Lar Turismo Corumbau, longe de tudo, é um canto de sossego na Bahia – 11/06/2025 – Turismo
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Corumbau, longe de tudo, é um canto de sossego na Bahia – 11/06/2025 – Turismo


O monte Pascoal rasga o céu, “mui alto e redondo”, como na carta de Pero Vaz de Caminha —primeiro sinal de terra brasileira aos olhos dos navegantes portugueses. Os grandes arvoredos citados pelo cronista luso se mantêm ao seu redor, assim como as águas, que continuam “muitas, infinitas”.

Mas é dos indígenas, que já viviam ali muito antes, que vem a descrição mais espirituosa para o lugar. Em tupi, “corumbau” quer dizer “local longe de tudo”. Difícil seria encontrar um nome mais preciso para a remota faixa de areia espremida entre o mar e as falésias, no que hoje faz parte do município de Prado, no extremo sul da Bahia.

Mesmo 525 anos depois, a Ponta do Corumbau conserva seu isolamento. Não é para menos. Se não for de helicóptero, o meio mais rápido de se chegar à praia é de carro, a partir do aeroporto de Porto Seguro, sacolejando por três horas pelas estradas de terra do Parque Nacional do Descobrimento.

Ainda antes de penetrar na pirambeira, a rodovia se vê cercada por pastos. Sim, os bois estão até ali, esticando a fronteira da pecuária até as franjas do litoral, não sem antes causar conflitos de terra. Os pataxós, sucessivamente deslocados e realocados pelo Estado, ainda lutam por homologação de suas terras e, não raro, fecham a via e fazem atos pedindo demarcação. Nada mais simbólico da barafunda fundiária brasileira do que ter tudo aquilo aos pés do Monte Pascoal.

Quando se chega no parque em si, administrado pelo ICMBio, a paisagem muda de forma drástica. A estradinha corta o mato. Há um brejo aqui, outro ali. De vez em quando se vê uma escola rural, uma igreja evangélica isolada, um boteco com cara de abandonado há décadas. Caminhando às margens, famílias com feições indígenas. O carro sacode o tempo inteiro até, enfim, chegar à praia.

É um caminho tortuoso, mas é o que garante à Ponta do Corumbau ares de paraíso intocado. Mesmo não estando muito longe das badaladas Caraíva e Trancoso ou da muvucada Porto Seguro, a sensação é de isolamento. Na baixa temporada é possível caminhar quilômetros e quilômetros pela praia sem cruzar com nenhuma outra alma.

É um local para quem não quer agito nenhum. Não se vê guarda-sol algum, apenas algumas espreguiçadeiras, aqui e ali, dos pouquíssimos hotéis que há no caminho. Se o mar não estiver para peixe, então nem mesmo os barquinhos de pesca estarão à vista. Bom para botar a leitura em dia.

O sul da Bahia é dominado por falésias dramáticas. Os paredões alaranjados despontam 10, 15 metros acima do nível do mar, formando belos mirantes sombreados pelas palmeiras. Mais ao norte, eles somem e deixam espaço para uma faixa estreita de areia fofinha que vai desembocar na ponta propriamente dita, encontrando a foz do rio Corumbau.

É ali que acontece o fenômeno que dá fama ao lugar: quando a maré baixa, surge um corredor arenoso que avança até meio quilômetro pelo mar. A trilha opõe piscinas naturais, de um lado, e o mar mais revolto do outro. Mas quem quiser ver o espetáculo deve checar a tábua das marés, para não ser surpreendido com a cheia.

Fica ali perto do rio a maior aglomeração de casas de toda a praia. Uma vila de pescadores com duas ruelas de terra batida, onde há alguns quiosques e pousadas mais em conta. Quem vem de fora, em geral, está hospedado em Caraíva e resolve dar um tempo no burburinho para chegar ali —o percurso, de meia hora, custa R$ 300 com bugueiros pataxós.

Ainda na vila, é fácil encontrar canoeiros que oferecem, por cerca de R$ 300 por casal, passeios que começam na foz do rio e se embrenham até chegar ao chamado Porto da Onça a tempo de ver o sol se pôr atrás da copa das árvores, sugerindo imagens de um Brasil dos primórdios —aquele que Caminha viu e que, de algum modo, segue resistindo. Longe de tudo.



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