Um dos mais tradicionais de Portugal, o Carnaval de Bragança é marcado pelas figuras dos caretos, foliões com fantasias e máscaras coloridas que se reúnem nas aldeias da região em uma festa de inverno que remonta o tempo dos celtas e persiste até hoje.
A máscara, em geral feita de madeira, colorida e com adornos, é item obrigatório. O objetivo, no passado, era esconder a identidade do folião, pois os caretos costumavam aprontar, se engraçando com raparigas solteiras e passando trotes em moradores. Já a roupa é coberta de franjas coloridas e às vezes também traz chocalhos e campainhas.
“A tradição passava um bocado pelos mascarados meterem-se com as mulheres solteiras. Por isso as casadas não podiam participar”, conta Tozé Vale, artesão que mantém uma loja de máscaras na cidadela histórica de Bragança. No passado, apenas homens eram autorizados a se fantasiar, mas hoje mulheres também participam da brincadeira.
Vale faz parte do grupo de caretos de sua aldeia, em Vila Boa, e dá uma aula sobre a tradição a quem passa por sua loja. Fazia parte da festa, conta, os casamentos na Quarta-Feira de Cinzas. “Quem celebrava era o solteiro da aldeia ou alguém que tivesse feito o serviço militar. Ele casava rapazes com raparigas, em casamentos que duravam até meia-noite, porque depois entrava-se na Quaresma”, conta. Algumas uniões acabavam perdurando, como a dos pais de Vale, casados há 53 anos.
Em Bragança, um dos principais momentos do Carnaval é a Queima do Diabo, que acontece nos sábados anteriores ao Carnaval. Após um desfile dos caretos pelas ruas do centro histórico, uma figura do diabo colocada na praça da cidadela, ao lado da Torre, vira uma enorme fogueira, acompanhada pelo público.
Dias depois, a Quarta-Feira de Cinzas na cidade é marcada pelo desfile de três personagens mascarados, a Morte, o Diabo e a Censura, uma lembrança das penitências que virão após a festa, com o início da Quaresma. Os três saem pelos bairros antigos assustando as moças, que correm para as casas para se proteger. “A Morte é a única autorizada a entrar nas igrejas, onde as raparigas se refugiavam antigamente”, afirma Vale.
Também no último dia de Carnaval acontece em Vila Boa a Queima do Entrudo, da qual Vale participa. Uma fogueira é acesa, e os caretos desafiam as chamas, pulando o fogo. Sobram cinzas e farinha para quem só está assistindo. “Aconselho a ir com uma roupa que não gostem muito, que é para estragar. E levem um quilo de farinha no bolso para brincar conosco”, completa o artesão.
As festas com mascarados, que chegam a 30 na região de Bragança segundo Vale, não se restringem ao Carnaval. Muitas acontecem no período entre o Natal e o Dia de Reis. “São festas pagãs, mas com a celebração religiosa associada”, explica. São consideradas ritos solsticiais, que marcam a transição entre o solstício e o equinócio de primavera.
Quem for a Bragança fora dos períodos carnavalescos ou natalinos, ainda pode conhecer a tradição, seja na loja de Tozé ou em um museu dedicado ao tema. Aberto em 2007, o Museu Ibérico da Máscara e do Traje possui em sua coleção máscaras, trajes e adereços das festas de inverno de Trás-os-Montes e das ‘Las Mascaradas de Invierno’ da região de Zamora, na Espanha.
Loja Tozé Vale
rua Fernão, o Bravo, 32, Bragança
Museu Ibérico da Máscara e do Traje
https://museudamascara.cm-braganca.pt/
A jornalista viajou a convite de TAP Air Portugal e Turismo de Portugal
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