Em meados de março terminou a 13ª edição do Concurso Brasileiro de Cervejas, em Blumenau. O tradicional evento —que integra o Festival Brasileiro da Cerveja— distribuiu 289 medalhas (95 delas, de ouro) e consagrou a Big Jack Cervejaria, de Orleans (SC), como a grande vencedora, com 18 pódios.
No entanto, o que chamou mais a atenção na divulgação do resultado foi a premiação do Best of Show, que escolhe a melhor amostra entre mais de 2.500 inscritas, dos mais diversos estilos.
Em primeiro lugar ficou uma gose com alecrim, da Araucária (PR); a medalha de prata foi para uma weiss com malte defumado, da Vale 4 (RS); e, fechando o pódio, uma catharina sour com morango e maracujá, sem álcool e sem glúten, da Opa Bier (SC).
Isso mesmo, uma cerveja sem álcool foi escolhida como a terceira melhor do país, pegando de surpresa muitos donos de cervejaria, especialistas e outros profissionais do setor, presentes no anúncio, no parque Vila Germânica, casa da Oktoberfest.
“O resultado deixa claro que as cervejas sem álcool estão sendo reconhecidas pelos jurados como produtos de qualidade”, afirma Eduardo Mira, gestor de marketing da cervejaria de Joinville.
“E é uma satisfação que o estilo catharina sour, genuinamente brasileiro, esteja agradando aos consumidores pela sua refrescância e sabores de frutas tropicais.”
No concurso, as amostras são avaliadas dentro de cada estilo, nos quais elas foram previamente inscritas. Somente as que recebem medalhas de ouro competem entre si numa segunda rodada, o Best of Show. A catharina sour da Opa Bier foi ouro na categoria experimental beer.
Porém, nem todos se espantaram com o resultado. “Não me causa estranheza ver uma cerveja sem álcool em terceiro no Best of Show”, conta Sady Homrich, ex-colunista de cerveja desta Folha e um dos jurados do evento, que participou de duas rodadas de avaliação com rótulos sem álcool.
Sady conta que provou amostras de “excelente qualidade, em especial aquelas com uma lupulagem mais fina, como uma session IPA, e também as catharina sours têm ficado muito palatáveis.”
Antes mais restrita aos principais grupos de cerveja mainstream, as versões sem álcool já ganham boas opções entre as artesanais. Marcas como a Sim! e a Luci comercializam apenas cervejas zero álcool —no Brasil, são consideradas sem álcool cervejas com até 0,5% ABV.
“No passado, o processo mais complexo fazia com que esse segmento ficasse concentrado nas grandes marcas. Agora, com novas tecnologias e uma demanda crescente, também as artesanais vêm entregando sabor, variedade e experiências cada vez mais completas ao consumidor”, pontua Márcio Maciel, presidente do Sindicerv (Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja).
De acordo com números da World Brewing Alliance, compartilhados pelo Sindicerv, o Brasil subiu de sétimo para segundo lugar em cinco anos entre os principais consumidores de zero álcool, chegando a 551 milhões de litros comercializados em 2024 —a Alemanha lidera a lista.
Para Maíra Kimura, cofundadora da Japas Cervejaria e também jurada em Blumenau, o resultado é sintomático dos tempos atuais, em que o mercado precisa “buscar formas de dialogar com uma nova geração que bebe menos ou busca outras experiências.”
“Mas será que uma cerveja sem álcool, em um estilo pouco conhecido, realmente atrai quem não bebe cerveja? Ou essas pessoas vão optar por outra bebida não alcoólica?”, questiona.
Lançada no concurso, a catharina sour com morango e maracujá, sem álcool e sem glúten, da Opa Bier está disponível nos bares da marca, em Joinville e cidades vizinhas. “E ela será envasada ainda neste primeiro semestre em garrafas long neck”, avisa Mira.
O jornalista viajou a Blumenau a convite do Festival Brasileiro da Cerveja
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