Aliados do presidente alimentam o confronto, disseminando a falsa narrativa de golpe judicial nos EUA, e pedem a ação da Suprema Corte, onde a maioria é conservadora. Donald Trump
REUTERS/Evelyn Hockstein
O presidente Donald Trump e assessores próximos trabalham com afinco para testar os limites constitucionais, afrontando diretamente os juízes que ditam decisões contrárias aos decretos emitidos pelo Executivo.
A ideia de um suposto “golpe judicial em andamento” fomentou a narrativa de conselheiros da Casa Branca para desacreditar o Poder Judiciário, um dos pilares que sustentam a democracia americana.
O alerta do suposto golpe uniu dois polos divergentes no governo e foi difundido, tanto em tuítes pelo bilionário Elon Musk, quanto pelo estrategista Steve Bannon.
Um dos arquitetos da agenda deste segundo mandato, o conselheiro Stephen Miller, foi adiante. Em entrevista à CNN, assegurou que um juiz federal não tem autoridade para determinar como o governo realizaria as deportações de supostos membros de uma gangue venezuelana para El Salvador.
“Estamos diante da separação de poderes: é o Judiciário interferindo na função executiva”, alegou o conselheiro de Trump.
Miller referia-se ao juiz James E. Boasberg, do Tribunal Distrital Federal em Washington, que no sábado ordenou a suspensão da deportação de duas centenas de imigrantes para El Salvador e foi ignorado pelo governo.
O magistrado foi qualificado como “lunático e radical de esquerda” pelo presidente, que pediu o seu impeachment.
A habitual reação intempestiva de Trump em sua rede social lhe valeu uma rara reprimenda do Chefe da Suprema Corte, John Roberts, demarcando a tensão evidente entre dois dos três poderes do governo americano.
Primeiro presidente a assumir o cargo como réu condenado, Trump alimenta uma relação conturbada com a Justiça e procura deslegitimar as decisões que não o favorecem, com ataques frontais aos seus autores.
No retorno à Casa Branca, o confronto se acirrou, e a narrativa é disseminada sem pudores por seus assessores.
“Temos juízes que estão agindo como ativistas partidários do tribunal. Eles estão tentando ditar políticas do presidente dos Estados Unidos. Eles estão tentando claramente desacelerar a agenda deste governo, e isso é inaceitável”, assegurou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, pedindo a ação da Suprema Corte contra os juízes que “estão agindo erroneamente”.
Os desafios legais às ordens executivas de Trump eram previstos pela equipe do presidente no segundo mandato. E de fato ocorreram.
De acordo com a procuradora-geral, Pam Bondi, pelo menos 160 processos estão instaurados contra políticas do governo. Várias ações do governo foram bloqueadas pela Justiça, entre elas o encerramento das atividades da USAID, demissões em massa de funcionários públicos e a proibição de militares trans nas Forças Armadas.
A batalha será longa, e a estratégia do governo é de empurrar o jogo para a Suprema Corte, onde os juízes conservadores integram a maioria por 6 a 3.
Até lá, a Casa Branca se ocupará em propagar a retórica desafiadora contra uma parcela de juízes, a fim de testar o poder ilimitado do Executivo.
Source link
Deixe um comentário