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Lar Gastronomia Como é tomar o Don Melchor 2021, ‘o melhor vinho do mundo’ – 25/11/2024 – Tinto ou Branco
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Como é tomar o Don Melchor 2021, ‘o melhor vinho do mundo’ – 25/11/2024 – Tinto ou Branco


A revista americana Wine Spectator lançou recentemente a sua lista dos 100 melhores vinhos de 2024. O chileno Don Melchor Cabernet Sauvignon 2021, um vinho que provei em junho, aparece em primeiro lugar. Significa, então, que já bebi o melhor vinho do mundo?

Sim e não. Há muitos rankings de vinhos mundo afora. Outros apontam outros vinhos como os melhores do mundo. Intuitivamente, porém, eu arriscaria dizer que o da Wine Spectator é o mais bem cotado, se fizermos uma média entre popularidade e prestígio junto a especialistas. O vinho que ganha o primeiro lugar é, de fato, tratado por muitos como o melhor do mundo. A procura por ele no mercado norte-americano (e no mundo todo) aumenta consideravelmente. O preço tende a subir. E as garrafas tendem a se esgotar.

Por falar nisso, até o momento em que fechei este texto, aqui no Brasil, o preço da safra 2021 do Don Melchor ainda não tinha subido. Pelo contrário, no Descorcha.com, a loja on line do grupo Concha y Toro no Brasil, a garrafa de 750ml estava em oferta de R$ 1.399,00 por R$ 1.199,00, creio que por conta da Black Friday.

Porém, acredito que vai subir e/ou acabar rápido. Pois, enquanto a maioria de nós chora para gastar cem contos numa garrafa de vinho, há no Brasil um mercado voraz por rótulos de super luxo. O mercado brasileiro, por sinal, é bastante responsável pela inflação dos preços de alguns vinhos hiper caros que caem no gosto de nossos milionários ou de nossos pobres premium metidos a besta. Don Melchor não é dos mais caros, aliás. Tem vinhos, chilenos inclusive, que custam bem mais. Vejamos o que acontecerá agora que ele é “o melhor do mundo”.

Um vinho criado no fim dos anos 1980 pela tradicional Viña Concha y Toro com a colaboração do super famoso enólogo francês Émile Peynaud, o Don Melchor foi o primeiro vinho ícone chileno, o primeiro desse país a ser reconhecido internacionalmente como um grande vinho. Justamente porque a sua segunda safra, a de 1988, entrou para a lista dos 100 melhores da Wine Spectator.

Eu provei o Don Melchor pela primeira vez no fim dos anos 1990 ou início dos 2000, não sei exatamente, para a primeira reportagem que fiz sobre vinhos caros, numa degustação da Expand, uma importadora muito importante na época. Não lembro a safra. Lembro que gostei muito, mas não tenho a memória gustativa dele como tenho de alguns outros vinhos que provei para essa mesma matéria. Na época, meu conhecimento técnico era zero.

Depois disso, tomei Don Melchor algumas vezes, mas, antes de falar sobre elas, deixa eu contar para vocês um pouco mais sobre o vinho em questão. A Viña Don Melchor hoje é uma vinícola independente dentro do grupo Concha y Toro. Ela fica no terroir mais famoso do Chile para a produção de uvas cabernet sauvignon: Puente Alto,no Vale do Maipo, ao sul de Santiago. Ali também estão as vinícolas Almaviva e Viñedos Chadwick.

Plantado há mais de 100 anos, mas constantemente replantado, o vinhedo tem videiras de em média 35 anos. São 127 hectares, de cabernet sauvignon, com alguns pés de cabernet franc, merlot e petit verdot. A proximidade com os Andes torna o clima fresco e prolonga o ciclo da uva, garantindo uma maturação perfeita. O solo aluvial, com depósitos de cascalho, argila, areia e silte, tem boa drenagem, o que reduz os rendimentos e concentra aromas e polifenois. Ali, as videiras são em pé franco e sempre plantadas por meio da seleção massal, ou seja, com mudas do próprio vinhedo e não clones vindos da Europa hoje.

Não sei se é o melhor do mundo. Não acredito nisso. Acho que o melhor do mundo para mim não é o melhor do mundo para você. Até uma mesma pessoa pode preferir um vinho hoje e outro daqui um ano. Contudo, afirmo sem hesitar que é um vinho especial. A safra 2021, por sua vez, está de fato ainda mais especial. Tive a chance de prová-la em um evento da Viña Don Melchor no Palácio Tangará, em São Paulo, em junho deste ano.

Nessa noite, provamos também as safras 1988, 1996 e 2015. Nas minhas anotações, encontro a seguinte observação sobre o vinho da safra 2021: “É o mais parecido com um grande bordeaux. Nele tudo está equilibrado”. Lembro que repeti a taça mais de uma vez.

No evento, o enólogo Enrique Tirado, CEO e diretor técnico da Viña Don Melchor, nos explicou que em 2021 o clima havia se comportado de modo perfeito. Foi um ano fresco, com chuvas nos momentos certos. Tirado disse também que o terroir de Puente Alto é tão especial porque ele traz energia e fineza ao mesmo tempo para seus vinhos e que a safra 2021 mostrava isso muito bem. Achei uma ótima definição. O Don Melchor 2021 é marcante e ao mesmo tempo elegante.

Outra safra da qual gostei muito foi a de 1988. Não só porque amo vinhos velhos, como escrevi no post sobre os vinhos velhos argentinos, mas também porque ele tinha esse equilíbrio perfeito entre elegância e potência. Com 36 anos de idade, está super vivo. Esse vinho foi o primeiro sul americano a entrar para a lista dos 100 melhores da Wine Spectator em 1992.

De lá para cá, contando com a safra 2021, o Don Melchor já esteve nessa lista 10 vezes, mais do que qualquer outro chileno. Por quatro vezes (2001. 2003, 2010 e, agora, 2021), esteve entre os 10 melhores. Na lista do crítico americano James Suckling, outra muito influente, o Don Melchor já esteve nove vezes entre os 100 melhores vinhos do mundo. A safra 2021 está entre elas, claro. No entanto, esse crítico, que é radicado na Europa e até 2010 trabalhou para a Wine Spectator, deu a melhor nota para a safra 2018: 100 pontos!

Já provei o 2018. Foi numa degustação durante a pandemia, quando eles mandaram uma garrafa para cada um dos jornalistas e sommeliers envolvidos. Junto com ela veio uma série de latinhas com os aromas que encontraríamos naquele vinho: frutas vermelhas, frutas escuras, grafite, café, chocolate, canela, avelãs, nozes. Na conversa online, Tirado nos contou de quais das 151 parcelas do vinhedo vinham aqueles aromas. Muito interessante.

Numa ocasião anterior, em 2019, participei também de uma degustação em São Paulo que comemorava a 30ª safra, o Don Melchor 2017. Nessa noite, provei a primeira safra de todas, a de 1987, que tem muito da mão de Émile Peynaud. Provamos também a 1995, a 2001 e a 2013.

Com tudo isso, fica parecendo até que sou uma especialista em Don Melchor. Não sou. Falta muito. Tenho de provar muito mais e, principalmente, preciso ainda visitar o vinhedo, porque só assim a gente entende de fato um vinho! Se algum dia rolar, volto aqui para contar para vocês.



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