Lar Turismo Símbolo do Ceará, pratinhos são um banquete da culinária popular do estado – 14/05/2025 – Turismo
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Símbolo do Ceará, pratinhos são um banquete da culinária popular do estado – 14/05/2025 – Turismo


Todo lugar tem a sua comida de rua. Em Salvador, é o acarajé; em São Paulo, Nova York (e também Osasco), é o cachorro-quente, e por aí vai. Fortaleza, a capital do Ceará, tem tudo isso, mas tem também a sua própria joia da coroa: o pratinho, uma refeição rápida e saborosa que forma filas pelas calçadas de toda a cidade, sustentando centenas de famílias e girando a economia de um bairro inteiro.

Chamar o pratinho de refeição não é exagero, porque ele é, de fato, um banquete servido em pratos plásticos fundos, como aqueles de sorveteria. Em geral, leva arroz branco ou baião de dois, carne de sol, paçoca (como eles chamam a farofa com carne) e, para equilibrar as texturas, creme de frango ou vatapá. Mas, a depender do pratinho (como também se chamam os carrinhos nos quais tudo isso é servido) e do local onde ele é servido, também há opções com camarão, calabresa e até lasanha e legumes.

No Cariri, o pratinho se chama “jantinha”, e a paçoca leva pouca farinha, que é mais fina, e muito mais carne de sol; já no litoral norte, a mariscada de lagosta também figura entre as opções. Tudo em porções fartas, como manda a tradição.

“Antes eram apenas quatro guarnições, mas fomos ouvindo os clientes e hoje temos 12”, contra Jefferson Araújo, 52, que há 25 anos vende pratinhos na Cidade 2000 —um conjunto habitacional dos anos 1970 cuja praça central se tornou um dos principais polos gastronômicos de Fortaleza graças à força dos pratinhos.

“Quando começamos aqui, só tinha acarajé, pamonha e milho. Para diferenciar, colocamos o pratinho, que era o que já se comia antigamente por aqui nas festas de aniversário”, conta Araújo, dono de um dos 30 carrinhos autorizados pela prefeitura a operar na praça. Cada um custa entre R$ 12 e R$ 20, a depender do tamanho e das opções escolhidas.

A operação de guerra para produzir tanta comida começa às 8h da manhã, quando Evanilde Oliveira, 47, a esposa de Jefferson, começa os trabalhos na cozinha da casa deles, ali mesmo na Cidade 2000. Cada preparo é colocado em panelas de barro, que chegam na praça às 17h, onde Jefferson serve os pratinhos até as 22h.

Araújo não revela o número exato, mas diz vender “mais de cem” pratinhos por noite —faturando o suficiente para, nesses anos todos, comprar casa, carro e criar seus dois filhos. É um negócio que movimenta boa parte da economia do bairro, que é cercado pelo Parque Estadual do Cocó, pouco integrado à cidade e, por isso, tem na praça o principal ponto de encontro dos seus moradores, que tocam a maior parte dos pratinhos por ali.

Mesmo distante das áreas mais frequentadas cidade e, principalmente, da beira-mar, onde o movimento turístico se concentra, a Cidade 2000 recebe muitos turistas, brasileiros e gringos, em busca de uma culinária de fato autêntica e local, ainda não alcançada pelo raio gourmetizador que transforma restaurantes em experiências e botecos em gastrobars. Ele continua farto, acessível, popular.

“A simplicidade de como o pratinho é feito e servido faz parte do seu DNA, da sua mágica, do seu enredo”, afirma a chef de cozinha e pesquisadora Marina Araújo, gestora do Mercado AlimentaCE, iniciativa estadual dedicado à pesquisa, preservação e difusão da gastronomia e da cultura alimentar cearense. “Ele representa muito as classes trabalhadoras e periféricas. É herança de uma cultura alimentar muito forte. É difícil gourmetizar algo assim.”

Mas ainda que o deslocamento até a Cidade 2000 valha o esforço, não é preciso ir até lá para provar um pratinho. “Fortaleza tem várias praças com essa mesma dinâmica, onde o pratinho movimenta a economia e muda o perfil socioeconômico do lugar”, diz Araújo.

Há pratinhos por toda a cidade, inclusive na recém-reformada beira-mar, onde o famoso e premiado Pratinho da Madrugada forma uma enorme fila que serpenteia pelo calçadão. Em 15 anos, o negócio familiar se transformou em uma empresa com 50 funcionários e outros dois pontos de venda em food parks de Fortaleza.

Uma das mais prestigiadas chefs de cozinha de Fortaleza, Van Regia também começou sua carreira servindo pratinhos. A comida de Van fez sucesso e, em poucos anos, o seu Culinária da Van se tornou um pequeno e, depois, um grande restaurante na Aldeota, bairro nobre da capital cearense —que, no momento, está em um hiato, mas deve retornar em breve.

Com tamanho sucesso, desde 2023 o Mercado AlimentaCE promove o Festival do Pratinho, que reúne na Estação das Artes, no centro, mais de 20 pratinhos de diferentes regiões do estado. O evento, que também apresenta atrações musicais locais, acontece em julho —a programação deste ano deve ser anunciada em breve no Instagram @mercadoalimentace.



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