Na semana passada, falamos de hidratação ideal para trilhas e caminhadas planejadas, com dicas dos melhores meios para carregar a preciosa água em uma situação controlada. Mas agora vamos fazer um pequeno exercício e subir um degrau no desafio: como garantir a ideal hidratação se somos apanhados de surpresa, por acidente, sem nossos valiosos equipamentos?
Reza a regra da sobrevivência básica que as primeiras providências que alguém deve tomar numa situação emergencial devem ser providenciar água, fogo, abrigo e alimento —não necessariamente, mas provavelmente nessa ordem. O ser humano, em regra, pode ficar até três dias sem beber água, antes de cair no perigoso terreno da desidratação. Em ambientes e circunstâncias especiais, e a depender da saúde da pessoa, esse tempo pode ainda ser menor. Perguntamos então, a especialistas, o que se pode fazer sem equipamentos para assegurar o máximo de segurança na ingestão de águas encontradas no mato.
Para quem é apanhado desprevenido em algum ambiente hostil, o método que tem mais consenso entre especialistas na hora de tentar fugir de um piriri inconveniente é também o mais conhecido: ferver a água encontrada.
“A fervura da água por poucos minutos é esterilizante, mata qualquer forma viva impedindo transmissão de doenças“, explica o médico psiquiatra especialista em medicina em áreas remotas e trilheiro experiente Rodrigo Rodriguez. “O método só não impede contaminação química, mas em 99,9% dos cenários, esta é irrelevante”, acrescenta.
Com ele concorda o instrutor de sobrevivência e preparador de campo Emerson Magalhães Jorge, que ressalta “que a fervura muda muito o sabor da água, que deve ser fervida apenas uma vez e consumida em sua totalidade, não devemos ferver a mesma água mais de uma vez”.
Mas se partirmos da possibilidade de a pessoa em apuros não contar com um vasilhame que permita a fervura da água, mas por um feliz acaso ter em mãos uma garrafa incolor, Rodriguez afirma que pode ser tentado o sistema de purificação pelo uso de luz ultravioleta solar. “É só deixar a água nessa garrafa algumas horas sob o sol forte”, explica. “Não é altamente eficaz, mas é o melhor possível para esse cenário”, acrescenta.
Mas e se o cidadão não tiver recipiente algum em mãos, como fazer?
Um método alternativo que o coronel aposentado e instrutor de sobrevivência da Via Radical Brasil Marcelo Montibeller ensina a seus alunos é cavar um poço perto de um curso de água. “Cavamos um metro de profundidade a uma distância de um metro do lago e, por capilaridade, a água que sair dali vai ser filtrada”, explica, ressalvando que, mesmo assim, algum tipo de fervura deve ser buscado. “Dá para beber? Sim. Se isso vai te sustentar um minuto a mais numa situação de sobrevivência, beba, mas os resultados não são controlados”, pondera.
Ele ressalva ainda que “não adianta purificar a água para beber e cozinhar e escovar os dentes com água não tratada, que gera contaminação cruzada”.
Para os mais habilidosos e pacientes, é possível ainda recomendar a montagem de um filtro improvisado, como aqueles que aprendíamos a fazer nas aulas de ciência da escola, lembram?
Para isso, numa garrafa pet, pano limpo ou sacos plásticos, pode-se acrescentar uma camada de carvão moído (que o leitor pode pegar na fogueira que acendeu para assar aquele saboroso gafanhoto, por exemplo, já que falamos de sobrevivência), uma de areia e, por fim, um punhado de pedrinhas, as menores que encontrar. Como o carvão é um filtro natural, que funciona como absorvente de impurezas (ou, pelo menos, é o que dizia meu professor), a água filtrada das sujeiras maiores pelas pedras e, depois, pela areia seria, em tese, purificada o bastante para ser bebida, com algum risco, claro, mas de forma a salvar sua vida até a chegada de socorro.
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