá uma festa nos mesmos dias, das 19h30 às 2h, com shows musicais, área gastronômica e mais de 40 marcas de cerveja, incluindo as tradicionais Cozalinda e Bodebrown. O ingresso para a festa custa R$ 50, por dia, ou R$ 30 mais um quilo de alimento não perecível.
Ingressos para o festival ou para a festa podem ser encontrados no site: festivaldacervejablumenau.com.br. No Instagram, o perfil usa o nome @festivalbrasileirodacerveja.
No concurso, o evento de Blumenau aponta que quer priorizar a qualidade e o rigor para distribuir as medalhas. O evento tem cerca de 2.500 amostras inscritas e a participação de aproximadamente 70 jurados. O número é bem inferior às 4.147 amostras de 2024.
Já a primeira edição do evento em Balneário Camboriú terá 3.468 amostras e mais de cem jurados.
O evento prepara um Hall da Fama, que vai premiar personalidades do setor cervejeiro. No festival, aposta também em atrações musicais para atrair o público, com destaque para Gabriel o Pensador, que encerra o evento no sábado (15). A entrada para o festival, que será realizado no Expocentro de Balneário, custa de R$ 20 a R$ 50, disponíveis na plataforma Sympla.
No Instagram, o perfil usa o nome @festivaldacerveja. Não há site oficial.
“Espero que os dois festivais ocorram com tranquilidade, com alto astral e com conhecimento cervejeiro”, conclui Giba, como é conhecido o presidente da Abracerva.
Deixe um comentário