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Coreia do Sul: Brasileiros se dizem em choque ante crise – 09/12/2024 – Mundo


Na homilia de uma missa para a comunidade brasileira na capela da Catedral de Seul neste domingo (8), o padre brasileiro Fernando Reis pediu: “Rezemos pela Coreia do Sul neste momento político e social”. Procurado, não quis dar entrevista sobre a crise, argumentando ser diplomata, da embaixada do Vaticano.

A Igreja Católica, religião de 11% dos sul-coreanos, segue crescendo em número e em peso no país. A conferência dos bispos foi uma das vozes que se levantaram contra a lei marcial anunciada pelo presidente Yoon Suk Yeol na última terça (3), depois derrubada.

Os fiéis que foram à missa não escondem sua apreensão desde aquele dia, reforçada depois que Yoon escapou de um impeachment no sábado (7). Integrantes de seu partido deixarem a sessão em que a medida seria votada, impedindo-a na prática.

A lei marcial “foi um choque”, diz o brasileiro Soleiman Dias, 52, diretor de uma escola em Songdo, cidade colada a Seul. Ele está no país há 23 anos, tendo chegado no que descreve como o governo “que solidificou a democracia”, do presidente Kim Dae-jung (1998-2003). “Não saber o que vai acontecer agora é ainda pior”, diz ele.

Também na missa, o sul-coreano Paulo, 55 —ele usou o nome nos 25 anos em que morou no Brasil—, comentou que o presidente no sábado “pediu desculpa em apenas dois minutos, uma fala bem superficial, e o povo não acredita que esteja sendo sincero”.

Ele, que voltou a morar em Seul há dois anos, diz achar que não haverá nova lei marcial, porque os militares não vão mais aceitar ordem presidencial e “o povo também não”. “O que vai acontecer é que a tensão vai continuar, infelizmente.”

Paula Baptistoni, 23, e Rafaela Lima, 31, acompanharam o drama desta semana num grupo de internet de mulheres brasileiras na Coreia do Sul. “Estavam todas alarmadas”, diz Baptistoni, que é influenciadora de Instagram e TikTok e vive há cinco anos no país.

“Também fiquei preocupada porque a relação entre a Coreia do Sul e a do Norte não está muito legal, o ‘mood’ não está legal”, acrescenta. Ela também diz estar com medo porque o presidente está acuado. “Ninguém está feliz com ele. Até o meu marido, que é coreano, fala que esse é um dos piores presidentes que a Coreia teve.”

Já Rafaela, professora de crianças em Gumi, segunda maior cidade do país, conta ter dormido cedo na terça e, quando acordou, “as brasileiras continuavam preocupadas”. Segundo ela, a lei marcial poderia “implicar algo grave para nós, estrangeiros, porque todos ficamos à mercê do que é decidido na hora”.

Frank Y, 43, programador de software e brasileiro de uma família da região de Okinawa, conta que soube da lei marcial por uma irmã, que escreveu do Brasil para ele à 1h de quarta-feira (4): “Nossa, o que está acontecendo aí? Está tendo um golpe?”. Ele diz ter ficado a princípio surpreso —depois, apreensivo.

“Quando acontece golpe de Estado, golpe militar, imigrante vai ser uma das pessoas com mais problemas”, diz. “Meu medo, como imigrante, é alguma coisa ser inventada contra mim. Então comecei a me precaver de possíveis problemas. Tinha que ter feito antes, atualizar meu nome, meu endereço.”

Só foi se acalmar um pouco quando percebeu que “a população estava contra a lei marcial”. Enfatizou porém que “pessoas mais velhas, que viveram o finalzinho daquele período de ditadura [na Coreia], estavam preocupadas de ter que reviver aquele período”.

Dias, que preside a Associação Brasil-Coreia do Sul, diz acreditar que esta semana que começa “será crucial” para a nação. A inviabilização do impeachment pelo partido governista, negando quórum no fim de semana, jogou “o povo nessa situação de total incerteza”.

Por outro lado, “é um momento histórico do país, um teste do quanto as suas bases democráticas são sólidas”. Elas já cumpriram seu papel na madrugada de quarta, quando o oposicionista Partido Democrático se juntou ao governista Partido do Poder do Povo para derrubar a lei marcial.



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