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A fórmula do sucesso de Minas Gerais para atrair e fixar empresas


Minas Gerais despontou como um dos estados mais requisitados por grandes empresas e empreendedores dispostos a investir. No último ano, o estado atingiu a marca de R$ 458,27 bilhões em investimentos acumulados desde 2019. A fórmula do sucesso conjuga a exploração de lítio na região norte de Minas, ter a maior reserva de nióbio do mundo, uma posição geográfica estratégica, a malha viária que passa dos 300 mil quilômetros e uma diversificação da matriz econômica.

Na região sul do estado, indústrias e grandes centros de distribuição têm ocupado espaços que eram essencialmente rurais. Além disso, pequenas e médias empresas, nos setores de produtos e serviços, têm surgido com maior frequência tanto na região metropolitana quanto na Zona da Mata, Triângulo Mineiro e norte de Minas.

Em recente relatório divulgado pela Junta Comercial de Minas Gerais (Jucemg), o estado iniciou 2025 com alta no número de empresas abertas no estado, em comparação com o mesmo período de 2024. Em janeiro 7.766 novos empreendimentos foram registrados no estado.

Desse total, 53,15% são do setor de serviços, 33,05% do comércio e 29,95% da indústria. Durante gestão de Romeu Zema (Novo), o estado saltou de uma média de R$ 11 bilhões em investimentos por ano para R$ 124 bilhões apenas em 2024, e quase um milhão de novos empregos gerados.

Leandro Andrade, diretor de Atração de Investimentos da Invest Minas – agência do governo estadual focada em atrair e desenvolver investimentos no estado – credita os resultados ao ambiente de negócios que avalia como estável e seguro.

“Fatores como previsibilidade e segurança jurídica nos tratados assinados; a modernização das políticas tributárias que tornam o estado mais competitivo perante outros da federação; além dos processos desburocratizados para obtenção de licenças com as tratativas facilitadas pela própria Invest Minas têm sido preponderantes para alcançarmos a confiança dos mercados”, resume ele.

A agência, que surgiu em 1968 como Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais, passou a ser vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede) com a reforma administrativa feita no estado em 2019, além de ganhar novo nome e escopo. Hoje, essa estrutura atua como uma espécie de ponto focal do investidor no estado, com responsáveis nos mais diversos setores, que podem ajudar a solucionar problemas que ele encontre durante todo o processo, desde a escolha de um local para instalar a empresa até autorizações e licenças necessárias para seu funcionamento.

A estratégia de prospecção de empresas pelo estado de Minas Gerais.
Centro de Distribuição da Mars, recém-inaugurado em Extrema. Foram investidos R$ 30 milhões em estrutura, tecnologia e serviços de operação.| Divulgação/Mars

O método de trabalho da agência talvez seja a mudança mais relevante. Adriano Carvalho é consultor empresarial e afirma que mudança de postura tem peso nesse processo – ele foi secretário de Desenvolvimento Econômico de Extrema, no sul do estado, e atuou como diretor na Invest Minas entre 2021 e 2023.

“Antigamente, os servidores da Invest não viajavam e ficavam aguardando o empresário levantar a mão e dizer: ‘olha, eu gostaria de ir para Minas’. Só que isso é muito pouco. Isso mudou para uma postura proativa, de se apresentar para o mercado, de conversar com as entidades e com fundos de investimento”, comenta Carvalho.

Minas Gerais saltou de uma média de R$ 11 bilhões em investimentos por ano para R$ 124 bilhões.

Minas tem uma estrutura de inteligência de mercados com tecnologias e processos que monitoram empresas e mercados no Brasil e no mundo. “Nossos times de negócios formados por especialistas em seus setores têm construído teses de investimentos com propostas de valor que ajudam as empresas em suas decisões, motivadas pelos amplos benefícios do estado. Os setores de energia, agronegócio, indústrias farmacêuticas, alimentos, bebidas e metal mecânicas têm se destacado no hall dos grandes anúncios. Tecnologia e infraestrutura também compõem a base de negócios estratégicos que temos prospectado”, reforça Leandro Andrade, diretor de Atração de Investimentos da Invest Minas.

