A Coreia do Norte se manifestou pela primeira vez, nesta quarta-feira (11), sobre a crise que seu vizinho do sul atravessa desde a tentativa de autogolpe do presidente Yoon Suk Yeol, há pouco mais de uma semana. Segundo a mídia estatal de Pyongyang, o líder da Coreia do Sul mergulhou seu país em um “pandemônio”.
“A chocante decisão do fantoche Yoon Suk Yeol (…) de declarar um decreto de lei marcial e apontar armas e baionetas de sua ditadura fascista contra seu próprio povo transformou o fantoche do Sul em um pandemônio”, diz o artigo, nos termos que o regime de Kim Jong-un normalmente usa para se referir ao presidente sul-coreano e ao país vizinho.
O texto foi publicado com pouco destaque no principal jornal do Norte, o Rodong Sinmun, na sexta página da edição desta quarta. Também divulgado pela agência estatal KCNA, o artigo citou a tentativa fracassada de Yoon de decretar lei marcial no país pela primeira vez em décadas, a disseminação de protestos por toda a Coreia do Sul e a incerteza política que prevalece desde então.
O artigo não indicou como a turbulência no Sul poderia afetar as relações entre as Coreias. Desde que Yoon assumiu o cargo, em 2022, com uma retórica de confronto com o Norte, o relacionamento entre os dois países atingiu seu ponto mais baixo em anos.
O texto, no entanto, menciona o fracasso dos legisladores da oposição de abrir um processo de impeachment contra Yoon, no último sábado (7), transformando toda a Coreia do Sul em um “palco de protestos”.
O aparente vácuo de poder no Sul levanta preocupações em relação à força de Seul para eventuais escaladas com o Norte, país com o qual está tecnicamente em guerra desde o armistício da década de 1950.
Em uma tentativa de acalmar as ruas e se manter formalmente no poder, a sigla de Yoon, o PPP (Partido do Poder do Povo), propôs passar as funções do presidente para o primeiro-ministro, arranjo que não está previsto na Constituição sul-coreana e é visto como uma segunda tentativa de golpe pela oposição.
Na terça, um novo plano do partido sugeriu que o presidente renuncie em fevereiro ou março e que novas eleições aconteçam entre abril e maio. A proposta, porém, ainda não foi adotada por toda a sigla, que parece dividida sobre a questão.
Nos últimos meses, a Coreia do Norte enviou milhares de balões carregados de lixo para o Sul, enquanto a Coreia do Sul respondeu com transmissões de propaganda por alto-falantes na fronteira. Além disso, Kim declarou que o Norte não está mais interessado na reunificação da Península Coreana e passou a chamar o Sul de inimigo, ameaçando a nação com armas nucleares.
A oposição sul-coreana planeja tentar novamente o impeachment de Yoon no sábado (14). Se o processo for aprovado, o presidente será imediatamente suspenso do cargo até que o Tribunal Constitucional decida se o reintegra ou o destitui formalmente. Se o tribunal o remover, a Coreia do Sul realizará uma eleição nacional para escolher um novo líder.
Yoon, um conservador, tem baixos índices de popularidade desde que assumiu o cargo. Sua remoção melhoraria as chances dos progressistas de retomar o poder na Coreia do Sul. Ambos os campos ideológicos dependem dos Estados Unidos para defender o país, mas os progressistas, como o antecessor de Yoon, Moon Jae-in, preferem o diálogo e a reconciliação com o Norte, enquanto os conservadores defendem sanções e pressão.
Em uma entrevista ao The New York Times na última segunda (9), Lee Jae-myung, líder do opositor Partido Democrático, disse que ele e seu partido discutiram informalmente o que fazer se Yoon instigasse um conflito armado com a Coreia do Norte e usasse isso como pretexto para declarar lei marcial. Lee disse que esse risco existiria enquanto Yoon permanecesse no poder, embora o presidente tenha dito que nunca mais declararia lei marcial.
O projeto de impeachment que falhou na semana passada, elaborado apressadamente pelos partidos de oposição, acusou Yoon de antagonizar com Coreia do Norte, China e Rússia, e criticou o que chamou de política estranha em relação ao Japão. Os críticos do presidente o acusam de melhorar os laços com Tóquio, que já colonizou a Coreia, em detrimento dos interesses da nação.
Segundo Lee, incluir as políticas externas de Yoon no projeto de impeachment foi um erro e não foi ideia de seu partido. Ele afirmou que, em um projeto revisado, a referência às políticas externas de Yoon seria removida.
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