O economista Fabio Giambiagi, pesquisador associado da Fundação Getulio Vargas (FGV), disse à Bloomberg Linea que o caminho preocupante da política econômica do governo Lula pode culminar em uma crise política nos próximos anos. Seria algo semelhante à de 2015 durante o governo Dilma Rousseff. Ele aponta que há um risco é muito sério da crise fiscal se amplificar.
Quem assumir a presidência em 2027, seja Lula ou alguém da oposição. enfrentará um cenário desafiador: contas públicas desequilibradas e dívida em trajetória ascendente. Se Lula for reeleito em 2026, terá que lidar com o próprio legado fiscal.
Desde o início do atual governo, em 2023, o endividamento público, medido pela dívida bruta do governo geral (DBGG), aumentou de 71,4% para 75,9% do PIB. Nos primeiros 27 meses de mandato, o governo registrou déficit primário em 22 deles.
Mantido o atual cenário, o mercado financeiro projeta que o endividamento público alcançará 94% do PIB em 2034, segundo levantamento do Banco Central junto a instituições financeiras.
Crise fiscal é “irresponsabilidade compartilhada” dos três poderes
Giambiagi caracteriza o problema fiscal como uma “irresponsabilidade compartilhada”, não limitada apenas ao Executivo. Ele distribui críticas ao governo do PT, mas também aponta corresponsabilidade do Congresso e do Judiciário, que frequentemente tomam decisões sem a devida preocupação fiscal.
Segundo ele, a ausência de liderança e a necessidade de uma clara mudança de rumo dificultam qualquer otimismo quanto às políticas econômicas para o período 2026-2030.
A principal preocupação do economista está no crescimento acelerado dos gastos obrigatórios, que têm superado o limite estabelecido pelo arcabouço fiscal. Estas despesas – que incluem Previdência, saúde e educação – reduzem progressivamente o espaço para gastos discricionários, como investimentos em infraestrutura e manutenção da máquina pública. “A dinâmica atual de crescimento dessas despesas é insustentável sem reformas”, avalia Giambiagi.
O pesquisador afirma, com “100% de certeza”, que o arcabouço fiscal precisará ser revisado até 2027. Um fator que reforça essa necessidade é a volta da contabilização integral dos precatórios (dívidas judiciais da União) na meta fiscal a partir daquele ano, devido ao fim de um prazo definido pelo STF.
A forma como essa revisão e o desafio dos precatórios serão gerenciados determinará se a percepção de risco fiscal no país melhorará ou piorará. Para evitar um “apagão” governamental, as saídas apontadas por ele incluem, inevitavelmente:
- Revisão das regras para despesas com saúde e educação, que hoje crescem automaticamente com a arrecadação
- Reavaliação da política de reajuste do salário-mínimo e sua vinculação a aposentadorias e benefícios
O economista ressalta que uma taxa de juros real de longo prazo de 8% ao ano não é normal e, se esse é o preço da atual política fiscal, então essa política precisa ser questionada.
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