Previsibilidade e ajustes tributários como atrativos

Simplificação parece ser uma palavra de ordem na gestão de Minas e o perfil do governador – empresário do setor varejista – pode ter influência direta nesse salto de negócios do estado. Secretário de Desenvolvimento Econômico entre 2020 e fevereiro deste ano, Fernando Passalio afirma que a experiência de Zema orientou as melhorias implementadas.

“Quando ele assumiu o governo em 2019, trouxe essa diretriz para que o estado pudesse, de forma responsável, minimizar o tempo de espera dos empreendedores, a fim de que eles possam estruturar seus negócios de forma mais rápida”, afirma ele, em referência à implementação das diretrizes da Lei de Liberdade Econômica no estado e do Programa “Minas Livre para Crescer”, maior projeto de desburocratização do estado.

“Nós revogamos mais de 1,8 mil atos que estavam gerando dúvida ou atrapalhando o processo (de abertura de empresas), abrimos um canal para ouvir os empresários e identificar as dificuldades que eles estejam enfrentando, dentro do Minas Livre. Isso gera bastante resultado, pois o empreendedor se sente ouvido e nós conseguimos, a partir do caso concreto, melhorar a política pública”, explica Passalio, que recentemente deixou a pasta para assumir a presidência da Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais).

O Minas Livre, criado no final de 2019, iniciou sua implementação em 2020, com objetivo de levar ao maior número de municípios mineiros as diretrizes da lei de liberdade econômica, como a aprovação tácita de empresas de baixo risco, revisão de normativos desatualizados e análise de impacto regulatório, para evitar a criação de normativos supérfluos. Mais de 500 municípios aderiram ao programa e as simplificações tendem a tornar as cidades mais atrativas à abertura de negócios.

Dentro das iniciativas do programa também está a formação dos gestores públicos, através de cursos sobre liberdade econômica. O objetivo é mostrar a prefeitos, secretários e servidores municipais ações e políticas que podem ser adotadas para melhorar o desenvolvimento dos municípios.

Dentro da estratégia para impulsionar empresas, Minas também se preocupou com os aspectos tributários e logísticos, pensando em valorizar sua posição privilegiada no mapa e o bom relacionamento com estados vizinhos. “A gente conversa bem com o Centro-Oeste, com o Sul, com São Paulo que é nosso vizinho, com a Bahia… E nossa participação na economia era muito pequena. Então fizemos ajustes na questão tributária, implementamos um regime que fez justiça ao potencial geográfico, estratégico e logístico do estado”, comenta Passalio.

Esse foco contribuiu para a atração de uma série de e-commerces para Minas, como Amazon e Mercado Livre. Hoje, o estado acumula 35% do market share de e-commerce no Brasil. “E nunca houve uma gestão de governo que fizesse essa calibragem tributária”, comenta Passalio.

Investimento em infraestrutura é outro item prioritário. “Minas Gerais anunciou o maior pacote de concessões de rodovias em toda a sua história. Sabemos da importância da infraestrutura para ganharmos ainda mais eficiência em logística”, diz Andrade, diretor de Atração de Investimentos da Invest Minas.

Valorizar os planos de longo prazo

Na avaliação do consultor empresarial Adriano Carvalho, melhorar a tributação é importante, mas é preciso que os municípios estejam atentos às melhorias que só eles podem fazer, como atualização de planos diretores e atendimentos mais ágeis nos órgãos públicos.

“O benefício tributário garante o namoro, não garante o casamento. Porque todos os estados do Brasil têm o seu pacote de benefícios. O que é que muda isso? É quando a empresa chega no município. E quando ela chega é que o show de fato vai acontecer. Porque o papel do Estado é conceder um benefício, ajudar numa documentação. No município é que a infraestrutura e a contratação dos funcionários vão acontecer. E a grande maioria dos municípios, em todo o Brasil, não se preparou para receber o empresário”.

A região sul do estado concentra casos de sucesso e tem sido a preferência de multinacionais. A farmacêutica japonesa Daiichi Sankyo escolheu Varginha para expandir suas operações e inaugurou um centro de distribuição em fevereiro. Danone e Ferrero também são duas gigantes que escolheram a região para se fixar.

