Alexey Bugaev, ex-zagueiro da seleção russa, morreu no fim de dezembro de 2024 enquanto servia como membro do exército russo na guerra na Ucrânia. Aos 43 anos, ele se encontrava na linha de frente do conflito, tendo optado por se alistar para evitar cumprir uma pena de quase dez anos de prisão por tráfico de drogas.
A história de Bugaev, que já foi considerado um dos grandes talentos do futebol russo, expõe as consequências da política do regime de Vladimir Putin, que tem recrutado até condenados para combater na invasão ao país vizinho.
Bugaev foi preso em 2023 por posse de quase meio quilo de mefedrona, uma droga sintética que ele estava prestes a vender ilegalmente. Durante o julgamento, ele admitiu a culpa, lamentando a situação. Pouco tempo após ser condenado em setembro de 2024, Bugaev decidiu não cumprir a longa pena de prisão e preferiu arriscar sua vida na guerra contra os ucranianos. De acordo com o esquema de recrutamento implementado pela Rússia, condenados que aceitam lutar são perdoados de suas sentenças criminais.
De promessa do futebol a um destino trágico
Alexey Bugaev iniciou sua carreira profissional em 2001, no Torpedo Moscou. Versátil, ele atuava tanto como zagueiro quanto como lateral-esquerdo, características que impressionaram treinadores locais. Segundo o jornal britânico The Guardian, Vitaliy Shevchenko, técnico que deu a Bugaev sua primeira oportunidade no futebol profissional, lembrou em entrevista ao jornal russo Sport Express que “Aleksey ganhava muitas bolas e sabia iniciar ataques com qualidade”.
Em 2004, Bugaev foi convocado para a seleção da Rússia e participou de dois jogos na Eurocopa realizada em Portugal, competição que foi vencida pela seleção da Grécia. Apesar de demonstrar potencial ao enfrentar grandes nomes como Luís Figo e o ainda jovem Cristiano Ronaldo, sua carreira começou a desmoronar logo após o torneio.
Ao retornar ao Torpedo Moscou, Bugaev passou a faltar aos treinos e demonstrar comportamento indisciplinado. O clube perdeu a paciência com ele e o negociou com o Lokomotiv Moscou, mas nem mesmo a experiência sob o comando do veterano treinador russo Yuri Syomin foi suficiente para estabilizar sua carreira. Além do Lokomotiv e do Torpedo Moscou, Bugaev também passou pelo Tom Tomsk, Khimki e Krasnodar, todos da Rússia.
Valeriy Petrakov, treinador que comandou Bugaev no Tom Tomsk em 2006, disse ao Guardian que o jogador “tinha um problema sério com o álcool”, contudo, “era brilhante, com velocidade, força e bom posicionamento”
“Mas tudo foi em vão”, lamentou Petrakov.
“O Álcool o destruiu”
A dependência alcoólica de Bugaev foi amplamente relatada por ex-companheiros de equipe. Ao Guardian, Dmitry Tarasov, ex-meio-campista da seleção russa e colega de Bugaev no Tom Tomsk, afirmou: “Ele era um grande defensor, mas o álcool o destruiu. Tivemos que procurá-lo em lugares muito ruins. Era uma doença”.
Em 2010, aos 29 anos, Bugaev encerrou sua carreira profissional. Nos anos seguintes, tentou se reinventar, mas o vício em álcool e as dívidas acumuladas o levaram ao mundo do crime. Em 2014, ele concedeu uma entrevista ao jornal russo Sovetsky Sport, onde, de maneira controversa, ofereceu bebida ao jornalista e declarou: “Não me arrependo de nada”.
Bugaev, que um dia enfrentou os melhores jogadores da Europa, viu seu destino ser selado em um conflito que já custou a vida de milhares de outros condenados russos, bem como a de civis e militares inocentes de ambos os lados.
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