Há um nome cada vez mais comum nas cartas de coquetéis da cena paulistana: Chula Barmaid. Argentina, ela veio em 2018 a convite para assinar o menu de drinques do Bar dos Arcos, no centro da cidade. O que era para durar seis meses se transformou em três anos, e ela acabou ficando. Ao todo, já são sete no país.
Na pandemia, foi ao Equador abrir um bar com amigos. O projeto durou nove meses. Lá, ela decidiu que queria fincar raízes no Brasil e criar uma empresa própria, a Soledad, que presta consultoria para bares e restaurantes. Hoje, ela conta 13 endereços em que assina os coquetéis —se tem um lugar novo abrindo na cidade, é cada vez mais possível ver seu nome na lista das bebidas.
Chula Barmaid, é de se imaginar, não é seu nome. Foi uma persona elaborada por Cynthia Soledad Zamora, que há 37 anos nasceu em Córdoba, na Argentina. Aos quatro, a mãe a matriculou num curso de teatro para desenvolver sua comunicação.
Quando completou a maioridade, se mudou para Buenos Aires. Para pagar a faculdade de artes cênicas, foi trabalhar num bar, única opção à noite. Começou derrubando copos e foi para trás do balcão aprender o ofício.
Ela nunca gostou do nome, então adotou o apelido Chuli. Aos 21, virou Chula, a bartender. “Me ajudou muito a esconder a vergonha que eu tinha”, diz. “Achei que o bar tinha tudo a ver com o teatro, parece uma performance.”
Sua personagem é alguém que recebe o público com simpatia, como se já fossem conhecidos, que dança atrás do balcão e em portunhol ajuda a clientela a escolher o que beber. “Eu sou mais introspectiva no dia a dia.”
Ao mesmo tempo, Chula é inquieta. Morou no Uruguai, na Índia, em países da Europa, trabalhou em restaurante com estrelas Michelin. “Me virei muito sozinha. Se não criasse um personagem, estava meio ferrada.”
Ela não pensa em voltar para a Argentina. “Já estou construindo minha vida aqui. O brasileiro tem uma coisa bonita de hospitalidade natural. E existe uma diversidade de sabores absurda.”
Sua consultoria começa nas obras. Vai desde pensar a montagem da estação até contratar a equipe. O último passo é criar os drinques. Chula, de família que se reúne em torno da comida, apresenta uma coquetelaria que traz elementos da cozinha. Tanto de ingredientes, muitos levados à brasa, quanto de técnicas. É o que ela chama de “cozinha líquida”.
No restaurante Chou, por exemplo, incorpora insumos dos pratos. No Atlântico 212, cria drinques salinos, para conversar com o menu de frutos do mar. E haja criatividade: chega a renovar uma carta até três vezes no ano. “Me inspiro na arte”, diz.
Chegou a vez de ter o próprio espaço. O projeto está sendo construído com sócios. Se fosse só dela, conta, seria um restaurante com um pequeno balcão. “Mas deixo para depois dos 40.”
Atlântico 212
R. dos Pinheiros, 70, Pinheiros, região oeste, @atlantico212_
Chou
R. Mateus Grou, 345, Pinheiros, região oeste, @restaurantechou
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