Os advogados dos 50 réus acusados de envolvimento no caso Dominique Pelicot, que drogou e estuprou a esposa com estranhos durante quase uma década, criticaram nesta quinta-feira (28), em suas considerações finais, a “pressão da opinião pública” no julgamento em curso.
A “tarefa é complicada”, pois é “difícil se opor à pressão da opinião pública”, disse Raje Yassine-Dbiza, advogada de um dos réus, que relatou inclusive cuspes em seus clientes.
Em tribunal de Avignon, no sul da França, o Ministério Público pediu nesta semana penas de prisão que vão de 4 a 20 anos para os réus. Eles teriam abusado sexualmente de Gisèle Pelicot, agora ex-mulher do principal acusado.
Os promotores denunciaram o que chamaram de “atos abjetos” e defenderam as condenações com o argumento de que também está em jogo “uma mudança fundamental nas relações entre homens e mulheres”. O julgamento ganhou projeção internacional e vem chocando o mundo.
No início do julgamento, Gisèle, 71, impediu que o processo fosse realizado a portas fechadas e defendeu que as imagens dos estupros fossem transmitidas ao público e à imprensa para que “a vergonha mudasse de lado”.
O julgamento deu visibilidade ao uso de drogas para cometer agressões sexuais, uma prática conhecida como submissão química, e vem motivando debates em toda a França sobre o tema.
Além de Dominique, outros 50 homens, com idades de 26 anos a 74 anos, são réus. Todos são acusados de estupro de vulnerável. No caso do ex-marido, também pesa a denúncia de violação de privacidade, uma vez que ele filmava os abusos.
“É, antes de tudo, o julgamento do acusado, não o julgamento da vítima, não o julgamento do patriarcado e certamente não o julgamento da submissão química”, disse Yassine-Dbiza, cujo cliente, Andy R., pode pegar 11 anos de prisão.
Fanny Pierre, outra advogada, disse que seu cliente Quentin H., um agente penitenciário de 34 anos para quem os promotores pedem 11 anos de prisão, não nega os fatos, mas considera que “ele deve ser condenado a uma pena justa“.
A advogada de Dominique, Béatrice Zavarro, tentou no dia anterior explicar as razões pelas quais seu cliente de 72 anos, que admite os crimes, organizou os estupros. Ela mencionou traumas que ele teria sofrido quando criança.
Durante sua intervenção perante o tribunal a advogada expressou seu “profundo respeito” por Gisèle, e procurou destacar a parte humana do “outro Dominique”. Zavarro afirmou que seu cliente também é um “bom pai e bom avô”.
“Dominique Pelicot não é o pior inimigo de Dominique Pelicot?”, perguntou, propondo à corte que se distanciasse “um pouco da petição mais forte da acusação“.
“Não se nasce pervertido, torna-se”, afirmou, repetindo uma frase usada por seu cliente durante seu primeiro interrogatório ante o tribunal. “Esta frase é dita pelo outro Dominique, pelo qual advogo hoje”, disse a defensora, segundo a qual seu cliente tem dupla personalidade. “Este outro Dominique é dotado de certa perversidade, mas antes disso há um homem”, acrescentou, antes de lembrar do “ambiente familiar nocivo” onde cresceu, como um pai “autoritário, tirânico”.
A advogada também citou as duas agressões sexuais que Dominique diz ter sofrido na juventude: quando um enfermeiro o violentou durante uma internação hospitalar ainda criança e quando ele foi forçado a participar do estupro de uma jovem.
As petições de pena do Ministério Público —que pediu até 20 anos de prisão para alguns dos réus— são significativamente mais severas que a média de condenações por estupro na França, que foi de 11 anos em 2022, segundo o Ministério da Justiça. O veredito final deve ser anunciado entre 19 e 20 de dezembro.
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