É obviamente acidental, mas não deixa de ser curioso: o ex-humilde arroz com ovo aparece todo pimpão no menu que comemora os 25 anos do D.O.M., de Alex Atala.
O “roscovo” do chef não é aquele que a gente faz com sobras da geladeira: o arroz é de um tipo vermelho, plantado no sertão paraibano, e a gema do ovo caipira é assada a 62 ºC, até ficar firme, porém cremosa. Tem ainda queijo de coalho, cebola frita e outros balangandãs.
É a versão de arroz com ovo de um restaurante com duas estrelas Michelin, servido numa degustação de 12 etapas, inspirada na culinária tradicional da caatinga.
No Brasil, o ovo ainda não virou artigo de luxo. O calor extremo afetou a produção, e o preço já disparou no atacado, mas ainda não se sente o baque por completo no supermercado.
Nos Estados Unidos, a situação está surreal. O motivo lá é outro: a gripe aviária, que dizima a população de galinhas.
O preço subiu tanto que as pessoas passaram a comprar ovos por unidade. Uns malucos começaram a criar galinhas dentro de apartamentos, o que eleva exponencialmente o risco de transmissão interespécies da doença.
Estamos falando de um país em que ovo é sinônimo de café da manhã. O impacto da inflação nos hábitos alimentares do americano é colossal. Nessas, a revista The Atlantic solta um artigo intitulado “É estranho que os ovos já tenham sido baratos”. Annie Lowrey, a autora, sustenta que o mesmíssimo fenômeno que reduziu o custo da produção de ovos foi o responsável pela crise atual.
Ela se refere à industrialização das granjas. Para atender à demanda maciça por ovos baratos, os criadores submetem as galinhas a condições insalubres e cruéis.
O confinamento das penosas propicia ambiente ideal para doenças se alastrarem. E piora ainda mais o estresse devido a fatores externos, como o calorão brasileiro.
Assim percebemos que, embora diferentes, os motivos da inflação do ovo no Brasil e nos EUA estão intimamente relacionados.
Prefira comprar ovos de galinhas criadas soltas. Se não por causa do sofrimento dos animais, pelo seu bolso: o barato sai caro neste caso específico. Pode chegar um dia em que arroz com ovo só será acessível a quem tem condições de pagar os R$ 760 do menu-degustação do D.O.M.
Quanto à receita, escolhi um clássico do café da manhã mexicano: huevos rancheiros, servidos com tortilha e molho de tomate. Huevos rancheros de gallinas de corral.
HUEVOS RANCHEROS
Rendimento: 1 porção
Dificuldade: fácil
Tempo de preparo: 30 a 40 minutos
Ingredientes
350 g de tomates maduros, cortados ao meio
½ cebola
2 dentes de alho
1 pimenta jalapeño (opcional)
1 ramo de coentro
2 colheres (sopa) de feijão preto cozido e temperado
2 tortilhas
2 ovos caipiras
1 colher (sopa) de óleo
Sal a gosto
Para servir: limão e queijo meia-cura esfarelado
Modo de fazer
1. Asse o tomate, a cebola, o alho e a pimenta por 20 minutos na air fryer, a 200 ºC. Remova a pele do tomate e as sementes da pimenta. Descasque a cebola e o alho. Bata tudo no processador com o coentro. Acerte o sal do molho e reserve.
2. Amasse o feijão com um pouco de seu caldo, até obter uma pasta grossa.
3. Numa frigideira, aqueça as tortilhas. Espalhe sobre elas a pasta de feijão aquecida.
4. Aqueça o molho de tomate. Frite os ovos. Coloque os ovos por cima da tortilha e distribua o molho. Sirva com queijo e limão espremido.
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