Lar Turismo Boi de Pindaré e protestos: os dois lados do turismo – 19/06/2025 – Zeca Camargo
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Boi de Pindaré e protestos: os dois lados do turismo – 19/06/2025 – Zeca Camargo


Eu tinha acabado de sair de uma das experiências mais incríveis que já vivi neste Brasil. Ao passear no início da tarde de domingo passado pelo centro histórico de São Luís, me vi totalmente absorvido pelo Boi de Pindaré.

Não era minha primeira vez na capital maranhense, mas eu ainda não tinha tido a sorte de encontrar um “boi”. O nome carinhoso, claro, define os grupos folclóricos mais representativos da cultura local que eu finalmente vi de perto.

Com máscaras que vão muito além das alegorias, roupas multicoloridas, chapéus que extrapolam arquiteturas e tambores hipnóticos, a apresentação do Pindaré era até simples: um punhado de gente dançando em círculos literalmente em praça pública. Mas o impacto daquilo era bem maior do que a mera descrição da cena.

Saindo dali, eu caminhava pelas ruas de casas azulejadas do passado glorioso da cidade quando minhas redes sociais trouxeram imagens de turistas atacados com pistolas d’água em Barcelona, Espanha. Os protestos contra o turismo de massa não se limitaram à capital da Catalunha.

Em Lisboa os protestos aconteceram em frente a um futuro hotel de luxo. Em Gênova, Itália, moradores marcaram presença com uma passeata levando malas de rodinha pela cidade. Milão, Nápoles, Palermo e, evidentemente, Veneza não ficaram de fora das manifestações.

Ciente da minha própria condição de turista, comecei a me questionar sobre minhas andanças e o significado delas.

Os motivos da revolta dos moradores de cidades hiperturísticas vão desde o sossego perdido até a especulação imobiliária que sobe o custo de vida nesses cartões postais. Boa parte deles deve ser tratada pelas autoridades competentes: ministérios e secretarias de turismo.

Das filas indesejáveis em endereços de Paris, sejam causadas por série de TV (Emily, estou falando com você no Chex Janou) ou influencers superficiais (que arruinaram o sanduíche do Miam Miam) à humilhação das estátuas renascentistas de mármore que mais e mais se tornam panos de fundo para TikToks batidos, nossa categoria não tem se esforçado no bom comportamento.

Mas seria cínico da minha parte não levar em conta o meu, aliás o nosso, papel: o de viajante. Já há algum tempo reparo por aí o perturbador comportamento de alguns colegas turistas.

As hordas humanas, desordenadas quando não selvagens, parecem se envolver muito pouco com os lugares que estão sendo visitados. Ou, no mínimo, respeitá-los. Que o diga os funcionários do Louvre, em Paris, que decretaram greve no início desta semana.

Ciente do valor de se continuar viajando pelo mundo e da inutilidade de um apelo pueril por melhor comportamento desses colegas turistas, eu me pergunto: onde foi parar o singelo ato de observar uma nova cultura, receber uma informação inédita de um lugar, de um povo que você ainda não conhecia?

Ainda frescas na memória, retornei às imagens que tinha acabado de registrar em São Luís. Revivi o fascinante estranhamento de ter me misturado com aquela festa. E celebrei sem culpa o simples prazer de receber algo novo e inexplicavelmente belo.


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