Lar Turismo Serra catarinense ganha relevância no enoturismo – 07/03/2025 – Turismo
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Serra catarinense ganha relevância no enoturismo – 07/03/2025 – Turismo


O 13º Traveller Review Awards, divulgado pela plataforma Booking.com em janeiro, causou uma certa surpresa –na lista dos dez destinos mais acolhedores do mundo, ao lado de Cazorla, na Espanha, e Orvieto, na Itália, aparece a catarinense Urubici.

Com menos de 12 mil habitantes, a cidadezinha é um dos 18 municípios que compõem a Serra Catarinense, que há tempos frequenta os noticiários em função do frio –os termômetros congelados de São Joaquim, a 60 km de Urubici, são tão famosos quanto a neve que, volta e meia, cobre a região de branco.

Na última década, porém, o lugar se transformou em função do enoturismo. Ao contrário da Serra Gaúcha, onde imigrantes fazem vinho desde que chegaram ao país, a Serra Catarinense estreou tardiamente na vitivinicultura, há apenas duas décadas. E já mostrou a que veio.

Os 28 produtores da Associação Vinhos de Altitude se valem do solo vulcânico e dos terrenos entre 900 e 1.400 metros para se voltar aos vinhos finos de alta qualidade. Os novos rótulos vêm acumulando premiações e, em 2021, conquistaram os registros de Indicação Geográfica (IG) e Indicação de Procedência (IP).

Os números oficiais não chegam a impressionar pelo volume –segundo a Secretaria Estadual de Turismo, a serra recebeu 1,3 milhão de turistas em 2024. Isso acontece porque não há gigantes do vinho por ali. São vinícolas boutique, que mantêm as porteiras abertas, têm bons restaurantes e bares e se orgulham de exibir o trabalho minucioso no campo e nas adegas.

“Estamos focando o alto padrão. A produção de vinhos está puxando a régua do turismo para cima”, afirma Diego Censi, proprietário da Vinícola Pericó, em São Joaquim, e presidente da associação.

Diversas castas têm se dado bem na Serra Catarinense, tanto tintas quanto brancas, mas uma em especial está deixando os produtores animados: a sauvignon blanc, que aparece em vinhos varietais frescos e minerais. Eles são as estrelas nos eventos da época da colheita, em março.

Os menus de experiências não se limitam aos passeios pelos vinhedos e degustações. Uma das modinhas na região é o sunset, degustação ao ar livre, durante o pôr do sol, embalada por músicos ou DJs.

A gastronomia serrana tem particularidades que valem a pena ser conhecidas. É o caso do frescal, nome que se dá à carne bovina curada no sal por três dias, nascida em São Joaquim, e do mel de bracatinga, que as abelhas não fabricam a partir do néctar, mas da seiva açucarada que a cochinilha extrai da árvore. A goiaba serrana, também conhecida como feijoa, é um hit nas sobremesas.

O vinho alterou até o calendário turístico da Serra Catarinense. Embora o inverno continue sendo considerado a altíssima temporada, os produtores têm focado na programação especial da vindima, que acontece entre fevereiro e abril.

A vinícola Quinta da Neve, de São Joaquim, contratou os chefs Victor e Vinícius Branco, sócios da Osteria Taipa, em Lages (SC), para preparar uma série de refeições harmonizadas. Até o fim de março, serão servidas para pequenos grupos, no meio da plantação. Na Vinhedos do Monte Agudo, a temporada de estende até abril, com menus harmonizados da chef paraguaia Kathia Rojas.

Boa parte das propriedades se concentra nas cercanias da rodovia SC-110, que liga Bom Retiro a São Joaquim, passando por Urubici. Mas compensa sair um pouquinho desta rota e esticar até Campo Belo do Sul, onde está a vinícola Abreu Garcia. Fundada em 2006, a propriedade dispõe de restaurante e organiza sunsets nos fins de semana, diante de um sítio arqueológico dos séculos 11 e 12 e uma capela de pedra, onde casamentos são celebrados.

