Na pandemia, o mercado de cafeterias no Brasil passou por um momento de boom dos estabelecimentos com foco na venda da bebida para viagem, algo muito popular em países como os Estados Unidos.
Em paralelo a isso, a Biscoitê ia na direção contrária, ao apostar no caráter social dos hábitos cafeinados do brasileiro.
O carro-chefe da empresa são os diferentes tipos de biscoitos, alimento que é muito associado à infância e a lanches caseiros, como quitutes feitos por avós, por exemplo.
Por isso, desde o início a ideia da empresa é focar no aspecto sentimental dos produtos e prezar pelo consumo no local em suas cafeterias, a fim de manter o apelo afetivo da combinação de café com biscoitos.
Após praticamente quebrar na pandemia, a rede tem hoje cerca de 80 lojas, entre unidades próprias e franqueadas. Além de café e biscoito, serve comidinhas salgadas como pão de queijo, em unidade ou porção.
O plano de expansão mais arrojado havia sido iniciado em julho de 2019. Mas, poucos meses depois, a pandemia de Covid-19 obrigou a empresa a fechar todas as lojas, demitir funcionários e doar milhões de reais em mercadorias e insumos.
“De julho de 2019 a dezembro de 2019 a gente abriu mais 15 lojas. Estávamos apostando numa Páscoa incrível em 2020. Compramos milhões –literalmente– de reais de produtos, como coelhinhos e ovos de Páscoa. A gente abasteceu todas as lojas no dia 16, e fechou todas no dia 18”, relembra Raul Matos, CEO e fundador da empresa.
A partir da reabertura pós-pandemia, contudo, a empresa voltou a crescer, puxada sobretudo por uma busca do consumidor por espaços de consumo mais acolhedores.
“Na pandemia, tinham vários clientes que iam todos os dias às lojas para conversar com o nosso time. E eu descobri que era quase que um ponto de descompressão. Então as pessoas começaram a buscar muito isso, e como a gente já é uma marca muito emocional, casava perfeitamente”, diz.
Matos diz que sua formação como filho de um dono de mercadinho de periferia ajudou a pavimentar a ideia de que criar laços comunitários é importante para o sucesso dos negócios.
Por isso, faz questão que as equipes das cafeterias tenham uma relação menos fria e mais próxima com os consumidores, o que, segundo ele, faz com que o índice de clientes frequentes seja alto.
A maior parte do faturamento vem da venda de biscoitos, sobretudo para presentear, mas a operação de cafeteria –presente em quase todas as lojas– é fundamental para criar essa relação afetiva com o consumidor, diz Matos.
Após fechar 2024 com faturamento próximo dos R$ 100 milhões, a empresa planeja alcançar os R$ 130 milhões este ano. Para isso, aposta na expansão de lojas em regiões do país ainda pouco exploradas –a maior parte da operação está concentrada no Sudeste– e até fora do Brasil.
Matos diz, contudo, que está tocando com muita calma os planos de expansão internacional.
Questionado o porquê de não ter pressa, diz que é preciso achar “a pessoa certa do outro lado”.
“Para mim, o ponto é sempre a pessoa.”
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