O Brasil se tornou uma potência cafeeira graças, em grande parte, ao trabalho escravo, e a forma como a abolição se deu construiu as bases para uma divisão de terras que permanece racialmente desigual até a atualidade.
Foi por meio da mão de obra cativa que o país alcançou, no século 19, o posto de maior produtor mundial.
Quando atingiu seu ápice, em meados do século 19, a cafeicultura nacional compunha a grande elite escravocrata do Brasil, sobretudo no interior paulista, o que provocou um aumento exponencial da população escrava do estado na época. Em 1823, havia cerca de 21 mil escravos em São Paulo; em 1872 esse valor passou para 169 mil.
A aristocracia cafeeira manteve-se escravocrata até o último instante. Dona do maior poder econômico da época, essa elite conseguiu retardar a abolição o máximo possível –o Brasil foi o último país do continente americano a acabar com a escravidão.
Após a abolição e a substituição da mão de obra cativa pelos imigrantes, os ex-escravizados foram despejados sem acesso à terra. Não houve um projeto de redistribuição agrária, tal qual propuseram abolicionistas como Joaquim Nabuco. Naquele 13 de maio de 1888, o povo negro foi libertado, mas continuou privado de participar plenamente da sociedade.
Por isso, hoje as maiores propriedades rurais do Brasil ainda estão concentradas nas mãos de pessoas brancas. Nas micro propriedades, pretos e pardos até são maioria. Mas, à medida que cresce o tamanho das fazendas, reduz a proporção de negros como proprietários, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em propriedades de 1.000 a 10 mil hectares, há mais que o triplo de brancos (74,7%) em relação aos pretos ou pardos (23,8%). Nas acima de 10 mil hectares, a proporção é de 79% contra 18,9%.
Há algumas iniciativas com a finalidade de apoiar pessoas negras na cadeia produtiva do café. Um desses projetos é o Café di Preto, torrefação comandada por Raphael Brandão que se dedica a comercializar grãos cultivados por fazendeiros negros.
Mas os projetos que existem são escassos, isolados e muito aquém do necessário para uma efetiva reparação histórica. O setor cafeeiro poderia aproveitar este novembro, auge das premiações e eventos da safra, para converter a Consciência Negra em ações efetivas de inclusão.
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