No trajeto, o empório Quintal di Catarina, nos arredores de Bom Retiro, é parada obrigatória para explorar sabores locais. Renato Farias, o proprietário, é craque nos defumados e tem um pouco de tudo o que a serra produz de melhor.

No quesito hospedagem, a evolução do enoturismo já exibe reflexos e fez surgirem investimentos fora do lugar-comum, que exploram a beleza e o isolamento da região.

As seis cabanas da pousada Colina dos Ventos, em Urubici, prometem privacidade total –não há nem sequer espaços de convivência, e o café da manhã é entregue em uma cesta. Uma das mais disputadas é a cabana Efatah, com sua cama literalmente pendurada diante da vista da serra.

Também em Urubici, o Zion Bubble Glamping é composto de três bolhas transparentes e climatizadas. A sensação é de estar integrado à natureza, como em um acampamento, mas o conforto é de hotel de luxo: tem hidromassagem, lençol térmico, wifi, vinhos locais e, se der preguiça de sair, cesta de comidinhas.

Hospedagem integrada aos vinhos ainda é novidade na região. Por enquanto, só a Vinícola Thera, em Bom Retiro, tem acomodações próprias –uma pousada de charme com 18 suítes, piscina, sauna e academia, que só recebe hóspedes a partir de 16 anos.

Nos próximos anos, porém, o cenário será outro. A própria Thera está construindo um condomínio residencial e um hotel com mais unidades, anexo a um museu do vinho. Segundo o presidente da vinícola, Abner Freitas, o projeto inspira-se no World of Wine (Wow), complexo cultural localizado em Vila Nova de Gaia, norte de Portugal.

A Quinta da Neve segue caminho parecido e, dentro de cinco anos, prevê inaugurar um complexo com residências, hotel e restaurante.

Decisão recente da Azul Linhas Aéreas, que suspendeu os voos para o aeroporto de Correia Pinto, o mais próximo da Serra Catarinense, pegou os empresários da região de surpresa. Agora, os membros da Associação Vinhos de Altitude apostam suas fichas no terminal de São Joaquim, reinaugurado em 2024 após 32 anos de inatividade.

Só que, por enquanto, apenas voos executivos pousam e decolam de lá. Para a maioria dos turistas que dependem de transporte aéreo, a solução é desembarcar em Florianópolis e alugar um carro até a serra. São 150 km até Bom Retiro e 240 km até São Joaquim.

Abreu Garcia, Campo Belo do Sul

Visitas acontecem diariamente, mas os almoços harmonizados são exclusivos dos sábados e domingos. Organiza piqueniques e sunsets ao som de violino.

Pousada Colina dos Ventos, Urubici

Nas seis cabanas com serviço de hotelaria, as diárias partem de R$ 400 para o casal, com cesta de café da manhã incluída.

Quinta da Neve, São Joaquim

Durante a vindima, os irmãos Branco, chefs da Osteria Taipa, em Lages (SC), assinam os menus harmonizados, sempre às sextas e sábados.

Quintal di Catarina, Bom Retiro

O empório fica no quilômetro 134 da BR-282, a 6 km do centro da cidade, e fica aberto de quarta a segunda, das 9h às 18h.

Vinícola Pericó, São Joaquim

Quem visita os vinhedos tem direito a degustar os vinhos e interagir com as sete lhamas do proprietário. O restaurante funciona de terça a sábado, para almoço.

Vinícola Thera, Bom Retiro

Almoços, jantares, degustações, piqueniques e sunsets acontecem durante o ano todo. Na pousada Bom Retiro, a diária para casal custa a partir de R$ 1.366, com café da manhã e estadia mínima de dois dias.

Vinhedos do Monte Agudo, São Joaquim

Degustações, piqueniques, refeições harmonizadas e sunsets, com pratos da chef Kathia Rojas, acontecem somente com reservas antecipadas.

Zion Bubble Glamping, Urubici

Os hóspedes são acomodados em três suítes em forma de bolhas transparentes, climatizadas, com 40 m² em média. Tarifas para casal, com café da manhã entregue em cesta, a partir de R$ 1.550.

A repórter viajou a convite do restaurante Osteria Taipa



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