Sim, a França é conhecida (também) pela excelência de seus vinhos de diferentes regiões, como Bordeaux, Borgonha, Rhône ou Provence —onde se produz o inigualável Châteauneuf-du-Pape.
E quando falamos de bolhas, a província de Champagne está a poucas horas de Paris, digna de uma viagem bate-volta com direito a degustações e cenários exuberantes.
Para ser chamada de champanhe, a bebida precisa ser feita a partir de uvas chardonnay, pinot noir e pinot meurnier que foram cultivadas na região. Além disso, é preciso seguir um detalhado e rígido processo de engarrafamento. Pode parecer apenas uma tolice, no entanto, uma vez na França, você acaba levando as diretrizes a sério, com todo respeito aos coleguinhas espumantes.
No norte do país, Champagne faz divisa com a Bélgica. Historicamente, foi por ali que a Alemanha começou sua invasão antes de estabelecer seu domínio completo sobre território francês na Segunda Guerra.
Saindo de Paris, a distância de pouco mais de 140 quilômetros é percorrida em cerca de duas horas pelo asfalto lisinho da estrada A4. O destino é Epernay, cidade no vale do Marne com cerca de 23 mil habitantes —e capital da região administrativa Champagne-Ardenne.
Reza a lenda que foi na abadia do pequeno povoado de Hautvillers, perto de Epernay, que os monges dom Pérignon e dom Ruinart dominaram a arte da fermentação dos vinhos nas garrafas, dando origem ao borbulhante champanhe.
Logo na entrada da cidade, depois de deixar a estrada, o cenário inclui casas rústicas espaçadas, algumas de pedra, típicas de pequenos vilarejos, com o verde das infindáveis plantações de parreira no fundo, colorindo o quadro. No entanto, é só entrar um pouquinho mais para o visual começar a mudar, ganhando uma arquitetura mais vibrante em prédios com o típico telhado cinzento, tão comum em Paris.
Na região mais central, as placas começam a apontar para uma única rua, a mais famosa de toda a região, a avenue de Champagne, transformada desde 2015 em Patrimônio Mundial da Unesco.
Com 1,6 km de extensão —menor que a Champs Elysées ou a avenida Paulista—, seu nome não é por acaso, ela abriga algumas das maisons mais prestigiadas da bebida, como a Moët & Chandon, cujo principal rótulo, Dom Pérignon, faz justamente uma homenagem ao monge beneditino.
Parte dos belos casarões funcionam como amplos restaurantes, onde turistas podem consumir um menu especial harmonizado com variações de champanhe. Foi o que a reportagem fez em outra tradicional maison, a Perrier-Jouët.
No número 26 da avenue de Champagne, o Cellier Belle Époque é um belíssimo restaurante-bar de champanhe, onde a estrela é o balcão no centro, com decoração que mistura flores a tons de verde e dourado, elegante como a própria garrafa da marca.
Por lá, o menu-degustação pode incluir amuse-bouche (um aperitivo), entrada com salmão, prato principal e sobremesa. Para cada opção é servida uma taça do excelente champanhe da casa, um branco, um rosé e, para terminar, o Perrier-Jouët Blanc de Blancs, uma espécie de champanhe de reserva —com o docinho é só água mesmo. Tudo pela módica quantia de 80 euros (aproximadamente R$ 482) por pessoa.
Bem na frente do restaurante está o Museu do Vinho de Champanhe de Epernay, indicado a quem quer aumentar seus conhecimentos sobre a história da bebida —e sobre as descobertas de dom Pérignon.
De volta ao carro, o destino agora é Reims, maior cidade da região de Champagne. A distância pode levar cerca de 30 minutos, ou um pouquinho mais para quem quiser parar em algum ponto da estrada para clicar as imagens das plantações de parreiras.
Um dos destinos tradicionais para os amantes das bolhas por lá é a maison G.H. Mumm, ou apenas Mumm, como é conhecida. A marca ficou durante muitos anos associada ao circo da F-1 —era o champanhe do pódio, mas o acordo já foi rompido em 2016.
Na casa, é possível fazer uma visita guiada descendo pelas cavas escuras e frias, como tem que ser, e de longuíssimos corredores. Entre uma sala e outra, o visitante recebe informações históricas da família Mumm, de origem alemã, e do rígido código seguido para se chegar ao champanhe, incluindo diferentes graus de inclinação da garrafa durante a fermentação.
Na degustação que acontece ao fim do tour, os clientes escolhem entre uma taça tradicional ou de rosé. Quem quiser aumentar a dosagem, pode ir na lojinha ao lado.
Antes do retorno a Paris no começo da noite, quando ainda é claro, o centro de Reims merece uma horinha ou duas de atenção. Como em toda França, a cidade vibra com o verão e todos aproveitam a chance para curtir um sorvete (ou outro champanhe) ao ar livre.
Dá tempo também para uma visitinha à Catedral de Notre-Dame de Reims, outro Patrimônio da Humanidade —e, como a vizinha de Paris, passando por reforma, mas dá para olhar seu interior. Em estilo gótico, possui belos vitrais, alguns com a assinatura de Marc Chagall, e uma de suas capelas é dedicada à Joana d’Arc, que presenciou ali a coroação do rei Carlos 7º, durante a Guerra dos Cem Anos.
Ao longo de mais de mil anos de sua história, a catedral foi palco da coroação de 33 reis da França. Dá para imaginar o que os últimos coroados beberam na festa.
O roteiro acima fazia parte de um tour oferecido pela Uber durante a Olimpíada, quando lançou em seu aplicativo no país o serviço Uber Bubbles. Outras empresas oferecem programas semelhantes, dependendo da disponibilidade de tempo e de investimento de cada visitante.
O jornalista viajou de Paris a Reims a convite da Uber
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