Entre mortos e feridos, salvaram-se (quase) todos, e 2024 está quase no fim. Por aqui nos restam apenas duas colunas, esta e a da semana que vem, e gosto de encerrar dezembro com um prognóstico da agenda para o ano seguinte e do que o leitor interessado em China poderá esperar de mais relevante.
O ano de 2025, porém, será desafiador em várias frentes para Pequim, e talvez nos seja mais proveitoso dividir a discussão. Nesta semana então falaremos dos três principais temas da política doméstica, para na próxima coluna tratarmos dos pontos contenciosos das relações internacionais.
A começar pelas mudanças na governança interna. É muito comum que veículos de imprensa tendam a focar a cobertura na figura de Xi Jinping e seus asseclas na política nacional chinesa, mas uma transformação tão silenciosa quanto significativa se avizinha no ano que vem.
No sistema tecnocrático sob a égide do Partido Comunista, ninguém chega ao palco nacional sem antes ser colocado à prova no comando das províncias. E em 2025 esperam-se promoções em várias regiões-chave do país para substituir secretários provinciais, governadores e secretários-adjuntos, além de postos militares que estão se aposentando.
Como mapeou Guoguang Wu, um dos principais observadores da área na Asia Society, serão nada mais, nada menos que um quinto dos líderes da província a serem substituídos por idade. Os escolhidos para os cargos se tornam candidatos automáticos a posições de destaque no Congresso do Partido de 2027, quando se espera a renovação dos quadros no Politburo, o coração político do país.
Será também uma oportunidade para analisar quão efetiva será a internalização do poder de Xi além da capital. Priorizarão os leais? Ou veremos uma reorganização lenta, porém sólida, de novas facções dentro da estrutura partidária? A ver.
E por falar em províncias, o endividamento local segue como um dos principais pontos de preocupação quando o assunto é economia. Pequim ensaiou alguns pacotes de estímulo neste ano, mas vai precisar expandir ou rever vários pontos.
Do jeito que estão, governos locais seguem com capacidade de implementação de políticas públicas bastante reduzida. Estes novos líderes provinciais certamente precisarão tratar o tema como prioridade máxima e quem conseguir equilibrar crescimento de curto prazo, evitando estímulos significativos como emissão de títulos ou isenções fiscais, torna-se forte candidato a postos de destaque.
Por fim, Xi tentou como pôde adiar reformas fiscais, mas isso não será mais possível diante de um mercado consumidor conservador e avesso à gastança. O Rhodium Group e o Macro Polo, dois think tanks que observam a saúde econômica chinesa, preveem ajustes no imposto de renda e a alíquota do imposto sobre valor agregado. O objetivo é ampliar a arrecadação sem prejudicar ainda mais a classe média, exausta após anos de aperto durante a Covid zero.
Implementar toda esta agenda não é tarefa simples, sobretudo em um cenário desafiador com Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos. Mas na tentativa de projetar como a China se comporta internacionalmente, a partir de agora será ainda mais vital acompanhar o que mobiliza a classe política em casa.
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