O sol a pino queima a nuca. Um vento gelado, cortante, resseca a boca e os lábios. Não é fácil caminhar a 4.200 metros de altitude. O ar rarefeito exige concentração na respiração. São 25 minutos de caminhada para chegar a Piedras Rojas, uma das mais belas atrações da Reserva Nacional Los Flamencos, no Atacama.
Mas, no deserto, não é só a altitude que causa vertigem. A imensidão abstrata é estonteante. O cenário e o silêncio são um convite para um momento de reflexão. A experiência sensorial é completada por uma paleta de cores contrastante: vermelho das pedras, marrom das montanhas, branco do solo e verde das águas cristalinas.
A base para explorar o deserto é o povoado de San Pedro de Atacama, 1.600 quilômetros ao norte da capital, Santiago. Há diversos passeios entre cânions de arenito, salinas, gêiseres e picos vulcânicos. Os parques da reserva são controlados por uma associação dos likan antai, o povo originário atacamenho.
A 116 quilômetros de San Pedro estão as lagoas altiplânicas. A água do degelo das montanhas e vulcões garantem vida à região. A “paja brava” domina a vegetação e serve de alimento a vicunhas, alpacas, guanacos, lhamas e emas.
As cores das lagoas Miscanti e Miñiques também são surpreendentes. Nesse momento, turistas se esquecem do Instagram, deixam seus celulares no bolso e fazem como os antigos, curtem a atmosfera e apreciam a beleza local.
Mais distante está a lagoa Chaxa, que concentra a maior colônia de flamingos da região. As aves rosáceas passam o dia se alimentando de microrganismos das águas salgadas. Bem próximo há duas pequenas lagoas chamadas Ojos del Salar, onde os guias tiram as cafonas fotos de turistas saltando no ar.
A lagoa Tebinquiche é um espetáculo geológico. Um enorme espelho de sal surge atrás da cordilheira. Diversos tons de azul se misturam aos marrons do solo rico em minerais. Na lagoa Cejar os viajantes se divertem flutuando aos pés do Andes. A alta concentração de sal não permite mergulhar. Alianças, anéis e brincos devem ser retirados para evitar a corrosão.
A Rota 23, conhecida como Rota do Deserto, serpenteia por toda a reserva. Num de seus pontos há a placa do Trópico de Capricórnio. Uma parada mais instagramável do que interessante.
Vans de agências de viagens oferecem café da manhã enquanto turistas tiram fotos alucinadamente junto à placa e no asfalto da rodovia. As raposas que buscam comida pela estepe também são alvo das câmeras dos excursionistas, que são orientados a não alimentar os canídeos.
Vale da Lua
Se o Vale da Lua fosse batizado nas últimas décadas, certamente levaria o nome de algum planeta da franquia “Star Wars”. A paisagem inóspita poderia servir de cenário para Tatooine, terra natal de Anakin e Luke Skywalker.
A pé, um caminho sinuoso leva à Grande Duna. Além dos volumosos bancos de areia, o calor e a sede são desafios para o visitante no deserto mais árido do planeta.
O perrengue vale a pena. Do alto avista-se não só a duna, mas também o onipresente vulcão Licancabur. Ao lado está o Anfiteatro de Pedra. Esculpida pela ação do vento durante os séculos, a montanha em forma de arena romana é o principal marco da localidade.
Parada obrigatória, a escultura natural Três Marias chama atenção pelo inusitado. Em alguns pontos do caminho, se os visitantes fazem silêncio, é possível ouvir o som das montanhas. A brusca variação de temperatura provoca dilatação das placas de minerais.
A vastidão e as formas moldadas pela natureza criam um clima brutalista. Pelo caminho há marcas de antigas minas, que impressionaram Che Guevara, quando visitou a região em 1952, ao lado de seu amigo Alberto Granado a bordo da “La Poderosa”, como está registrado nos seus “Diários de Motocicleta“.
Do Mirador de Kari se observa a impressionante paisagem do Vale da Morte ou Vale de Marte, que, de tão árido, foi usado pela Nasa para estudos antes de missões no planeta vermelho.
Não é à toa que San Pedro de Atacama foi escolhida como destino tendência para 2025 em pesquisa anual realizada pela Booking.com, multinacional especializada em reservas de acomodação, voos e serviços de viagem.
A deslumbrante paisagem natural tem atraído viajantes ao Atacama, que, após a explosão de viagens no pós-pandemia, agora buscam destinos que não só ofereçam tranquilidade, mas experiências sensoriais e contato com a natureza.
A pesquisa mostra que o turismo noturno também é uma tendência. A vasta escuridão do deserto chileno oferece diversos tours astronômicos, nos quais se pode observar os anéis de Saturno através de um telescópio profissional.
Já no caminho de volta, enquanto viajantes disputam com mineiros e seus capacetes um lugar na fila dos totens de check in, um enorme cachorro caramelo cochila sossegadamente no saguão do aeroporto de Calama.
Os operários da Chuquicamata, uma das maiores minas de cobre a céu aberto do mundo, com um buraco do tamanho de quase 2.200 campos de futebol, e as hordas de turistas são a fotografia da economia da região.
O jornalista viajou a convite da Booking.com
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