Após mais de um ano de altas sucessivas, o preço do café deve começar a estabilizar a partir de agora, segundo a indústria.
Em março, as grandes empresas do setor fizeram mais um reajuste. Esse aumento ainda está sendo repassado pelos supermercados aos consumidores finais.
Mas, após esse repasse, é provável que haja uma estabilidade, embora uma redução de preços ainda não esteja no horizonte.
“Não acreditamos em novas escaladas [de preços], mas ainda não enxergamos alguma redução substancial nessas cotações”, diz à Folha Pavel Cardoso, presidente da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café).
Isto porque esses reajustes praticados desde o fim do ano passado seriam o suficiente para equalizar o descompasso que havia entre o valor da matéria-prima, ou seja, do café cru, e o do produto final, isto é, o café torrado e moído que é vendido nos supermercados.
“O nosso entendimento é que esses aumentos que já foram praticados pela indústria agora em março –e chegarão às prateleiras dos supermercados– serão o suficiente para equalizar o que já houve de aumento da matéria-prima”, afirma Cardoso.
Mas essa estabilidade somente ocorrerá se o preço do café cru nas Bolsas não continuar subindo, conforme diz acreditar Cardoso.
“Chegamos no teto [da alta de preços]. É a nossa leitura. Acho que não passa daqui”, diz.
Como explicou a Folha, o café acumula altas históricas em decorrência de fatores como adversidades climáticas, baixos estoques mundiais e demanda crescente em vários países, como a China, por exemplo.
Ainda segundo Cardoso, uma queda efetiva das cotações pode ocorrer somente a partir do fim do ano, à medida que o setor começa a projetar a safra de 2026 com base nas circunstâncias observadas no campo em 2025.
“Se tivermos as condições climáticas perfeitas [ao longo de 2025], aí sim no ano que vem a gente terá uma safra muito grande. E a partir de setembro a gente pode enxergar alguma redução nessas cotações”.
Ainda assim, se houver redução de preços, eles devem ser pequenos, segundo especialistas presentes no Encafé (Encontro Nacional do Café), em Campinas (SP).
Guilherme Morya, analista de mercado da Rabobank, explica que os estoques mundiais estão muito baixos, então, ainda que as projeções apontem para uma grande safra em 2026, haverá mercado para absorver toda essa produção.
Estima-se que atualmente os estoques mundiais de café sejam de apenas 20,9 milhões de sacas de 60 kg –o menor das últimas 25 safras.
Considerando que o mundo consome, anualmente, 168 milhões de sacas, segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), é como se houvesse no planeta estoques para abastecer o mercado por menos de dois meses.
Por isso, ainda que 2026 traga uma safra muito boa, isso ainda não seria o suficiente para recompor os estoques globais.
O jornalista viajou a convite do Encafé.
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