A grande maioria dos municípios, em todo o Brasil, não se preparou para receber o empresário.

Consultor empresarial Adriano Carvalho

A General Mills, detentora das marcas Yoki, Kitano e Häagen-Dazs, que já havia anunciado a transferência de suas operações de Paranavaí (PR) para Pouso Alegre (MG), divulgou que está investindo R$ 50 milhões na ampliação da linha de produção de farofas e derivados de mandioca no estado, o que torna a unidade mineira a maior fábrica da empresa no país.

Em nota sobre o lançamento, o gerente de Atração de Investimentos da Invest Minas Lucas Ferreira destacou que “a General Mills consolida seu parque fabril em Pouso Alegre com essa nova expansão. Minas Gerais se torna a principal atividade da empresa no Brasil, fortalecendo toda a região, desde a agricultura familiar até sua rede de fornecedores”.

Estratégias de captação de empresas pelo estado de Minas Gerais.
Adriano Carvalho foi secretário de Desenvolvimento em Extrema (MG). Em 2021, o PIB per capta do município era de R$ 362.591,97, o maior do sul de Minas.| Divulgação/Arquivo pessoal

Da experiência em Extrema, entre 2017 e 2021 – hoje um dos municípios mais prósperos do sul do estado – Adriano Carvalho conta que, inicialmente, foi preciso mapear todas as etapas do processo de abertura de empresas e avaliar tudo que poderia ser simplificado ou melhorado. A ideia era tornar o processo mais simples para o empreendedor, e acabou sendo benéfico também para os cofres públicos.

“Em 2017 nós fizemos uma repaginada em todos os processos na prefeitura. A gente olhou cada etapa. No final do ano nós descobrimos que a gente tinha reduzido o custo da prefeitura em R$ 13 milhões. O objetivo era reduzir tempo, mas quando você vai diminuindo tarefas, vai tendo um desperdício menor, usa menos pessoas naquele processo. É claro que fica mais econômico e eficiente”, avalia ele.

Outro aspecto essencial é pensar em projetos de longo prazo e entender que, além de cuidar da cidade, é preciso prospectar investimentos. Carvalho conta que a negociação para prospectar a fábrica da linha branca da Panasonic, única fora do Japão, para Extrema, durou oito anos.

“Começou com um prefeito e terminou com outro. Imagina se aquele prefeito dissesse nNão, eu não vou tocar, porque vai ficar para o próximo’. Poderia prejudicar toda a comunidade por um interesse político. A gente tem que pensar a longo prazo, tem que pensar que está construindo a cidade.”

De acordo com o consultor, essa foi a lógica que o estado passou a adotar nos últimos anos, além de pensar em uma captação contínua. Para ele, os governos anteriores não priorizavam o desenvolvimento econômico, o que culminou em dívidas enormes que precisavam ser resolvidas de forma consistente.

“O governo entendeu que primeiro é preciso trazer o empresário para melhorar a minha arrecadação. Minas estava sem arrecadação e cheio de problemas financeiros. E mais uma vez eu vou fazer o paralelo com uma empresa. A empresa que vive só dos clientes que já tem vai quebrar. O estado entendeu isso. Todo dia eu tenho que receber novas empresas. Não importa se é grande ou pequena, não importa o setor, mas todo dia eu tenho que colocar empresas em Minas”.

A vocação inicial para a mineração hoje divide espaço com setores modernos e a expectativa é que eles se expandam nos próximos anos, focando em aumentar a capacidade de industrialização de produtos de alto valor agregado e com mais sustentabilidade nas cadeias produtivas.

“O foco em plataformas de energias limpas e renováveis, biocombustíveis, indústrias de base tecnológicas e de saúde são alguns setores que entendemos elevar a economia de Minas. No norte do estado produzimos o equivalente a meia Itaipu de energia solar. De lá também partem 12% da insulina consumida no mundo. Fundos árabes têm investido fortemente na produção de combustível para avião (SAF)”, comenta Andrade.



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