Os casos de pessoas intoxicadas por metanol após consumir coquetéis em São Paulo são tristes, revoltantes e assustadores. Há vítimas fatais, outras internadas em estado grave. Enquanto as investigações correm e o grande público se pergunta como isso pode ter acontecido, bares suspendem a venda de destilados. Para os amantes do vinho, que parece uma bebida muito distante da crise, fica um alerta: cuidado com as listas com rótulos ótimos e preços baixíssimos que circulam no WhatsApp; é diferente, mas há problemas. Quem compra esses vinhos no “esquema” financia o crime.
Não há milagre, infelizmente, onde tem vinho célebre por um valor muito mais baixo que a tabela do mercado, há de se desconfiar. Já é sabido que há um movimento de descaminho e contrabando pesado, especialmente na rota entre a Argentina e o Brasil. Além disso, pode comprar gato por lebre, porque não há nenhuma garantia de que o Catena que você vê na lista do WhatsApp foi produzido pela vinícola célebre de Mendoza.
De tanto estar no alvo dos criminosos, essa vinícola específica até adotou um selo de garantia em parceria com sua importadora, a Mistral, para proteger seus vinhos (e seus fãs) e assegurar que o líquido que está ali saiu de seus vinhedos e de sua adega.
Mas, salvo essa iniciativa, são raros os meios de rastreabilidade da bebida. A indústria da moda, que também tem seus pecados, já começou a adotar um selo com um QR code que informa todo o processo de produção de uma peça e garante que ela é de fato feita dentro de um processo ético, sem crimes contra o meio ambiente ou até contra os direitos humanos. O mesmo poderia e deveria ser feito pelos produtores de vinho.
Talvez você ache chato quando, em um restaurante, o garçom ou sommelier, ao apresentar um prato ou bebida, enumera muitas informações sobre os ingredientes. Mas essa é também uma forma de ter informação sobre o que estamos ingerindo, de valorizar e fortalecer o elo entre mesa e produção.
Recentemente, os casos de apreensão de vinhos em fronteiras, fábricas clandestinas e até restaurantes do país ficaram tão comuns que se tornaram difíceis de enumerar. No fim de agosto, por exemplo, a polícia apreendeu 160 garrafas de vinho falsificadas e importadas de forma irregular em dois endereços de luxo em Curitiba. O Paraná está na rota do descaminho, é por lá que vem muita coisa. Mas também do Rio Grande do Sul, por outros caminhos.
Quando a bebida é falsificada, como vimos com as notícias mais recentes, é grave, não sabemos o que pode acontecer ao nosso corpo. Ainda que seja a bebida original, saída da vinícola que estampa a etiqueta, quando ela é contrabandeada, sofre na viagem pois é transportada de forma inapropriada.
O vinho é uma bebida sensível que não reage nada bem ao calor; há problemas conhecidos como o “light strike”, quando fica muito exposto à luz, e o que se chama de “cooked”, que é quando fica em altas temperaturas por bastante tempo. À medida que o tempo passa, ele fica pior e pior. Então, comprar um vinhão por meios escusos e deixar na adega para tomar anos depois vai ser a experiência mais triste possível.
Uma forma de saber se o vinho chegou ao Brasil da forma correta é se ele tem o contrarrótulo em português, seguindo as regras do Ministério da Agricultura. É sempre melhor comprar do importador oficial ou de uma loja confiável. É tentador, imagine encontrar os rótulos de suas vinícolas favoritas por um precinho daqueles, mas os goles não valem os riscos.
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