No último mês de julho, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses foi declarado pela Unesco como Patrimônio Natural, um reconhecimento que atesta a importância do lugar para a humanidade e a sua singularidade no planeta.
Existem muitos parques de dunas pelo mundo. O maior deles fica na Namíbia, na África, mas também é possível encontrá-los em lugares como a China, o Marrocos e até nos Estados Unidos, onde o antigo Monumento Nacional de White Sands se tornou, em 2019, o mais novo parque nacional dos americanos. Mas todos esses lugares são, em geral, desérticos, com pouca ou nenhuma chuva ao longo do ano.
É justamente a chuva (e um lençol freático bem pouco profundo) que faz dos Lençóis Maranhenses um lugar único no mundo e, portanto, uma joia genuinamente brasileira. Por ano, a região do parque recebe mais de 2.000 milímetros de chuva —o dobro do registrado em algumas cidades gaúchas durante o temporal que atingiu o estado, em abril deste ano.
Mas a imensa maioria dessa água cai durante o primeiro semestre, formando lagoas que, ao longo do segundo semestre do ano, vão secando aos poucos.
As chuvas nos Lençóis também sofrem grande influência dos fenômenos El Niño e La Niña. Neste ano, por exemplo, o primeiro acentuou as chuvas no sul do Brasil e fez chover menos no Nordeste, o que deixou as lagoas menos profundas. Mas em 2025, o fenômeno La Niña deve inverter essa situação, levando mais chuva ao Nordeste e garantindo lagoas cheias por mais tempo na segunda metade do ano.
É por isso que você já deve ter lido por aí que a melhor época para visitar os Lençóis é a partir do meio do ano, entre junho e setembro. Nesse período, a chuva já foi embora e as lagoas ainda estão bastante cheias. De fato, é a época em que os lençóis estão no auge do seu esplendor.
Mas, em contrapartida, é também a época em que o fluxo de turistas atinge o pico. Hospedagens e passeios ficam significativamente mais caros, as lagoas ficam tão lotadas quanto uma praia urbana em um final de semana de sol e há até engarrafamento de jardineiras para entrar no parque.
Mas a boa notícia, que nem todo mundo conta, é que visitar os Lençóis na baixa temporada não deixa de ser uma ótima experiência. A paisagem, de fato, é mais árida, com várias lagoas completamente secas e outras em um nível bem baixo, às vezes impossibilitando um mergulho e, talvez, também algumas fotos para o Instagram. Mas o parque todo tem mais de 36 mil lagoas —e os guias locais, experientes, sabem onde estão as mais cheias delas, mesmo na seca.
São duas as cidades que funcionam como base para quem visita os Lençóis. A principal delas é Barreirinhas, a 260 km de São Luís, onde há uma infraestrutura maior de hotelaria e restaurantes, e até um aeroporto com voos diretos (e caríssimos) para a capital e para Parnaíba, no Piauí. A cerca de 30 km, ainda no mesmo município, fica Atins, uma vila litorânea com hotéis luxuosos que atraem muitos estrangeiros.
Do outro lado do parque, mais próximo da capital, está Santo Amaro do Maranhão, cujo limite urbano é marcado já pelas dunas do parque nacional.
Apesar de ser mais perto que Barreirinhas, Santo Amaro é bem mais raiz porque a estrada que leva até lá só foi asfaltada em 2022. Desde então, a cidadezinha outrora isolada começou a receber mais turistas, mesmo sem muita infraestrutura para além da estrada. São poucas as opções de restaurantes, e toda a água vem de poços artesianos, já que ainda não existe um sistema de abastecimento —por isso, a água de lá pode ter certo cheiro de enxofre se não for corretamente tratada pelas pousadas. É raiz mesmo.
Mas a graça de Santo Amaro (para além de não ter o agito internacional de Atins e Barreirinhas) é que é perto de lá que está boa parte das lagoas perenes, aquelas que, mesmo na seca, continuam com água. É, portanto, a melhor opção para visitar os Lençóis na baixa temporada. A reportagem da Folha esteve na região no último mês de dezembro, quando muitas das lagoas já tinham secado, mas a chuva ainda não havia começado.
Em dois dias e meio, foi possível fazer três dos passeios oferecidos pelas agências locais, as únicas autorizadas a operar no parque: a pequena lagoa da América, onde se chega de voadeira (uma minilancha que consegue navegar em águas rasas); o Circuito Betânia, que dura o dia todo e passa pela lagoa do Junco, onde a profundidade da água ainda era grande, suficiente para nadar; e o Circuito Andorinhas, que passa por grandes lagoas, com dimensões de quilômetros.
Mesmo em passeios coletivos, que reúnem vários pequenos grupos numa única jardineira, não foram encontrados outros turistas.
Nas lagoas maiores, a reportagem chegou a notar um ou outro carro com outros pequenos grupos mas, no geral, a experiência foi de um passeio exclusivo em lagoas que pareciam desertas, exclusivas para quem estava ali —algo que até é possível na alta temporada, dada a quantidade de lagoas do parque, mas apenas em passeios realmente privativos, que além de caros, são difíceis de conseguir, já que a alta demanda faz faltar carros.
Justamente pelo baixo movimento entre setembro e janeiro, e também entre março e maio (quando já chove bastante), nesses meses as pousadas chegam a oferecer descontos de até 60%. Por causa do Carnaval, em fevereiro nem sempre é possível conseguir bons descontos.
Na pousada Quintal de Areias, que não é luxuosa, mas recebe com bastante aconchego, os quartos duplos, que custam R$ 750 na alta temporada saem por R$ 335 na baixa; os quartos quádruplos, que chegam a custar R$ 1.500 entre julho e setembro não passam de R$ 500 na baixa temporada. É um desconto considerável, que pode viabilizar a viagem para quem tem um orçamento mais limitado.
A economia da hospedagem já paga os passeios que, a depender da duração, custam entre R$ 100 e R$ 200 por pessoa. Vale também investir em pelo menos um final de semana na capital, São Luís.
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