“Bom mesmo era no meu tempo.” Taí um clichê que pode ser inofensivo ou extremamente perigoso. Todas as gerações, quando envelhecem, são acometidas de nostalgia.
Às vezes, o velho nostálgico é só um chato preso no hit parade da própria adolescência; outras, ele é um homem poderoso que ilude os mais jovens com um passado de glórias fictícias, levando-os a perpetrar burradas e atrocidades que deveriam estar sepultadas.
A nostalgia do chocolate é do tipo benigno, apesar de irritante.
O chocolate de antigamente era muito melhor do que essa porcaria que vendem agora, dizem.
Será mesmo?
Uma resposta objetiva exigiria que comparássemos as receitas de uma mesma marca ao longo dos anos —tarefa quase impossível, dado que os fabricantes põem essas receitas no escaninho do segredo industrial.
Mas suponhamos que sim, conseguimos demonstrar que o chocolate ao leite da marca tal decaiu com a substituição, por exemplo, da manteiga de cacau por gordura vegetal. Ainda assim seria ilusório concluir que os chocolates, num sentido amplo e um tanto difuso, eram melhores naqueles anos dourados.
Isso porque a oferta, tanto de insumos quanto do produto acabado, melhorou de forma absurda de uns anos para cá. Vale para chocolate, cerveja, carne, café, azeite, quase qualquer alimento.
Eu, quando criança, adorava umas moedinhas de chocolate que meu pai comprava para mim. Eram pura porcaria, assim como o cigarrinho de chocolate e aquele que vinha recheado com “creme de frutas” em cores berrantes de marcador de texto.
As marcas menores também não eram grande coisa, especialmente os chocolates “caseiros” feitos nas cidades de Gramado ou Campos do Jordão.
O que aconteceu de fato foi a gourmetização do mundo. As marcas populares podem ter perdido qualidade para se manterem baratas, mas surgiram outras empresas que investem em excelência e cobram o valor que consideram justo.
Sinto dizer: o chocolate não piorou, nós é que talvez estejamos pobres para comprar chocolate bom.
O tema desta coluna me compeliu a buscar uma receita com chocolate —justo eu, que dificilmente como doces, quem dirá cozinhá-los. Aí me lembrei de um brownie que eu fiz algumas vezes em tempos passados — aqueles bons tempos.
É um brownie sem farinha — desnecessária, acredite. Use chocolate bom, nem precisa ser do mais caro. Leia os ingredientes: se a única gordura for manteiga de cacau, já está de bom tamanho.
Brownie do Marcão
Rendimento: 6 a 8 pedaços
Tempo de preparo: 30 a 40 minutos
Ingredientes
- 115 g de manteiga sem sal
- 170 g de gotas de chocolate amargo
- 100 gramas de
- açúcar
- 3 ovos grandes
- 1 colher (chá) de extrato de baunilha (opcional)
- 15 g de cacau em
- pó sem açúcar
- 40 g de chocolate crocante em pedaços ou nozes picadas
Preparo
- Aqueça o forno a 170 ºC
- Coloque a manteiga e o chocolate (em pedaços pequenos) numa tigela de vidro ou cerâmica. Leve ao micro-ondas por 30 segundos, retire e mexa bem cima uma espátula de silicone. Repita a operação 2 ou 3 vezes, até derreter completamente o chocolate
- Acrescente 1 ovo por vez, misturando com o batedor manual de claras. Incorpore o cacau e o açúcar
- Transfira para uma assadeira untada com manteiga ou óleo. Distribua o chocolate crocante ou as nozes pela massa. Asse por 20 a 25 min
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